Manifestação que marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha reuniu movimento negro, feminista e LGBT+ na República, centro da capital paulista, na noite desta segunda (25)
Com a benção de Exu, a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo voltou a ocupar as ruas do centro da capital paulista por voltas das 18h30 desta segunda-feira (25), após dois anos sem evento por conta da pandemia de Covid-19. Este ano, o ato que celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia de Teresa de Benguela teve como lema “Por Nós, Por Todas Nós, Pelo Bem Viver” e se concentrou na Praça da República para cobrar pelos direitos das mulheres pretas e por mais representatividade nas eleições 2022.
No manifesto, a organização da Marcha chama atenção para a desigualdade racial, de gênero e econômica no país que afeta principalmente pessoas negras e denuncia o racismo estrutural e as políticas adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Entre as reivindicações estavam a garantia do direito ao aborto seguro e legal, dos direitos da população LGBTQIA+, o fim da violência de Estado e da intolerância política.
À Ponte, a ativista trans Neon Cunha disse que o retorno dos atos presenciais é momento de luta, celebração e mudança na perspectiva das mulheres pretas dentro de uma sociedade que ainda segrega. “É a soma que dá esse rolê da Marcha das Mulheres Negras, onde a gente vai instituir uma série de questões e que a única coisa que nos une ao fato de sermos todas pretas dos mais diversos tons, das mais diversas possibilidades, identidades de gênero, orientação sexual, profissões, mas com um único propósito: a manutenção da dignidade e a construção de humanidade”.
O coletivo Mulheres de Axé do Brasil, que representa sacerdotisas e frequentadoras das religiões de matriz africana, abriu a Marcha com rituais. “Fizemos aqui a abertura do ato com uma oferenda, com um despacho e uma oração para Exu que é o orixá das ruas, das trocas, da comunicação. E por isso que nós queremos que as lutas das mulheres negras, tanto as de terreiro quanto as que não são de terreiro, sejam abençoadas pelos orixás”, explicou a covereadora da Bancada Feminista do PSOL na capital paulista, Carolina Iara.
Trabalhadoras, estudantes, parlamentares e ativistas dos movimentos negro e feminista também acompanharam a performance Anunciação, realizada pelo Bando Macuas Cia Cênica, que é formado por mulheres e trabalha a dança e o teatro com a perspectiva africana. “A gente está se colocando na cena pela primeira vez agora, com essa performance, e pensando em dizer o que a gente quer, que construção de artistas pretas que a gente está propondo”, comentou Débora Marçal, diretora coreógrafa do Bando Macuas.
A caminhada até as escadarias do Theatro Municipal de São Paulo,local de fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978, contou com faixas, cartazes e homenagens às mulheres negras e indígenas que estão na linha de frente da resistência. As manifestações artísticas do Bloco afro Ilú Oba De Min, uma bateria formada somente por mulheres, também marcaram o protesto, que terminou de forma pacífica por volta das 22h.