Funkeiro denuncia homofobia em padaria da zona leste de SP

MC Angell afirma que gerente o chamou de “viado chato” ao ser atendido em estabelecimento no bairro Jardim Ipanema e registou boletim de ocorrência nesta quarta-feira (6/9)

Empresário registrou momento em que funkeiro questiona gerente da padaria “por que sou viado chato?” que, por sua vez, ri e deixa a mesa | Foto: reprodução

Um músico negro e gay denuncia ter sido vítima de homofobia em uma padaria no bairro Jardim Ipanema, na zona leste da cidade de São Paulo, na tarde desta quarta-feira (6/9).

MC Angell, de 20 anos, estava na Padaria São Brás com amigos e com o empresário Darlan Mendes com quem costuma brincar e trocar apelidos de “viado” como forma de tratamento. “Eu cheguei lá, brinquei com o Darlan e com pessoas com quem eu tenho intimidade, depois fui no balcão pedir meu lanche. Fui eu, um amigo e uma amiga minha. Eu pedi o lanche primeiro e ele [funcionário] disse que ia esquentar”, afirma.

Os outros dois amigos também pediram lanches e o funcionário resolveu esquentar primeiro os deles e depois do MC. “Eu acabei falando assim: ‘é por que eu sou gay?’. Ele não falou nada, só virou as costas. Depois, quando a gente foi pedir uma Coca de dois litros, fui sentar na mesa e a minha amiga foi pegar. Ela colocou [a bebida] na mesa e voltou para pegar o copo com gelo e limão. Ele falou assim ‘leva lá para o viado chato'”, conta. “Aí eu fui lá e questionei ele ‘como assim sou viado chato?’ e ele olhou na minha cara e falou ‘eu estava brincando’, virou as costas e resmungou alguma coisa que eu não ouvi”.

O empresário gravou um vídeo em que mostra uma parte desse momento, em que o funkeiro questiona “por que sou viado chato?” e o homem vira de costas. Angell retruca “velho chato”.

“Eu fui até a menina do caixa para saber quem era o gerente para fazer uma reclamação porque eu nunca vi isso, a gente mora na rua de baixo, a gente vai constantemente nessa padaria que está aqui há 20 anos nessa região, e ela fala que o gerente é ele”, diz Darlan Mendes. “Como eu vou reclamar para a pessoa que acabou de ser homofóbica e racista?”

Segundo ele, o gerente, que teria o nome de Valdir, ainda teria proferido outras ofensas de “viado, preto, chato do caralho” quando o grupo saiu da padaria.

Ainda na tarde desta quarta-feira, Darlan registrou um boletim de ocorrência eletrônico sobre o caso. “Se eu ficar deixando as pessoas fazerem piada só por eu ser gay, e a padaria estava cheia, isso vai acontecer sempre”, afirma o MC.

A Ponte ligou para a padaria e pediu para falar com o gerente Valdir, que negou ter sido homofóbico. “Não, não tem isso aqui não. Foi o contrário. Eu estava atendendo ele, eu recebi [o lanche] para todo mundo, quando eu recebi para ele, ele disse ‘só porque eu sou viado que você recebeu por último?’. Eu falei ‘não tem nada a ver’. Só que aí a gente viu novamente a menina na mesa e a gente só falou assim ‘você pega para aquele viado chato ali?’. Mas tipo assim, a gente nunca maltratou ninguém aqui”, disse.

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Perguntamos se ele já tinha tratado outros clientes dessa forma. “Não teve situação como essa aqui na padaria. E pessoal que estava aqui na padaria na hora, eles viram e falaram assim: ‘pessoal gosta de procurar assunto’, entendeu? Mas não teve homofobia, não teve nada de preconceito com nada”, respondeu. “É porque, como o próprio pessoal diz, eles são influencers, então eles podem fazer qualquer coisa, e tem que estar postando e chamando os outros para ir para a Justiça.”

A Ponte procurou a Secretaria de Segurança Pública para confirmar houve validação do boletim de ocorrência eletrônico. A pasta informou que “o caso citado foi registrado como injúria na Delegacia Eletrônica e encaminhado ao 66º DP (Jardim Aricanduva), responsável pela área dos fatos. A vítima foi orientada quanto à necessidade de representação por se tratar de um crime de ação penal condicionada”.

Reportagem atualizada às 14h46, de 7/9/2023, para incluir resposta da SSP.

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