Vai-Vai homenageou 23 personalidades como a vereadora Marielle Franco em desfile; samba-enredo da Mancha Verde discutiu escravidão e intolerância religiosa
Duas escolas se destacaram durante o carnaval do grupo Especial de São Paulo. Trazendo a ancestralidade negra para a passarela, Mancha Verde e Vai-Vai fizeram desfiles históricos.
Faltando onze dias para completar um ano da morte da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018, em um crime ainda sem respostas, a Vai-Vai mostrou a luta do povo negro e homenageou a parlamentar durante o segundo dia de desfiles, na madrugada do domingo (3/3). Com a presença de Anielle Franco e Luyara Santos, irmã e filha de Marielle, a escola fez um mosaico com a foto da vereadora e os dizeres “Marielle presente”.
Além da homenagem à Marielle, a escola alvinegra vestiu sua bateria de Pantera Negra, super-herói negro da Marvel, e trouxe em seu terceiro carro-alegórico uma homenagem ao Black Panther Party (Partido dos Panteras Negras), importante movimento de luta do povo negro nos EUA nas décadas de 60 a 80.
A Vai-Vai também contou com a presença de Érica Malunguinho, primeira mulher trans eleita deputada federal. Um dos carros foi destinado à 23 personalidades negras, como a escritora e filósofa Djamila Ribeiro. O enredo da escola foi batizado de “Vai-Vai, o quilombo do futuro”.
Na madrugada anterior, sábado (2/2), foi a vez da Mancha Verde cantar a história da princesa africana Aqualtune, além de falar de escravidão, garantias de direitos para a população negra e intolerância religiosa. O Quilombo dos Palmares, símbolo de resistência, marcou presença no último carro-alegórico da escola.
A educadora social Roberta Ferreira Domingos, 25 anos, foi uma das 3 mil pessoas que compôs o desfile da Mancha. Ela conta como foi a emoção de participar do desfile. “Foi diferente passar pela avenida do samba, ao som da bateria sem expressar um sorriso e levar o público a uma pequena reflexão. Olhares e expressões de sofrimento ao cruzarem os olhares com o carro que estávamos. E o mais louco pra mim foi ao final do desfile ouvir um silêncio profundo e as respirações ofegantes dos integrantes do nosso grupo, não sentíamos nossas pernas, uns transbordaram em lágrimas, outros com a cabeça baixa tentavam se recompor. Gratidão aos meus ancestrais por não desistirem e até quando desistiram insistiram em entregar a vida à quem lhes dava força”, disse à Ponte.