Gabriel foi morto com 13 perfurações no mercado do Jardim Prudência, zona sul de São Paulo. Imagens desmentem versão de PM de que atirou em legítima defesa
Imagens da câmera de segurança de uma unidade do OXXO, em São Paulo, mostram que o jovem Gabriel Renan Silva Soares, 26 anos, foi atingido pelas costas pelo policial militar Vinicius de Lima Britto. O vídeo foi divulgado pelo tio de Gabriel, o rapper Eduardo Taddeo, ex-integrante do Facção Central, nesta segunda-feira (2/12). O caso aconteceu dia 3 de novembro.
A Ponte teve acesso à gravação desde o momento em que Gabriel e Vinicius entram no mercado. Às 22h44, Gabriel, que vestia um moletom vermelho, entra no OXXO. O jovem vai até uma prateleira e pega algumas unidades de um produto de limpeza. Em seguida, corre em direção à saída e escorrega em um tapete.
Leia também: Sobrinho de rapper do Facção Central é morto por PM no OXXO
O policial, que já estava no mercado quando Gabriel entrou, está no caixa. Ele vê a cena e logo dispara contra Gabriel, que está de costas. O jovem chega a se levantar e tenta pegar os produtos no chão, mas é atingido por mais disparos e cai na calçada. O PM parece usar o celular e vai até o corpo de Gabriel.
O tempo entre o momento que Gabriel entra no OXXO e os disparos é de menos de um minuto. As imagens não mostram o socorro ao jovem. Em entrevista à Ponte na época da morte, a família contou que o corpo só foi removido na manhã do dia seguinte.
Segundo a tia de Gabriel, Fátima Taddeo, o jovem se esforçava para abandonar o vício na droga K. “É uma droga muito difícil. A abstinência é dolorosa”, contou. Gabriel completaria 27 anos na semana em que foi morto.
Leia também: 1 em cada 4 assassinatos em SP foi cometido pela polícia sob Tarcísio e Derrite
“O Gabriel foi executado por esse policial por ter furtado dois ou três pacotes de produto de limpeza”, afirma Fátima em nova conversa com a Ponte.
Vídeo desmente versão de PM
As imagens desmentem a versão do PM registrada no boletim de ocorrência. O BO diz que o policial Vinicius fazia compras no OXXO quando presenciou Gabriel “subtraindo mercadorias”.
O PM, que contou estar pagando as compras no momento em que viu a ação, teria questionado o jovem sobre o ato. Na versão do agente, Gabriel teria afirmado estar armado e colocado a mão na blusa “como se estivesse armado”.
O PM então teria atirado contra Gabriel, que saiu em direção à calçada, mas retornou supostamente dizendo “não mexe comigo, que eu estou armado, não quero nada que é seu”, sendo novamente atingido.
Assine a Newsletter da Ponte! É de graça
O caso foi registrado pelo delegado Osvaldo Farah S. Cunha como “resistência”, homicídio decorrente de oposição à intervenção policial e roubo. A arma do policial Vinicius, uma Glock.40 da Polícia Militar de São Paulo, foi apreendida, assim como oito estojos — o que indica que foram feitos ao menos oito disparos.
Com Gabriel foram apreendidos uma nota de dólar e a carteira dele, que tinha o cartão do SUS e duas fotos. O jovem tinha ao menos 13 perfurações no corpo, algumas delas no rosto. “Tiro no rosto é para matar”, disse Fátima à Ponte.
O que diz a SSP-SP
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) solicitando entrevista com o porta-voz e com o policial Vinicius, além de um posicionamento diante da divulgação das imagens. Leia a íntegra da nota da Fator F, terceirizada do órgão, abaixo:
O policial militar está afastado das atividades operacionais. O caso segue sob investigação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). As imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos. Familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado.
A Polícia Militar acompanha as investigações, prestando apoio à Polícia Civil. Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição.
