Segundo a PM, as vítimas eram integrantes do PCC e morreram em confronto com a polícia
“Caralho, mano, os cara me matou o cara dentro do carro”, comenta a voz de um dos autores de um vídeo que mostra homens da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa mais mortal da Polícia Militar paulista, matando duas pessoas dentro um carro, na Vila Moreira, zona leste da cidade de São Paulo.
As mortes, registradas no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) como “resistência seguida de morte”, ocorreram por volta das 12h45 do último domingo (29/3), na Rua Hely Lopes Meirelles, uma alça de acesso para a Avenida Aricanduva. As vítimas se chamam Alexandre Ferreira da Silva, de 45 anos, e Renato Viana Borges dos Santos, 39 anos. Segundo a versão oficial, foram mortos num confronto.
No Boletim de Ocorrência, os policiais da Rota, comandados pelo tenente Willen Diniz Santos, afirmam que patrulhavam a região após o “setor de inteligência” do 1º Batalhão de Choque (Rota) ter recebido uma “denúncia anônima” de que um integrante da alta cúpula da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) estaria em um veículo Ford Ka prata, em posse de drogas a serem distribuídas na zona leste. A denúncia também dizia que o integrante do PCC participaria de uma reunião na zona norte e, durante seu retorno para a zona leste, estaria acompanhado de escolta armada.
Ao verem o carro onde estavam Alexandre e Renato, que supostamente teria as mesmas características mencionadas na denúncia, deram ordem de parada, mas o motorista não obedeceu. Os dois ocupantes do carro teriam atirado contra os policiais. No revide, os homens teriam sido atingidos. Socorridos pelo Resgate do Corpo de Bombeiros, morreram no Hospital Tatuapé.
Além do tenente Willen, participaram da ação o soldado Italo dos Santos Ferraz e os cabos Alexandre Maia da Silva e Mario Montalvão de Melo. Os policiais afirmam que apreenderam com os homens mortos duas pistolas, uma .380 e outra 9 mm. No carro, a polícia também teria apreendido 10 tijolos de maconha e “cartas pertencentes à organização criminosa”.
A perícia encontrou 13 estojos deflagrados, sendo 12 de munição .40, usada pelos policiais, e um de 9 mm, e apontou sete perfurações no para-brisa do automóvel, duas no vidro do motorista, além de indicar que o vidro do passageiro estava quebrado. Dentro do carro, apontou perfurações no volante e no banco do passageiro dianteiro, uma na lateral direita do banco do motorista e uma no banco traseiro.
O B.O. não menciona se a perícia encontrou sinais de violência dirigida contra os policiais. O caso será investigado pelo DHPP.
A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre as mortes de Alexandre e Renato. Em nota, a pasta explicou que a PM “apura todas as circunstâncias relacionadas ao fato por meio de Inquérito Policial Militar”.
No entanto, o inquérito será tocado sob sigilo, “conforme definido no Art. 16 do Código de Processo Penal Militar”, diz a pasta. Pela Polícia Civil, o DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) também fará sua investigação.
Atualização ao meio-dia de quinta-feira (2/4) para incluir posicionamento da SSP.