Darlon Neres, 22 anos, atua na defesa da agricultura familiar na região do Lago Grande e teve que deixar casa por medo: “preocupação é com a minha família”
O ativista ambiental amazônida Darlon Neres, 22 anos, denuncia que vem sendo ameaçado por pessoas ligadas à extração ilegal de madeira na região do Lago Grande, em Santarém, no Pará. O jovem já é alvo há pelo menos quatro anos de intimidações on-line, mas neste mês a situação escalou e fez com que Darlon tivesse que deixar a comunidade que ele batalha para manter em pé.
Darlon denuncia a retirada de madeira da região do Lago Grande de forma ilegal. Ele conta que no dia 12 de setembro, três pessoas foram até o assentamento agroextrativista da Gleba do Lago Grande (PAE Lago Grande) e mostrou uma foto dele a alguns moradores questionando se eles o conheciam.
“Quando eu recebi a notícia foi via WhatsApp de outro companheiro que estava na comunidade. Ele falou: ‘Darlon, estão atrás de ti’. Eu perguntei quem e ele disse que eram os madeiros”, conta o ativista.
Ainda conforme o relato de Darlon, as pessoas que o procuravam disseram terem informações sobre o paradeiro dele.“‘Nós seguimos os passos deles, sabemos onde ele mora, nós vamos achar ele’, isso apresentando a minha foto a ela [moradora da região]”, diz.
A intimidação também teria ocorrido com a família de Darlon, que foi procurada pelo grupo no mesmo dia. O jovem não estava no local e soube da situação por relatos de amigos.
A tensão aumentou quando um membro do grupo Guardiões do Bem-Viver (coletivo de jovens que, entre outras atividades, denuncia crimes ambientais na região de Santarém), do qual Darlon faz parte, também recebeu um aviso com ameaças ao ativista.
“Eles disseram para essa pessoa que se acontecesse alguma coisa com o caminhão que eles transportam madeira, se as filhas desse madeireiro morressem de fome, o culpado seria eu e que iam me procurar até me encontrar para pagar bem pago o que eu estava fazendo”, relata.
Distante da comunidade desde que sofreu as ameaças, Darlon diz não ter medo por si, mas está preocupado com a situação dos familiares.
“A minha preocupação é com a minha família que está lá, meus pais que já são idosos. A minha maior preocupação neste momento é com eles. Não estou mais na comunidade e não sei quando vou poder voltar”, declara.
O caso foi denunciado por Darlon ao representante do Ministério Público Federal (MPF) no Pará e é acompanhado pela organização Terra de Direitos. Darlon também deve se reunir com membros do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) para pedir proteção.
A Ponte procurou o MPF para saber quais providências estão sendo tomadas neste caso e se já há um plano de ação ou algum pedido de investigação em relação às denúncias. Por e-mail o órgão informou que foi solicitada a abertura de um inquérito policial.
Disputas
A luta do jovem ativista é atravessada pelas experiências que vive como morador da comunidade de Cabeceira do Marco, uma das que compõem o PAE Lago Grande. Criado em 2005, o local abriga 144 comunidades e tem uma população estimada em 35 mil habitantes, segundo dados do Mapa de Conflitos da Fiocruz.
Os moradores estão organizados na Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba do Lago Grande (Feagle) e vivem, em sua maioria, da extração de recursos naturais de forma sustentável.
“Esse projeto tem uma característica diferente porque as pessoas não foram levadas para lá, elas já habitavam e apenas precisavam garantir o que já era seu”, conta Darlon, que além de membro do Feagle e do Guardiões do Bem-viver, é estudante de Pedagogia.
O PEA foi homologado em 2005 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) dentro do que entende a portaria nº 268/1996 do órgão.
O texto diz que essas áreas são destinadas “à exploração de áreas dotadas de riquezas extrativas, através de atividades economicamente viáveis, socialmente justas e ecologicamente sustentáveis, a serem executadas pelas populações que ocupem ou venham ocupar as mencionadas áreas”.
A região é terra de disputa entre o agronegócio que busca plantar soja, madeireiros interessandos em árvores nativas e por empresas que querem expandir a exploração de minério — como a bauxita.
Darlon tem se dedicado a denunciar o avanço irregular na região. Ele diz que, na mesma medida que posta denuncias de crimes ambientais nas redes sociais, tem sofrido retaliações, a maioria deles online. As ameaças aumentaram nos últimos quatro anos, coincidindo com o período em que Jair Bolsonaro (PL) esteve na presidência.
Longe de ser defensor das pautas ambientais, o ex-presidente chegou a desmontar o Fundo Amazônia, iniciativa que injeta recursos em projetos de órgãos públicos e organizações não-governamentais e que fomenta o combate ao desmatamento na região.
Os ataques ao ativista têm um tom de defesa dos madeireiros e extrativistas ilegais. “Eles começaram a me atacar falando que eu sou um jovem manipulado pelas ONGs, comunista e contra o desenvolvimento”, conta.
A violência já chegou perto de outros ativistas do mesmo grupo de Darlon. Ele conta que, em 2021, uma das lideranças teve a casa alvo de disparos e teve que deixar a comunidade. “As marcas da bala ficaram na casa”, relata.