Repressão a ambulantes é fruto de parceria entre gestões Haddad e Alckmin, mas prefeitura afirma ter “preocupação com eventuais excessos” da PM
Veja quantos tipos diferentes de injustiça aparecem na cena em que quatro policiais militares investem contra uma vendedora ambulante, ocorrida domingo (18/9) na Avenida Paulista:
Quatro contra uma. Homens contra mulher. Autoridade contra sobrevivência. Estado contra cidadão.
É uma cena que revolta quem assiste ao vídeo, como revoltou quem a viu ao vivo. Manifestantes da rede de movimentos Povo Sem Medo, que protestavam contra o governo Michel Temer (PMDB), viram a cena e cercaram os policiais para tentar defender a manifestante. A resposta dos policiais foi distribuir spray de pimenta e golpes de cassetete em quem encontrou pela frente.
O ex-senador Eduardo Suplicy, 75 anos, foi um dos manifestantes atingidos no rosto pelo gás pimenta. Com o fotógrafo André Lucas foi ainda pior. André conta que usou o braço para evitar que um policial quebrasse sua câmera com um cassetete e saiu da manifestação cheio de hematomas. Uma foto tirada segundos antes da agressão comprova sua história:
Veja. E se pergunte: quem é responsável por isso?
A ação da PM contra vendedores ambulantes é fruto da operação delegada, uma espécie de “bico oficial” em que policiais militares recebem remuneração extra em troca de serviços prestados à Prefeitura de São Paulo. Criada em 2009 pelo então prefeito Gilberto Kassab (PSD), a operação delegada foi mantida pelo atual prefeito Fernando Haddad (PT), que no ano passado aprovou lei que reajustou os valores das gratificações pagas aos PMs.
Procurada pela Ponte, a Prefeitura de São Paulo afirma que pretende acionar o comando da PM, subordinado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), para averiguar possíveis abusos na operação delegada do dia 18.
“A Secretaria Municipal de Segurança Urbana encaminhará ofício ao Comando da Polícia Militar manifestando preocupação com eventuais excessos cometidos por policias militares durante a operação delegada realizada na Avenida Paulista no último domingo”, afirmou, em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura. Segundo a assessoria, o ofício foi enviado nesta quinta-feira (22/09).
“As ações no âmbito da operação delegada são definidas pelo próprio comando da Polícia Militar, que é orientado a seguir o protocolo da operação”, afirma a nota da prefeitura, acrescentando que “as denúncias de eventuais abusos cometidos por policiais militares durante a operação delegada devem ser encaminhadas à Corregedoria da corporação”.
Sobre o episódio, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública emitiu nota negando qualquer irregularidade praticada pelos policiais:
“Neste domingo, na Avenida Paulista, policiais militares da atividade delegada, a serviço da Prefeitura de São Paulo, tentavam apreender mercadoria de uma vendedora ambulante quando foram hostilizados por um grupo de manifestantes e utilizaram equipamentos não letais para conter a situação. A mercadoria foi apreendida e não houve feridos.”
Para o advogado Ariel de Castro Alves, do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), a PM usou a operação delegada apenas como pretexto para reprimir a vendedora ambulante diante dos manifestantes e, assim, tumultuar o ato Fora Temer. “No caso do que ocorreu, claramente os PMs usaram a fiscalização do comércio ambulante como pretexto para gerar tumulto, seguido de repressão e violência policial”, afirma.
Segundo Ariel, os policiais militares “são preparados para evitar a realização de abordagens no meio de manifestações e aglomerações”, mas, ao atacar a vendedora, “pareciam intencionados a gerar incidente para prejudicar o protesto”.
O conselheiro afirma que a Prefeitura age corretamente ao pedir à PM a apuração dos abusos, já que “os policiais só podem ser investigados e punidos pela própria corporação da qual fazem parte”.
Seria bom a vendedora divulgar uma conta de banco pra o brasil colaborar e ela comprar novamente mais mercadoria.