PM suspeito de ligação com a facção criminosa PCC, milícia, roubos de cargas e caixas eletrônicos, WhatsApp, brigas entre marido e mulher, professor de tiro, um baleado misterioso, programa que recupera dados apagados de telefones celulares e outros detalhes da investigação sobre os atentados nos quais 32 pessoas foram baleadas (25 mortas e sete feridas), entre 8 e 13 de agosto, para vingar morte de um cabo da PM e de GCM
A utilização de um programa de computador que recupera dados apagados de telefones celulares foi uma das principais ferramentas utilizadas pela Polícia Civil e Corregedoria da PM para prender quinta-feira (08/10) sete policiais militares e um GCM (guarda civil municipal) sob a suspeita de participação nas mortes em série em Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba (Grande São Paulo).
Ao todo, entre os dias 8 e 13 de agosto, 32 pessoas foram mortas nas cinco cidades, em 23 casos distintos, que também deixaram nove feridos.
Para o governo de São Paulo, 25 dessas 32 pessoas foram mortas em 14 atentados que foram retaliações pelos assassinatos do cabo da PM Ademilson Pereira de Oliveira, em 7 de agosto, e de Jefferson Luiz Rodrigues da Silva, GCM de Barueri, em 12 de agosto.
Nesses mesmos 14 atentados (quatro em 08 de agosto e dez no dia 13), outras sete vítimas foram feridas a tiros, de acordo com os cruzamentos de dados da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).
Foi a partir da recuperação dos dados do telefone celular do guarda civil municipal Willian Pinto Moreira, motorista do também GCM Sérgio Manhanhã, supervisor do GITE (Grupo de Intervenções Táticas e Estratégicas), espécie de destacamento especial da Guarda de Barueri, que alguns nomes de suspeitos começaram a aparecer durante a investigação.
No telefone do GCM Moreira, os policiais civis encontraram contato com um guarda identificado como Rubens, às 22h18 de 13 de agosto. Rubens foi um dos primeiros a chegar na Rua Carlos Lacerda, onde mora o GCM Moreira e onde aconteceu a morte de Wilker Thiago Correa Osório. Cerca de 1h30 depois desse crime, Jailton Vieira da Silva e Joseval Amaral da Silva foram mortos na rua Irene, 823, também em Barueri, distante 11 km de onde Osório foi assassinado.
Imagens de uma câmera de segurança do bar mostraram os matadores separando os frequentadores do lugar que tinham antecedentes criminais dos que não tinham e os tiros disparados contra os dois homens que admitiram problemas judiciais.
Ao utilizar um programa especial para recuperar dados apagados de telefones celulares, os investigadores da Unidade de Inteligência do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de SP, descobriram que o GCM Rubens havia sumido com um contato de sua agenda de contatos. Tratava-se do número do telefone do policial militar Victor Cristilder Silva dos Santos, integrante da Força Tática do 20º Batalhão da PM, em Barueri, e conhecido como Boy.
O mesmo rastreamento de dados apagados mostrou que o GCM Rubens fez diversos contatos com um número de telefone celular que pertencia ao também guarda municipal Jefferson Luiz Rodrigues, morto em 12 de agosto. O último dos contatos do aparelho celular de Rubens para o que Rodrigues utilizava ocorreu em 18 de agosto, seis dias após sua morte. Também existiam ligações do celular de Rubens para um número fixo utilizado por Rodrigues comercialmente.
A mesma análise de dados apagados foi feita no telefone de Sérgio Manhanhã, supervisor do GITE (Grupo de Intervenções Táticas e Estratégicas), espécie de destacamento especial da Guarda Municipal de Barueri, e os investigadores do DHPP descobriram contatos com alguém identificado como “Cristil”, apontado como o PM Victor Cristilder.
Uma conversa entre Manhanhã e Cristilder foi às 23h06 do dia 13 de agosto. Nos outros contatos, o GCM e o PM utilizaram o aplicativo WhatsApp. Em duas ocasiões (às 22h02, do dia 13 de agosto; às 1h58, do dia 14) o PM Cristilder enviou sinais de positivo para o GCM Manhanhã, horário dos atentados em série.
