Manifestação promovida por amigos e familiares de mortos em ações da PM aconteceu no sábado (15/2). Cidade do interior paulista teve velório invadido por policiais em outubro — e 13 mortos pela corporação em 2024

Familiares de vítimas da violência policial em Bauru fizeram um protesto no sábado (15/2) pedindo a prisão dos policiais militares envolvidos nas mortes e indenização do Estado. A cidade do interior paulista registrou 13 mortes por PMs em serviço no ano passado, sendo a 8ª do estado com maior letalidade.
Reunidos na praça Rui Barbosa, no Centro, o grupo formado por mães e pais de vítimas relembrou os últimos casos de mortes envolvendo policiais na cidade do interior paulista. Este é o oitavo protesto organizado pelas famílias desde a invasão de um velório por PMs no dia 18 de outubro.
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A auxiliar de cozinha Nilceia Alves Rodrigues, de 43 anos, era uma das presentes. “Eu vou até o fim da minha vida pela do Guilherme”, afirmou Nilceia no ato. A auxiliar teve o filho Guilherme Alves Marques de Oliveira, 18, morto em outubro do ano passado por policiais do 13º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP). A unidade é a 28ª mais letal da PM paulista, mas ainda não dispõe de câmeras nas fardas dos policiais — como mostrou reportagem da Ponte.

Durante o velório de Guilherme, policiais invadiram o local e agrediram o irmão de Guilherme, o também auxiliar de cozinha Fábio Nascimento, 27. Nilceia também contou ter levado um mata-leão dos policiais. As imagens foram registradas em um vídeo que chocou o país.
“A PM destruiu minha família e está tirando o meu direito de ir e vir porque estou com medo. Se eu vejo uma viatura, é capaz de eu ter um troço”, disse Nilcéia à Ponte na época do velório.
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Mesmo com a repercussão do caso, Nilceia denunciou que ela e a família seguiram sendo alvo de ameaças e intimidações. Faixas em homenagem a Guilherme e a Luís Silvestre da Silva Neto, 21, também morto pela polícia, foram rasgadas e queimadas na cidade.

Pedidos por justiça
O pai de Rick Alexsandro Valdo Silva, 24, também participou da manifestação. Sandro Cardoso da Silva, 50, fez um relato emocionado sobre a morte do filho.
Ricky morava em Bauru há apenas cinco meses quando foi morto por agentes do 4º Batalhão da Polícia Militar. O jovem foi atingido por três tiros — um deles acertou o coração. Os demais perfuraram seu abdômen e atingiram o antebraço esquerdo de raspão. Sandro constata a versão dos PMs de que o filho teria tentado atirar após ser abordado.
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“Esses policiais assassinos de má conduta, que não têm amor ao próximo. Eles vêm aí ceifando vidas e deixando um grande buraco na família, cometendo um grande desfalque na nossa família. Tudo que desejamos é justiça”, disse.
O ato também contou com a presença de familiares de Igor Gabriel da Silva Santos, 27. O jovem foi morto na terça-feira (11/2) com quatro tiros por policiais do 13º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), que alegaram suposto confronto após fuga da abordagem.
Os PMs teriam ido ao bairro Vila São João da Boa Vista apurar uma denúncia sobre a presença de um suspeito de homicídio. À Ponte, a família contestou a versão policial, afirmando desconhecer que o jovem tivesse armas ou participação em algum assassinato.
Durante o velório de Igor, na última quarta-feira (13/2), familiares relataram terem sido intimidados por supostos agentes à paisana quando realizavam uma vigília de oração em frente ao Cemitério da Saudade, onde o jovem foi sepultado. A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) apura a situação.
Tarcísio cidadão bauruense
Os manifestantes também criticaram a concessão do título de cidadão bauruense ao governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). A honraria foi concedida pela Câmara de Vereadores na última terça-feira (11/2), após aprovação do projeto apresentado por Márcio Teixeira (PL).
Dos 21 vereadores, os únicos votos contrários foram de Natalino da Pousada (PDT) e Estela Almagro (PT). “Nessa semana, a câmara deu a medalha de cidadão bauruense para o Tarcísio [de Freitas, governador do Estado]. Os vereadores cospem na nossa cara, mas não vêm aqui ouvir o que a gente tem para falar”, disse Matheus Versatti, professor e militante.
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O grupo percorreu o calçadão da rua Batista de Carvalho, um dos principais pontos do comércio em Bauru, até chegar à Câmara Municipal. A manifestação acabou por volta das 17h.
*Com colaboração de Guilherme Matos, de Bauru