Peça ‘Virada Cena Trans’ será encenada no Centro Cultural SP e artistas da gravadora Trava Bizness ocupam o palco Diversidade, na praça da República; ambos os espetáculos serão na noite de sábado (18/5)
A cena cultural LGBT+ vem crescendo ao longo dos anos, principalmente quando falamos de artistas transexuais e travestis. Na edição deste ano da Virada Cultural, muitos artistas T se apresentarão ao longo das 24h de programação do evento, que começa a partir das 18h do sábado (18/5) e termina às 18h do domingo (19/5) em São Paulo.
O CCSP (Centro Cultural São Paulo), localizado na região central, vai receber a peça “Virada Cena Trans”, que tem direção de Ave Terrena, 27 anos, que também é dramaturga, poeta e atriz. A peça é a primeira direção cênica de Terrena e é composta apenas por pessoas trans. Aretha Sadick, Leona Jhovs, Neon Cunha, Uma Pessoa e a dupla PamkaPauli são alguns dos nomes que compõem o espetáculo.
Ave conta que o espetáculo contará com cinco cenas envolvendo performances, números musicais, peças de teatro, monólogo e contação de histórias. Uma das apresentações é da ativista Neon Cunha, com uma performance intitulada “Silêncio”, que traz fotos de travestis assassinadas durante vários períodos no Brasil . “Estamos debatendo toda a violência das operações Tarantula [operações policiais que visavam prender travestis de forma arbitrária com a justificativa de “combate à Aids”], que aconteceu na década de 80 em São Paulo. Então mostra toda essa violência contra o corpo travesti, contra o corpo trans. Mas a gente mostra que a nossa vida não é só de violência e tragédia, a gente também tem delicadeza, tem afeto, também temos outras percepções sobre a realidade, por causa do local que ocupamos na sociedade”, narra Terrena.
Ave Terrena conta que o espetáculo conta com uma grande diversidade de profissionais e de conhecimentos, destacando, enquanto militante da causa T, a necessidade de dar visibilidade à produção dessas pessoas nesses espaços. “Como ativista a minha expectativa é que a gente consiga demarcar um território para a gente pois é a primeira vez que pessoas trans e travestis não só protagonizam, como somos maioria no projeto. Espero que a gente consiga continuar com a peça depois”, explica a diretora.
Já no palco musical, o show “Ocupa Travesti” trará diversas artistas, principalmente do rap. Com curadoria de Natalia Mallo (diretora da peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu), o palco também contou com a organização de Malka, 34 anos, produtora musical com bagagem de quase 20 anos, que é idealizadora da gravadora Trava Bizness, destinada às pessoas trans. O espetáculo musical começa às 22h e faz parte da programação do Palco Diversidade, na Praça da República, também no centro.
A mestre da cerimônia será a atriz Renata Carvalho, protagonista da peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, que chegou a ser censurada duas vezes em 2017 e teve curta temporada em São Paulo naquele ano. Além do show de Malka, que contará com a presença de Danna Lisboa, Natt Maat, Albert Magno e Rosa Luz, o público vai contemplar também o som de Marina Matheus, MC Dellacroix e Alice Guél.
Para a Ponte, Malka explica que o show foi idealizado pela organização da própria Virada Cultural. “Foi uma organização cisgênera da organização da virada. Dentro do palco me pediram algumas indicações de artistas. O palco que vamos tocar é um espaço grande, onde geralmente tocam as grandes atrações e isso vai dar uma visibilidade legal pra gente. Muitas pessoas vão assistir a gente de graça e é muito importante aparecermos nesses locais de fácil acesso para esse público”, conta.
A artista saliente que, apesar da idealização, a organização teria dito que não divulgaria o nome das artistas trans e travestis que se apresentarão ao seu lado no Palco Diversidade. “A nossa atração era a única que não tinha o nome das artistas divulgados”, afirma. “Às vezes, dá uma certa impressão de que somos colocadas lá para validar um palco de diversidade, me parece a fetichização do corpo travesti. Isso não deu a oportunidade das pessoas saberem que tocaríamos lá”, critica a produtora musical, reforçando que esse questionamento é importante uma vez que, se fosse um artista cisgênero isso não aconteceria. “Nunca aconteceria de ter show do Thiaguinho e colocarem ‘Pagode cis'”, prossegue.
Diante do que Malka chama de “invisibilização”, a expectativa para o show é incerta. “A gente dialoga com outros artistas que vão tocar no palco, como a Marina Lima e o Lucas Boombeat, do Quebrada Queer, mesmo assim nosso nome não foi tão divulgado como o deles. Eu ainda não sei muito o que esperar, mas sei que o nosso público vai lá através da nossa divulgação pessoal. Eu ficaria mais feliz se as pessoas chegassem com a chance de nos conhecer”, declarou. “Vamos mostrar o nosso trabalho e invadir novas mentes com a nossa arte. Isso acontece porque não tem pessoas trans na tomada da decisão, na curadoria”, explica apontando que a crítica não é para a organização do palco, mas outra parte da cadeia de decisão.
Procurada pela reportagem, a assessoria da Secretaria Municipal de Cultura, responsável pelo evento, confirmou a falha na divulgação do show “Ocupa Travesti”. “O nome da ‘Ocupação Travesti’ foi informado pelos produtores no momento da contratação do show, então foi divulgado nas coletivas de imprensa dessa forma. Aí houve um pedido interno das artistas para que fosse acrescentado o nome de quem fosse participar. E o nome delas já estão há 4 dias no site“, explica a assessoria, acrescentando que, depois da reclamação, incluiu o nome de todas as pessoas que se apresentarão no show.
Serviço:
Virada Cena Trans
18 de maio de 2019, às 21 horas
Gratuito – retirar ingresso com 1h de antecedência
Centro Cultural São Paulo (CCSP) – Espaço Cênico Ademar Guerra
Rua Vergueiro, 1000
Trava Bizness na Virada Cultural
18 de maio de 2019, às 22 horas
Gratuito
Palco República
Mais informações sobre a programação, clique aqui.
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