Viatura com o Tigre esteve no local com mais mortes
Um dos sobreviventes do atentado que deixou oito mortos e dois feridos a tiros no bar localizado no Jardim Munhoz Junior, periferia de Osasco, revelou aos investigadores da chacina que, na noite de 13 de agosto, por volta das 20h10, viu quando duas viaturas (“de grande porte, com a pintura camuflada e com um emblema de um tigre nas portas”) passaram bem devagar na frente do lugar.
“Todos os ocupantes [das duas viaturas] olharam atentamente para o bar”, disse o sobrevivente que, como estava do lado de fora do bar, pôde prestar a atenção nos detalhes dos dois carros. Mais tarde, os reconheceu como do GITE, da GCM de Barueri.
Dois minutos após a passagem dos carros camuflados e com o tigre estampado, um veículo, o Sandero prata, quatro portas, vidros escurecidos, chegou com quatro homens, todos encapuzados. Três deles desceram e começaram a atirar em todas as pessoas que estavam no bar, momento em que o sobrevivente correu. Ao todo, oito homens morreram no lugar; outros dois foram feridos.
O sobrevivente do atentado contou que um dos três envolvidos na morte do Jefferson Luiz Rodrigues da Silva, GCM de Barueri morto em 12 de agosto, durante um roubo, era frequentador do bar onde os oito homens foram mortos pelos três atiradores.
Como os carros da GCM não têm sistema de rastreamento, a Polícia Civil não conseguiu descobrir quais veículos passaram na frente do bar na noite de 13 de agosto, a cem metros de distância da divisa entre as cidades de Osasco e Barueri.
O levantamento do telefone celular de Sérgio Manhanhã, supervisor do GITE da GCM de Barueri, apontou que, às 23h39 de 13 de agosto, ele estava na mesma região da rua Irene, onde, às 23h45, aconteceram as mortes Jailton Vieira da Silva e Joseval Amaral Silva, ambas gravadas por uma câmera de segurança de um bar.
Boy, o PM, e a Testemunha 795
Conhecida como “Testemunha 795” na apuração sobre as mortes Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba, ocorridas entre 8 e 13 de agosto, uma pessoa cuja identidade é preservada por medo de represálias, identificou o policial militar Cristilder como responsável pelo assassinato de Michael do Amaral Ribeiro.
Por volta das 2h56 de 8 de agosto, 795 e Ribeiro estavam na rua Alvorada, em Carapicuíba, saindo de um bar, quando dois homens desceram de um Honda Civic que estava estacionado havia cerca de uma hora na mesma rua.
Enquanto caminhavam, já perto de uma ponte, 795 e Ribeiro foram abordados pelos dois homens do Civic, que estavam armados. Ao olhar para um deles, 795 o reconheceu como um morador de Carapicuíba conhecido como Boy. Assim que os dois homens foram na direção de Ribeiro, 795 pensou que eles iam conversar com ele.
Menos de dez segundos após a abordagem de Oliveira e sem dizer nada, um dos homens, aquele conhecido como Boy, começou a atirar contra Oliveira. Foi nesse momento que 795 encontrou sua chance para escapar correndo.
Quando estava distante cerca de 250 metros de onde Oliveira havia sido baleado, 795 encontrou outro amigo de infância e pediu uma carona até sua casa. Passados cinco minutos, os dois voltaram a pé ao local onde Oliveira havia sido baleado, mas o corpo do amigo de 795 não estava na rua. A vítima dos tiros só foi encontrada dentro de um córrego, de onde foi retirada por 795 e seu outro amigo.
A testemunha 795 foi à casa de Oliveira e avisou a mãe dele sobre o crime contra o filho. A Polícia Militar foi chamada por ela, mas 795 não falou para ninguém que havia reconhecido Boy como um dos dois assassinos do amigo.
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Naquela madrugada de 8 de agosto, 795 foi levada para a delegacia por dois PMs que estavam em um carro Palio Weekend da corporação. No trajeto do local do crime até o distrito policial, revelou 795, os dois PMs o ameaçaram diversas vezes.
“Você não viu nada, você não sabe de nada! Se abrir a boca, vou ferrar com você e com a sua família!” foi o que 795 relatou como dito pelo PM que estava no banco do passageiro do carro. O PM, segundo 795, disse que ia colocar drogas onde ela mora para “ferrar com todo mundo”.
