Vereador negociou morte de radialista no Pará por R$ 30 mil

    Ministério Público do Pará denunciou 11 pessoas por envolvimento no assassinato de Jairo de Sousa, entre elas, o vereador Cesar Monteiro Gonçalves, apontado como mandante do crime

    Jairo de Sousa foi assassinado em Bragança (PA) | Foto: Rafael Oliveira/Abraji

    O promotor Luiz da Silva Souza, de Bragança, no Pará, ofereceu denúncia contra 11 pessoas envolvidas no assassinato do radialista Jairo de Sousa, entre elas, o vereador Cesar Monteiro Gonçalves (PR), acusado de ser o mandante do crime. Segundo os autos do inquérito, o crime foi encomendado a um grupo de extermínio e teria custado R$ 30 mil. O motivo seria a insatisfação de um grupo político diante das denúncias do radialista. De acordo com testemunhas ouvidas no inquérito, foi realizada uma “vaquinha” para arrecadar o valor combinado com José Roberto Costa de Sousa, vulgo Calar, que chefia o grupo de matadores. O vereador Cesar Monteiro ficou responsável pela negociação da morte.

    O radialista foi morto ao subir a escadaria que dá acesso à Rádio Pérola FM em 21 de junho de 2018, por volta das 4h50. Sousa chegava ao trabalho para apresentar seu programa matinal “Show da Pérola”, que ia ao ar das 5h às 9h. Depois de trancar o portão de ferro e subir alguns degraus, ele foi baleado por Dione de Sousa Almeida, com dois tiros que atingiram o tórax.

    O assassinato do radialista Jairo de Sousa foi o segundo caso tratado dentro do Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), com apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.

    O primeiro caso tratado no programa foi o assassinato do radialista Jefferson Pureza, 39 anos, em Edealina, no interior de Goiás, que completou 1 ano no último 17 de janeiro de 2019. O comunicador foi morto com três tiros no rosto, enquanto descansava na varanda de sua casa. O crime foi negociado por R$ 5 mil e um revólver 38. Os seis acusados de envolvimento no crime continuam presos. Três adolescentes cumprem medidas socioeducativas: um seria o atirador, o outro teria pilotado a moto e o terceiro, indicado os dois para o serviço. O vereador José Eduardo Alves da Silva, acusado de ser o mandante, Marcelo Rodrigues dos Santos e Leandro Cintra da Silva foram citados na sentença de pronúncia do juiz Aluizio Martins Pereira de Souza, da comarca de Jandaia, no final de dezembro de 2018.

    Denúncia sobre desvio de verbas em Bragança

    Segundo o inquérito, o crime contra Jairo foi cometido em razão do trabalho do radialista, “que fazia sérias críticas a políticos da região Bragantina, em razão de supostos desvios de verbas públicas”. Depois que o grupo político decidiu pelo assassinato, o vereador Cesar Monteiro negociou o preço e José Roberto, mais conhecido como Calar, passou a monitorar a rotina do radialista e visitar antigos endereços onde Sousa morou. Uma das testemunhas disse que sabia do crime uma semana antes porque o próprio Calar comentara que realizaria uma tocaia para executar o radialista. No entanto, a emboscada não surtiu o efeito esperado pelos bandidos.

    Segundo consta nos autos, um dos motivos para o envolvimento do vereador Cesar Monteiro no crime foi o fato de que o radialista revelava irregularidades cometidas pela empresa Torre Forte, que está registrada em nome de dois sobrinhos do vereador.

    A escolha de Diones para ser o atirador foi feita porque ele era desconhecido na cidade de Bragança, ao contrário de Calar. Segundo o documento do MP, também integravam o grupo de extermínio os indiciados Edivaldo Meireles da Silva (“Mãozona”), Jadson Roberto Reis de Sousa (“Jaco”), Jedson Miranda da Silva (“Nego do Mozar”), João Carlos Lima de Castro (“Joãozinho”), Madson Aviz de Melo (“Macio”), Moisanil Sousa da Silva (“Mozar”), Otacilio Antonio da Silva e Sidiny Raymond da Silva Reis. Esse grupo é responsável pela prática de vários crimes de homicídio na região Bragantina.

    Segundo as investigações, Otacilio Antonio, genro de Calar, tinha a função de olheiro, monitorando as vítimas, além de fornecer armamento para o grupo. Já Moisaniel exercia a função de armeiro e também fornecia veículo para os crimes de encomenda. Os outros integrantes participavam diretamente das execuções.

    *Angelina Nunes é mestre em Comunicação pela Uerj (RJ). Ela recebeu prêmios internacionais de jornalismo, como Rey de España, IPYS e SIP, e nacionais, como Esso, Embratel, Vladimir Herzog e CNH. É membro do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) e coordenadora do Programa Tim Lopes.

     

    Programa Tim Lopes é uma reação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) à violência contra jornalistas. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, O Globo e Veja.

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