Policial flagrado atirando duas vezes contra o chão afirmou em depoimento que disparos foram acidentais e tentou desmentir imagens de programas de TV
O PM (policia militar) Claudinei Francisco de Souza, de 39 anos, lotado no 12o batalhão da corporação, que atirou contra dois suspeitos, um de 15 e outro de 17 anos, no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, nesta terça-feira (23), tentou mudar a cena do crime. Quem afirma isso é o ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves. “Os tiros que ele deu, após tudo o que aconteceu, com a suposta arma do suspeito, foi uma assinatura de erro. O PM assinou a confissão de que tentou forjar ali um tiroteio”, disse a Ponte Jornalismo.
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À polícia, o agente afirmou, segundo o B.O. (Boletim de Ocorrência) do caso, obtido pela Ponte, que os dois disparos flagrados pelas câmeras dos helicópteros dos programas Brasil Urgente (TV Bandeirantes) e Cidade Alerta (Rede Record) foram acidentais. “Quanto aos disparos efetuados pelo PM com a arma de um dos adolescentes, visualizamos as imagens disponibilizadas pela mídia televisiva, que mostra nitidamente que foram efetuados em direção ao chão da via pública, e, segundo a versão do policial, tais disparos foram acidentais”, assina o documento o delegado Walter Pires Bettamio Jr. A comunicação do caso ocorreu apenas 8 horas após o ocorrido.
O ouvidor da Polícia desmente a versão apresentada. “Ele queria que a arma dos dois tivesse deflagrado aqueles cartuchos. Isso é nítido. Ele esqueceu, na adrenalina, que os helicópteros estavam filmando. Esqueceu desse detalhe. E foi forjar um tiroteio. E foi flagrado. Ele mesmo criou toda essa situação. Não existe a possibilidade do acidente, porque foi mais de um tiro. Ele poderia jogar essa tese se fosse apenas um tiro… Não existe nenhuma possibilidade. É impossível essa situação. Não dá para considerar. Foi flagrante a tentativa de forjar um tiroteio, mudando a cena do crime. Ele quis mudar a cena do crime”, afirmou Julio Cesar Neves.
Ainda de acordo com o Boletim de Ocorrência registrado, o PM alega que o passageiro da moto, depois de arremessar o capacete contra a moto que dirigia, sacou uma arma e apontou. As imagens flagradas pelos programas policiais negam a hipótese, porque, na sequência, o rapaz se desequilibrou, caindo para a direita. “O indivíduo que conduzia a motocicleta se desgovernou e colidiu contra um poste. Mesmo caído ao chão, ambos se negavam em largar as respectivas armas de fogo”, relata o documento oficial.
Segundo mostram as imagens das emissoras de TV, nesse momento, os suspeitos se renderam, com as mãos levantadas. “Apontaram as respectivas armas de fogo contra o declarante [o PM Claudinei] que em ato de reflexo e auto defesa efetuou vários disparos contra eles”.
O ouvidor Julio afirmou que Claudinei Francisco de Souza vai ser processado pela Corregedoria da Polícia Militar e que ele já está preso administrativamente. “Num país normal, o policial em questão seria julgado num plenário no Tribunal de Júri, no mínimo, por um duplo tentado de homicídio, se nenhum dos suspeitos morrerem”, diz. “Se não tivesse sido flagrado pelas câmeras, hoje ele seria tratado como herói”, finaliza. A Polícia Militar informou nesta quarta-feira (24) que o policial foi afastado administrativamente. O secretário da SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, Alexandre de Moraes, afirmou que “pelas imagens, a constatação é de uma séria irregularidade por parte do policial”.
Os suspeitos seguem internados. Um, em estado estável, o outro nem a família sabe como o jovem está. O de 17 anos levou três tiros: um nas nádegas e dois na perna. O de 15 estaria em estado grave. De manhã, a família do garoto afirmou ao Bom Dia São Paulo, da TV Globo, que foi impedida de ver o garoto e que não tinha sequer informações porque ele estava sob custódia da polícia no pronto-socorro do Hospital Campo Limpo.