Enquanto era ameaçada pelo PM passageiro, o PM motorista dava risadas. Esses dois PM também já eram conhecidos de 795, pois fazem trabalhos como segurança particular em um açougue e em um supermercado de Carapicuíba. Os dois comércios têm seus esquemas de segurança controlados pelo Victor Cristilder Silva dos Santos, o PM conhecido como Boy.
Somente depois de vários dias da morte do amigo, 795 resolveu contar o que sabia à Polícia Civil. Segundo a testemunha, o PM Boy estava tentando intimidá-la e, toda vez que o via pelas ruas de Carapicuíba, encostava seu carro, um Sandero prata, perto dela e baixava o vidro para ficar a encarando. Um Sandero prata também foi usado nos ataques ocorridos em Barueri.
A testemunha 795 também afirmou à Polícia Civil que Boy, o PM, comanda um esquema de segurança particular e fornecendo os serviços de PMs e GCMs para os comércios de Carapicuíba. Somente em um mercado, Boy montou uma força privada de vigilância que conta com cinco PMs _três para o dia e dois para o turno da noite. Para 795, Boy é comandante de uma milícia que age em parte de Carapicuíba.
Um dos PMs com quem Boy tem ligações, segundo a investigação, é conhecido como De Paula. O pai desse PM é dono da casa onde Boy mora.
Conversas com o PCC
Um dos pontos revelados por 795 sobre a morte de Oliveira investigados pela Polícia Civil diz respeito a um encontro entre Boy, o PM, e um homem conhecido em Carapicuíba como Irmão China, investigado sob a suspeita de integrar e chefiar a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em parte da região oeste da Grande São Paulo.
A testemunha revelou aos investigadores que, em 19 de setembro, Boy e China se encontraram para firmar um acordo: ninguém deveria abrir a boca sobre a morte de Oliveira, o amigo de 795. Caso alguém falasse, essa pessoa seria morta.
Um dia após a reunião entre o PM e China, 795 foi procurada por China para uma conversa, mas ela se recusou a ir ao encontro. A testemunha fez o reconhecimento fotográfico de China e sua identidade foi revelada como Adalberto Elias de Sousa.
Outro PM apontado como do ciclo de relacionamentos de Boy é investigado como dono de uma pizzaria em Carapicuíba. O irmão desse PM, também ex-dono de uma agência de carros na cidade, é conhecido como Júnior ou Panda e, segundo 795, envolvido com um esquema de roubo de cargas e de explosões de caixas eletrônicos.
Em seu depoimento à Polícia Civil, 795 também contou aos investigadores que há dois, Oliveira, o amigo de 795 morto em agosto, havia recebido um convite do PM Boy: os dois amigos receberiam R$ 500 para descarregar um carga roubada. A testemunha 795 afirmou ter recusado a oferta, mas não sabe dizer se Oliveira fez ou não o trabalho.
Briga com a mulher
O soldado Thiago Barbosa Henklain passou a figurar na lista de suspeitos de integrar o grupo responsável pelos atentados em série, ocorridos entre 8 e 13 de agosto, em Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba, quando uma testemunha com a identidade mantida em sigilo pela Polícia Civil relatou uma briga entre o militar e sua esposa.
Segundo a testemunha, um dos vizinhos do PM Henklain lhe contou que o militar chegou em casa por volta das 23h30 ou meia-noite, em 13 de agosto, o que era fora de sua rotina. Naquela noite, de acordo com o relato do vizinho à testemunha, Henklain “estava muito agitado”, “nervoso”.
Henklain trabalha na mesma Força Tática, a do 42º Batalhão, que o cabo Ademilson Pereira de Oliveira, morto em um posto de combustível de Osasco, em 7 de agosto deste ano. Segundo disse aos investigadores, naquele dia, ele trabalhou normalmente na Força Tática, das 5h30 às 18h, quando foi para a sede da sua unidade, onde ficou até as 20h20. Henklain disse ter ficado conversando com dois outros PMs (sargento Garcia e cabo Douglas) e fazendo higiene pessoal.
