Bolsonarista agride mulher em show no interior de SP e PM finge que não precisa trabalhar

Caso ocorreu durante o show da banda Garotos Podres na cidade de Pederneiras, nesta terça (15); mulher diz que agressor quebrou sua mandíbula, PMs aparecem em vídeo fazendo pouco caso

Um lata foi arremessada contra o palco quando a banda Garotos Podres tocava apenas a terceira música do show que fizeram nesta terça-feira (15/11), na cidade de Pederneiras, no interior do estado de São Paulo. Era o prenúncio de uma apresentação que não chegaria ao fim. Uma mulher recebeu um soco de um homem que estava no público. A Polícia Militar, após ser acionada, não atuou o agressor, e as luzes do local foram apagadas antes do fim do espetáculo.

Vídeos registrados pelo público mostram o exato momento em que um homem de camisa azul está em posição de luta contra pessoas que estavam assistindo o show. Em determinado momento ele se desvencilhou de pessoas que tentavam segurá-lo e acerta o soco em uma mulher, que vai ao chão no mesmo instante.

Outras imagens mostram o mesmo homem conversando calmamente com policiais militares. Mesmo com pedidos e protestos dos espectadores do show, os PMs do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I) não autuam o agressor. Em determinado trecho do vídeo é possível ouvir um policial dizer que se alguém tem algo contra o agressor, deveria ir até a delegacia e registrar um boletim de ocorrência contra ele.

A vítima da agressão foi a cozinheira Thalía Ribeiro, de 25 anos. Ela afirma que na primeira crítica que a banda fez ao governo Bolsonaro, o homem que é conhecido na cidade como Adílson Marrom passou a xingar e discutir com o público. “Ele discutiu com um sehor de idade e o empurrou. Eu entrei no meio para defender o senhor e ele me deu dois socos. No último, desmaiei”, conta a vítima que está internada em um hospital em Bauru e precisará passar por um cirurgia no maxilar.

O agressor, conhecido com Adílson Marrom, tem fotos em suas redes sociais apoiando o presidente Jair Bolsonaro (PL) | Foto: Reprodução / Facebook

Thalía conta que seu agressor é professor de artes marciais em Pederneiras, trabalha como segurança em uma agência bancária da cidade e, além de ser fã declarado do presidente Jair Bolsonaro, já teria se envolvido em outras brigas. “Ele foi lá para arrumar confusão. Ele não estava bêbado e estaca ali apeans para provocar”, diz Thalía.

A vítima está sendo acompanhada pelo Conselho Municipal de Direito das Mulheres de Pederneiras, que acionou o Conselho Tutelar para encaminhar os dois filhos de Thalía para ficar comparentes enquanto ela se recupera da agressão no hospital e a acompanhou na delegacia para registrar o boletim de ocorrênciapela agressão.

O vocalista dos Garotos Podres e doutor em história econômica pela USP José Rodrigues Mao Júnior, 59 anos, acredita que os ataques que a banda sofreu no palco têm a ver com críticas ao governo, mas através de uma ação premeditada por conta do posicionamento político da banda.

“Não deu nem tempo de fazer alguma crítica ao governo. Na terceira música, que se chama ‘Vomitaram no Trem’, cantei vomitaram no Bozo, e uma lata foi arremessada contra o nosso guitarrista. A gente poderia fazer várias outras críticas, mas não deu tempo. Encerraram nosso show antes”, declarou.

Segundo o músico, não houve apenas prevaricação por parte do policiais militares, e sim apoio a um pequeno grupo que foi até o show para provocar os fãs da banda. O vocalista também relata que já havia uma pressão por parte do poder público para que a banda não falasse de política em cima do palco — em postagem no Instagram, cita pressão pelo secretário de Cultura  Geraldo Antonio Cardoso Junior e que a Defesa Civil foi quem cortou a energia do show.

“Todas as nossas músicas falam sobre política. Se for tirar as músicas que falam sobre essa tema não vai sobrar nenhuma. Tocamos pouco mais da metade do nosso show e depois apagaram a luz do local. Fico muito triste e indignado com isso. A prefeitura praticou censura e deve ter gente envolvida com esse grupo bolsonarista. Vimos a PM confraternizando com um fascista”, enfatiza Mao.

O líder dos Garotos Podres acredita que o período político que o país vive após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o fim da atual gestão do governo federal, é favorável para esses tipos de ataques realizados por apoiadores mais radicalizados, com características nazifascistas, do presidente Jair Bolsonaro (PL).

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“Os ânimos estão mais acirrados. A tendência é que a extrema-direita aumente esse tipo de agressão. O que aconteceu domingo no nosso show é apenas uma gota d’água do que pode vir a acontecer daqui por diante. Agora é saber como vamos fazer para colocar essas pessoas para o esgoto de onde elas vieram”.

Outro lado

A Ponte entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para pedir explicações sobre a atuação dos policiais no episódio, mas não foi respondida até a publicação desta matéria. A reportagem não conseguiu contato com a prefeitura de Pederneiras, a administração municipal postou em suas redes sociais nota onde afirma que “o evento tem o apoio da prefeitura, porém, é organizado totalmente de forma independente e que, referente ao ocorrido, acionou as autoridades responsáveis para averiguar os fatos”.

Reportagem atualizada no dia 18/11/2022 para incluir entrevista com a vítima da agressão e novos detalhes sobre o caso

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