Escrivão deu dois tiros de fuzil após manifestantes colarem cartazes na porta da Delegacia de Polícia Civil de Paraty nesta segunda (10). Protesto pressionou pela criação de Observatório de Feminicídio e por investigação de casos recentes de abusos sexuais
Uma manifestação organizada por mulheres foi reprimida com dois tiros em frente à delegacia da Polícia Civil de Paraty (RJ), na região central da cidade, na tarde desta segunda-feira (10/5). O autor dos disparos é um policial civil.
Cerca de cinquenta mulheres faziam uma manifestação pacífica diante da entrada do prédio quando o escrivão saiu armado de fuzil e efetuou dois disparos direcionados ao chão. Nenhuma pessoa se feriu e as manifestantes, apesar de assustadas, continuaram no local.
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A manifestação começou às 14 horas, reunindo certa de 100 mulheres em frente à Câmara dos Vereadores da cidade, com o objetivo de pressionar o poder público pela criação do Observatório de Feminicídio de Paraty. O projeto, em votação naquela tarde, foi aprovado. À essa reivindicação central, uniram-se outras pautas, como o melhor atendimento para os casos de violência contra a mulher e a punição de um homem acusado de agressão e tentativa de estupro conta duas mulheres. O caso aconteceu no último dia 3 de maio na praia de Antigos, na região da comunidade do Sono, a cerca de 35 km de Paraty.
“O principal motivo é a punição do cara que tentou estuprar as meninas. Mas aqui não tem acolhimento, não tem delegacia da mulher. Para fazer corpo de delito tem que ir para o Perequê (bairro que fica a cerca de 40 km de Paraty) ou para Angra (dos Reis). A gente não pode andar na rua porque eles (os agressores) estão na rua? Não pode acampar no Sono porque eles ainda estão lá?”, questiona uma das manifestantes.
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Depois da pressão diante da Câmara dos Vereadores, o grupo de manifestantes seguiu em caminhada até a porta da delegacia entoando palavras de ordem. Quando algumas mulheres começaram a colar cartazes na porta de entrada, o policial saiu diante do prédio e efetuou os disparos.
“Eu já passei por uma experiência, sofri violência doméstica e a investigadora questionou por que eu estava num relacionamento abusivo”, relata uma mulher que pediu para não ser identificada, apontando o descaso no atendimento. No início de 2020, ela diz ter sido fisicamente agredida por um companheiro. A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência. De acordo com a vítima, o agressor nunca chegou a ser ouvido pela polícia e ela nunca teve qualquer resposta sobre o caso.
Em conversa informal, policiais civis disseram que os disparos foram feitos em defesa do patrimônio público. Os policiais apontaram também o esgotamento emocional decorrente do número reduzido de servidores prestando serviço à população.
Atualização em 11/5, às 10h30 – A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma que a 167ª DP (Paraty) instaurou um procedimento para apurar a conduta do policial. “O delegado titular da unidade deve se reunir com as representantes do movimento para ouvir e conversar sobre a manifestação”, respondeu em nota.
Atualização em 11/5, às 19h30 – O nome de uma testemunha foi retirado do texto para garantir a sua proteção
Correções
Atualização em 11/5, às 10h30 - A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma que a 167ª DP (Paraty) instaurou um procedimento para apurar a conduta do policial. "O delegado titular da unidade deve se reunir com as representantes do movimento para ouvir e conversar sobre a manifestação", respondeu em nota. Atualização em 11/5, às 19h30 - O nome de uma testemunha foi retirado do texto para garantir a sua proteção
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