No dia 14 de agosto, o mesmo vizinho que percebeu a chegada do PM Henklain na noite anterior, disse à testemunha ter ouvido uma briga entre o militar e sua mulher. Durante a discussão, a mulher do PM teria dito que o reconheceu como sendo um dos atiradores que matou Jailton Vieira da Silva e Joseval Amaral da Silva no bar da rua Irene, em Barueri.
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A mulher gritava com o PM e dizia que tinha visto as imagens da câmera de segurança do bar em reportagens na manhã do dia 14 de agosto. Na gravação, ela o reconhecia como o homem que aparecia vestindo jaqueta preta, estilo motociclista e com logomarca reflexiva nas costas, calça jeans e, aparentemente, utilizou um revólver calibre 38 para matar uma das vítimas no bar, a que usava camiseta vermelha.
Ainda na briga com a mulher, o PM Henklain disse para sua mulher, segundo o vizinho relatou à testemunha ouvida pela Polícia Civil: “Você prefere que os nóia mate os policiais? Nós temos que matar os nóia mesmo!” (SIC).
Após a suposta tentativa de justificativa por parte do PM, sua mulher mandou que ele sumisse com a jaqueta de motociclista e a calça jeans, ainda de acordo com o relato do vizinho à testemunha. Dias após o crime no bar da rua Irene, o PM Henklain também cancelou sua linha de telefone e de radiocomunicador.
Antes do relato da testemunha sobre a briga que o vizinho do PM Henklain lhe relatou, várias denúncias anônimas às polícias Civil e Militar já o apontavam como um dos envolvidos nos homicídios, bem como dois de seus parceiros de Força Tática, o 2º sargento Adriano Henrique Garcia e o cabo Douglas Lucio Soares.
A ex-mulher do PM Henklain também foi interrogada pela Polícia Civil e disse que a jaqueta do homem que aparece nas imagens do bar “guarda grande semelhança com a jaqueta que o PM possuía”.
A atual mulher do PM Henklain, a da briga ouvida por seu vizinho, mentiu à Polícia Civil quando disse que um carro do marido, um Vectra, está sem circular há mais de um ano por estar quebrado. Durante o levantamento de câmeras de trânsito, os policiais do DHPP descobriram que o carro transitou, sim, em 7 de agosto, mesma data da morte do cabo Pereira, amigo de Henklain, no posto de combustíveis de Osasco.
Montagem de alvos
Parceiro de policiamento do PM Henklain, o 2º sargento Adriano Henrique Garcia disse que, em 13 de agosto, apesar de terminar seu turno de trabalho na PM por volta das 18h30, ficou até por volta das 20h30 na unidade da Polícia Militar onde está lotado. Afirmou que estavam com ele o cabo Douglas Lucio Soares e o soldado Henklain.
Garcia trabalha na mesma Força Tática, a do 42º Batalhão, que o cabo Ademilson Pereira de Oliveira, morto em um posto de combustível de Osasco, em 7 de agosto deste ano.
Os três, segundo a versão do sargento Garcia, ficaram duas horas a mais no trabalho na noite de 13 de agosto para montar alvos para pista policial de tiros, matéria em que dá aulas para outros policiais militares e que tinha um curso na manhã do dia 14.
Ao rastrear as planilhas de entrada e de saída de pessoas e de veículos da unidade da PM, os investigadores constataram que não havia nenhum registro naquele período do dia 13 de agosto. Os responsáveis pelas anotações da movimentação na sede da Força Tática disseram ter certeza que o sargento Garcia não havia deixado a unidade depois das 19h.
A checagem sobre a montavam dos alvos para as aulas de tiros também se tornou mais um indício de que a versão do sargento Garcia precisa ser melhor investigada. O PM armeiro da Força Tática afirmou que nenhuma arma ou material para instrução de tiro foi retirada na noite de 13 de agosto.
Um sargento que também ministrou aulas de tiros com o sargento Garcia na manhã de 14 de agosto disse à Polícia Civil que nenhum dos dois levou alvos particulares para a instrução. O mesmo professor de tiros da PM também afirmou que todo o material para a instrução fica guardado na sede do CPA/M-8 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano 8, em Osasco).
