Há uma semana, reportagem da Ponte trouxe denúncia de presos alegando falta de ar e ausência de olfato e paladar; após negar casos, Secretaria da Administração Penitenciária confirma dois infectados

Quase uma semana após a Ponte mostrar que presos da Penitenciária Bernardino de Campos, no interior paulista, denunciaram em cartas a familiares tosse, falta de ar e ausência de olfato e paladar, a Secretaria da Administração Penitenciária confirmou, nesta quinta-feira (11/3), dois infectados por Covid-19.
Na ocasião, a pasta havia negado a presença de casos entre detentos na unidade prisional e não respondeu ao questionamento da reportagem sobre quando havia sido realizada a última testagem no local. Familiares relataram que, ao tentarem pedir informações sobre o estado de saúde dos presos, alguns receberam ameaças. “Eu liguei perguntando se fizeram teste porque ele está com falta de ar, dor de cabeça e o agente respondeu ‘se o teste não der positivo, ele vai para o castigo, isso aí deve ser você que passou’, mas eu não visitei meu irmão porque ele preferiu que a gente não fosse para unidade durante a pandemia”, disse uma parente.
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Em nova resposta, a assessoria de imprensa da secretaria declarou que fez novos exames na unidade, no dia 5 de março, e que dois sentenciados tiveram resultado positivo. A testagem anterior, informa, foi realizada nos dias 13 e 14 de janeiro em todos os presos e servidores, “totalizando 1.552 exames coletados, os quais tiveram resultado negativo” na época.
De acordo com a SAP, os dois infectados não apresentaram sintomas da doença e foram isolados no setor de enfermaria. Já os demais internos “que se queixaram de dores no corpo e ausência de olfato e paladar foram isolados, por precaução, e estão sendo monitorados”.
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Sobre as ameaças relatadas, a pasta alegou que são “falsas” e que disponibilizou um telefone, por meio do número (14) 3573-1006, “para que os visitantes possam obter informações do estado de saúde de seus familiares custodiados no estabelecimento penal, cujo atendimento é feito somente por profissionais da área de saúde – a unidade conta com um médico, dois enfermeiros e quatro técnicos em enfermagem”, diz a nota.
Além disso, a assessoria informou que foram feitas 80 visitas por videoconferência na unidade no último final de semana, nos dias 6 e 7 de março, já que as visitas presenciais estão suspensas após decisão judicial.
Levantamento obtido pela Ponte, por meio de dados via Lei de Acesso à Informação com dados da SAP, aponta, até o dia 28 de fevereiro, 12.204 casos confirmados entre pessoas presas desde o início da pandemia (considerando a soma de testes rápidos e do tipo RT-PCR), cerca de quatro vezes o registro de servidores contaminados, que totaliza 2.730, nas 178 unidades do sistema prisional paulista.