Empresária foi detida por policiais militares após reclamar de demora para chegar pedido em restaurante
Uma empresária de 44 anos foi espancada por policiais militares em um quartel no município de Bonito, em Mato Grosso do Sul. Os PMs alegaram que houve desacatado e que ela havia se envolvido em conflito em um restaurante onde estava a passeio.
O caso aconteceu no dia 26 de setembro deste ano, mas só veio a público e começou a ser apurado neste sábado (21/11), quando o jornal MS Notícias divulgou imagens da câmera de segurança que flagraram o momento em que a mulher foi agredida pelo segundo-tenente André Luiz Leonel Andrea.
A vítima da ação policial, empresária em Corumbá (MS), recebeu de presente do marido, também policial militar, a viagem para a cidade turística junto aos filhos. Ela relata que teve de encontrar uma pousada para se hospedar, e parou para almoçar em um restaurante, na Vila Donária. “Sou sócia em uma pousada aqui, mas como vim sem antecedência, precisei sair dela e encontrar outra até o fim da viagem”.
A empresária explica que seus pedidos no restaurante estavam demorando e que por isso perguntou sobre o atraso. Então disseram para ela se sentar e esperar. Uma hora e meia depois, ela exigiu que o restaurante priorizasse um dos pratos para a filha, de 3 anos, que é autista e tem uma “síndrome rara em investigação”.
A mulher relata que o pedido gerou discussão entre as partes, onde uma das proprietárias do estabelecimento teria ofendido a criança de “verme da sociedade” e que decidiu voltar para um hotel próximo.
Já o responsável pela administração do estabelecimento, que não quis se identificar, diz que ela chegou embriagada antes do restaurante abrir e causou um “tumulto” devido a demora nos pedidos. “Depois de se desentenderem, ela ameaçou e xingou minha esposa, disse que iria colocar fogo no restaurante. Minha mulher disse: ‘se a senhora continuar dessa forma vou ser obrigada a chamar a polícia’”. Em seguida, a turista desistiu da comida e voltou para um hotel em que iria se hospedar.
Foi então que, cerca de 10 minutos depois, a polícia foi até o restaurante e perguntou aos proprietários, que relataram o acontecimento e registraram boletim de ocorrência, dizendo que ela havia quebrado copos e garrafas no local. “A partir do momento em que a polícia fez o que fez com ela, não é responsabilidade do restaurante”, disse o dono.
Segundo a mulher, já no hotel, equipe de policiais chegaram no quarto batendo na porta e a obrigando a sair enquanto a “puxava pelo cabelo”. “Eu indaguei: ‘sou casada e mãe de quatro filhos, me respeite’. Mas eles não quiseram me ouvir. Enquanto eu saía, a dona do restaurante veio até a pousada e me xingou de puta. Ela ainda disse aos policiais: ‘quando vocês vêm comer de graça no restaurante eu não reclamo’”.
Questionado sobre conhecer o segundo-tenente, o dono respondeu que “nunca o viu”, mas que um outro policial que atendeu a ocorrência “é da cidade”. “Não é uma prática nossa oferecer comida para policiais”, argumenta.
Foi aí que, segundo a vítima da agressão, o tenente desferiu um tapa em seu rosto na frente do filho, de seis anos. “Fiquei desesperada, ele me levou detida para a delegacia. É um covarde. Como era final de semana, ele disse que por ninguém estar no batalhão era ‘ele que mandava’”.
Deixada algemada em uma sala na qual as imagens foram gravadas, ela foi agredido a socos e pontapés, inclusive nas partes íntimas. “Foi um horror, com minha bebê surtando e eu algemada na frente das crianças. O tenente deu ordem para que eu ficasse presa porque tinha desacatado ele”.
Ela relata que só conseguiu ser liberada depois de horas aguardando dentro do recinto, com a chegada do marido e de um sobrinho.Por fim, ela afirma que irá até a Corregedoria da Polícia Militar, em Campo Grande, solicitar o afastamento do tenente. “O tenente vinha a todo momento me fazer pressão psicológica dizendo que puta não tinha vez com ele. Toda vez que eu queria explicar algo sobre a discussão no restaurante, ele me mandava calar a boca e vinha pra bater em mim, na frente de.meus filhos”.
Outro lado
Mesmo com as imagens divulgadas, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul restringiu-se a focar nos atos que a vítima de agressão teria cometido contra o restaurante e contra os militares. Em nota divulgada neste domingo (22), a PM usa maior parte do texto para falar das acusações contra ela: “desacato, danos ao patrimônio, ameaça, resistência à prisão e embriaguês (sic)”.
Em seguida, justifica que a ação policial “teve origem após uma equipe policial militar ser acionada para contê-la, em um restaurante daquele município, após a mesma, supostamente, ter ameaçado atear fogo no local, ameaçado de morte os proprietários e quebrado garrafas dentro do estabelecimento comercial”.
Sobre ter utilizado algemas para imobilizá-la, a argumentação é que “durante a confecção do Boletim de Ocorrência, a pessoa detida teria se exaltado contra os PMs que atenderam a ocorrência, sendo necessário o uso de algemas e mantê-la dentro do compartimento para condução de detidos, considerando o avançado estado de embriaguez da mesma”.
Somente no fim da nota divulgada pela assessoria de imprensa da instituição, que as imagens que apresentam cenas de violência contra a mulher são citadas. Segundo o texto, o comandante do CPA-3, coronel Emerson de Almeida Vicente, determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o ocorrido.
Outro caso
Em 14 de novembro, na véspera das eleições municipais, o mesmo tenente foi flagrado junto a outros três policiais, imobilizando um homem, de 24 anos, em meio a uma via pública que recebia uma carreata de uma candidata à prefeitura de Bodoquena – cidade onde Leonel está lotado.
Em dado momento, um deles atinge o rapaz, que estava segurado ao chão dois militares, com uma forte pisada no rosto. De acordo com o boletim de ocorrência, os PMs estavam apenas garantindo ordem e segurança durante o comício e havia utilizado força corporal devido a supostas ameaças de morte.
[…] Com informações da PonteJornalismo […]