Bate-papo com os amigos de trabalho
Durante seu interrogatório, o cabo Douglas Lucio Soares disse que ficou na sede da Força Tática, conversando com o soldado Henklain e com o sargento Garcia, na noite de 13 de agosto, até as 20h30, quando foi embora para casa e não saiu mais.
O cabo Douglas trabalha na mesma Força Tática, a do 42º Batalhão, que o cabo Ademilson Pereira de Oliveira, morto em um posto de combustível de Osasco, em 7 de agosto deste ano.
Ao contrário do que disseram o sargento Garcia e o soldado Henklain sobre a montagem de alvos para o curso de tiros, o cabo Douglas, apesar de dizer ter permanecido com eles na Força Tática, na noite de 13 de agosto, nunca falou sobre a preparação dos alvos para as aulas.
Apesar de também ter dito que foi embora da Força Tática às 20h30 de 13 de agosto, os policiais militares responsáveis pelas anotações das entradas e saídas de pessoas e de veículos disseram que, “certamente”, ele não saiu do lugar depois das 19h.
Estava de folga, no ‘bico’ de segurança particular
O 3º Sargento Edilson Camargo Sant’Ana disse que, mesmo de folga, só chegou à Força Tática do 42º Batalhão às 20h50 de 13 de agosto, depois de trabalhar como segurança particular no supermercado Futuro Brilhante. Ao entrar na Força Tática, Camargo afirmou ter buzinado para um soldado que estava de guarda na entrada do grupamento.
O sargento também disse ter saído da Força Tática às 22h20, quando foi para casa, onde chegou às 22h40. Enquanto esteve na Força Tática, o sargento Camargo disse aos outros PMs que tinha brigado com sua mulher e que pensava em dormir no quartel. A briga entre o casal teria sido motivada porque a mulher não gostou da troca de turno do marido.
Camargo contou que só soube da série de mortes naquela noite de 13 de agosto quando chegou em sua casa, ativou a rede Wi-Fi e passou a receber mensagens sobre os crimes pelo aplicativo WhatsApp.
As anotações sobre a movimentação de pessoal e de veículos na Força Tática revelaram que Camargo chegou ao lugar às 17h e foi embora às 21h30, o que o colocou na lista de suspeitos pelos crimes em série naquela noite.
Assim como os outros PMs, Camargo também trabalha na mesma Força Tática que o cabo Pereira, morto em 7 de agosto no posto de combustíveis.
Baleado misterioso
Um rapaz que afirma ter sido baleado três vez, por volta das 22h do dia 13 de agosto de 2015, na rua Suzano, Vila Menk, periferia de Osasco, foi encontrado pelos investigadores da Polícia Civil como um dos feridos nos ataques daquela noite. Na mesma rua, uma mulher, de 27 anos, e uma jovem, de 15, também foram feridas. A jovem, Letícia Vieira Hillebrand da Silva, morreu uma semana após o atentado.
Segundo o rapaz, ele foi atingido pelos ocupantes de um carro cujas características ele não se recorda. Ao mesmo tempo, o mesmo rapaz diz que guardou bem o rosto do homem que disparou contra ele e que estava ao lado do motorista do veículo, no banco do passageiro.
Nenhum morador da rua Suzano falou à polícia sobre uma terceira vítima ferida a tiros naquela noite e os socorristas que trabalharam no atendimento às vítimas só localizaram a jovem e a mulher no lugar, ambas baleadas.
Enquanto localizava esse rapaz baleado, os investigadores receberam denúncias anônimas que indicavam a participação do PM Fabrício Emmanuel Eleutério no atentado da rua Suzano.
Com as denúncias anônimas, a polícia pediu para que o rapaz que disse ter sido baleado na rua Suzano fizesse o reconhecimento fotográfico do PM Eleutério e ele o apontou como o atirador e o militar foi preso por ordem da Justiça Militar.
A alegação para mandar Eleutério para o Presídio Militar Romão Gomes é a de que, caso ficasse em liberdade, “ele ameaçaria diretamente os princípios da hierarquia e disciplina da instituição policial-militar”.
Com a decretação da prisão de Eleutério pela Justiça Militar, a polícia e o Ministério Público também pediram que ele tivesse prisão pela Justiça comum, mas a juíza Élia Kinosita Bulman, do Tribunal do Júri de Osasco, negou o pedido de prisão temporária do PM e afirmou que a Polícia Civil precisava esclarecer:
a – não há uma única informação de como a Polícia Civil conseguiu chegar à vítima que disse ter sido ferida na rua Suzano, o rapaz.
b – não há boletim de ocorrência desta vítima noticiando à autoridade policial o crime que sofrera, nem que tenha sido lavrado na data do crime ou em data posterior.
c – não há informação de que a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) ou o hospital para o qual foi transferida tenha acionado a Polícia Militar, como é praxe nos casos em que dá entrada em qualquer nosocômio vítima de ferimentos de agressão.
d – a própria vítima narra que, enquanto estava sendo atendida na UPA, diversas outras pessoas deram entrada baleadas de várias regiões de Osasco, ou seja, e mais uma vez se questiona o motivo pelo qual não há um único registro juntado aos autos deste atendimento ou de se ter noticiado para a autoridade policial.
De acordo com documentos da Corregedoria da Polícia Militar, as investigações sobre a localização de seu telefone celular e o carro que ele usou naquela noite de 13 de agosto apontam, segundo os dispositivos de rastreamento, que ele estava mesmo na região da casa da namorada, distante cerca de sete quilômetros da rua Suzano.
O sistema de câmeras segurança do shopping onde o PM buscou a namorada naquela noite mostraram que ele chegou por volta das 19h05. Um tíquete do estacionamento também comprova a entrada, assim como o rastreador do veículo do PM mostra o trajeto do shopping para a casa da namorada, cuja mãe garante que o casal ficou junto na noite de 13 de agosto.
O cruzamento das ligações telefônicas entre o PM Eleutério e outros militares de Osasco, Barueri e Carapicuíba, bem como com GCMs, todos eles também na lista de investigados, não apontou nenhum contato com o soldado. Atualmente, Eleutério cumpria expediente administrativo na Rota (grupo especial da PM de SP) e não tinha porte de arma. Isso porque ele já havia sido investigado sob a suspeita de participação em casos como o de agora.
Os suspeitos investigados pelos atentados em série em Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba:
Soldado Thiago Barbosa Henklain
2º Sargento Adriano Henrique Garcia
Cabo Douglas Lucio Soares
3º Sargento Edilson Camargo Sant’Ana
Soldado Victor Cristilder Silva dos Santos, conhecido como Boy
Guarda Civil Municipal Sérgio Manhanhã
Soldado Fabrício Emmanuel Eleutério
Dois PMs presos em flagrante sob a suspeita de posse ilegal de munições em suas residências
Os crimes em Osasco, Barueri, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus e Carapicuíba (Grande SP):
Casos destacados têm relação e foram cometidos pelos mesmos criminosos, segundo a investigação
1º – O8/ago/15 – 00:30 – Rua Pedro Paulino – Itapevi
Vítimas: Rodrigo Máximo de Souza, Lucas Roberto de Souza e Aldiberto Araújo dos Santos
2º – 08/ago/15 – 01:28 – Rua Padre Anacleto Pedro Camargo, 777 – Pirapora do Bom Jesus – Santana de Parnaíba
Vítima: Marcos Vinicius Kairalla
3º – 08/ago/15 – 01:39 – Rua Jacinto José de Souza, 60 – Portal D’Oeste – Osasco
Vítimas: Rafael da Silva Santos e uma ferida a tiros
4º – 08/ago/15 – 01:44 – Avenida Santiago Rodilha, 108 – Veloso – Osasco
Vítima: Gabriel Felipe Ferreira Lopes
5º – 08/ago/15 – 02:02 – Rua Calixto Barbieri, 133 – I.A.P.I. – Osasco
Vítima: Bruno dos Santos Pereira
6º – 08/ago/15 – 02:56 – Rua Alvorada – Carapicuíba
Vítima: Michael do Amaral Ribeiro
7º – 08/ago/15 – 03:00 – Av. Sport Club Corinthians Pta., 24, Jd. das Flores – Osasco
Vítima: Diego Siqueira Pereira
8º – 08/ago/15 – 06:54 – Estrada das Rosas, 11, Santa Maria – Osasco
Vítima: Wellington Gomes Ribeiro
9º – 08/ago/15 – 15:41 – Rua Maria Joana Rosa, 18 – Jardim D’Abril – Osasco
Vítima: um homem ferido a tiros
10º – 08/ago/15 – 19:30 – Alameda Roraima, 313 – Três Montanhas – Osasco
Vítima: Marcos Antonio Paes
11º – 10/ago/15 – 22:30 – Avenida Comendador Dante Carraro – Cidade Ariston – Carapicuíba
Vítima: Luan Marques de Araújo
12º – 11/ago/15 – 23:30 – Rua Ardósia X Rua Rubensval Dias da Costa – Vila Helemar – Carapicuíba
Vítima: um homem ferido a tiros
13º – 13/ago/15 – 20:50 – Rua Professor Sud Menucci, 153 – Jardim Elvira – Osasco
Vítima: Rodrigo Lima da Silva
14º – 13/ago/15 – 20:51 – Rua Antonio Benedito Ferreira, 374 – Jardim Munhoz Júnior – Osasco
Vítimas: Leandro Pereira Assunção, Antonio Neves Neto, Tiago Teixeira de Souza, Fernando Luiz de Paula, Thiago Marcos Damas, Adalberto Brito da Costa, Eduardo Oliveira Santos e Manuel dos Santos
15º – 13/ago/15 – 20:55 – Rua Astor Palamin, 244 – Helena Maria – Osasco
Vítimas: Jonas dos Santos Soares e Igor Silva Oliveira
16º – 13/ago/15 – 21:00 – Rua Pedro Valadares X Rua Itapevi – Jardim Vitápolis – Itapevi
Vítima: um homem desconhecido
17º – 13/ago/15 – 21:29 – Rua Cuiabá, 1.027 – Rochdale – Osasco
Vítima: Presley Santos Gonçalves
18º – 13/ago/15 – 21:31 – Rua Moacir Salves D’Ávila, 762 – Vila Menk – Osasco
Vítimas: Rafael Nunes de Oliveira
Um homem e uma mulher feridos a tiros
19º – 13/ago/15 – 22:00 – Avenida Eurico da Cruz, 665 – Jardim Munhoz Júnior – Osasco
Vítima: Eduardo Bernardino César
20º – 13/ago/15 – 22:00 – Rua Suzano, 106 – Vila Menk – Osasco
Vítimas: Letícia Vieira Hillebrand da Silva
21º – 13/ago/15 – 22:02 – Rua Vitantônio D’Abril – Vila Menk – Osasco
Vítima: Deivison Lopes Ferreira
22º – 13/ago/15 – 22:15 – Rua Carlos Lacerda, 579 – Vila Engenho Novo – Barueri
Vítima: Wilker Thiago Correa Osório
23º – 13/ago/15 – 23:45 – Rua Irene, 823 – Parque dos Camargos – Barueri
Vítimas: Jailton Vieira da Silva e Joseval Amaral Silva
PM e Guarda Civil Municipal mortos
Homicídios motivaram vingança por parte de PMs e GCMs:
01º – 07/ago/15 – Avenida dos Autonomistas, 4.961 – Vila Yara – Osasco
Vítima: Ademilson Pereira de Oliveira (Cabo da Força Tática do 42º Batalhão da PM. Foi morto em posto de combustíveis)
02º – 12/ago/15 – 16:00 – Rua Lins, 25, Jardim Paulista – Barueri
Vítima: Jefferson Luiz Rodrigues da Silva (GCM de Barueri foi morto em tentativa de roubo contra adega)
OAB-SP: Prisão de PMs suspeitos de chacina em Osasco e Barueri é ilegal
Mais 3 PMs são presos por chacina que matou 4 jovens em Carapicuíba
[…] por participação em chacina de Carapicuíba [Luís Adorno e André Caramante, Ponte, 13/11/15] e Conheça detalhes da apuração sobre a matança feita por PMs e GCMs em Osasco, Carapicuíba, Itape… [Luís Adorno e André Caramante, Ponte, 14/10/15]*2: Justiça absolve PM acusado de participar da […]