Caso ocorreu no domingo (17/9) em baile funk no bairro Chácara Santa Maria, na zona sul; jovem de 21 anos levou pontos na cabeça após pancadas com cassetete, diz família
Um motoboy de 21 anos teve ferimentos pelo corpo e precisou levar pontos na cabeça após ter sido espancado por policiais militares, diz a família. O caso ocorreu no domingo (17/9) no bairro Chácara Santa Maria, na zona sul de São Paulo. Segundo relato de um familiar, o jovem estava em uma festa de rua quando foi surpreendido pelas agressões.
“Bateu muito forte, não é drama nem nada. Parecia uma cena de terror pelas filmagens que nós conseguimos ver”, contou um familiar do motoboy. Ainda conforme o relato, o jovem estava no local participando de uma festa em frente a uma adega. A agressão teria ocorrido na rua Nogueira do Cravo por volta das 21h.
A Ponte teve acesso a vídeos que mostram a presença de policiais no local e o socorro prestado por moradores ao jovem. Uma das imagens registrou o momento em que uma viatura chega ao lugar, provocando uma correria [veja vídeo a seguir].
Segundo a família, o jovem aparece no vídeo em cima de uma motocicleta próximo à viatura. Na sequência, a filmagem é interrompida.
Em outro vídeo, é possível ver dois policiais fardados e com a câmera corporal próximos do jovem. Ele está segurando uma motocicleta e os agentes aparecem andando na direção de dois homens que aparentam discutir com os agentes. A família disse à Ponte que agressão teria começado neste momento.
Um terceiro vídeo mostra o socorro de moradores ao jovem que já estaria ferido. “Ele vai desmaiar”, “ele vai cair, gente”, dizem as pessoas que gravaram o vídeo. O motoboy aparenta estar se desequilibrando e é ajudado por um homem.
A imagem é interrompida e quando é retomada mostra os policiais junto ao jovem. É possível ouvir alguém perguntar: “você viu a polícia batendo na cabeça dele?”. Em outro momento é possível ouvir também alguém dizer: “então você não viu e você está falando que você não viu?”. Não é possível identificar os falantes.
Acidente de moto
A família relata que um morador pediu que os policiais socorressem o jovem, mas eles se recusaram. Ele foi encaminhado até uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) no Capão Redondo por esse morador, que fez o trajeto em uma moto.
Ainda conforme a família, os policiais teriam ido até o AMA e dito para o morador relatar que os ferimentos do motoboy era resultado de um acidente de trânsito com a motocicleta. A cena teria sido flagrada pela mãe do jovem.
Já na unidade, segundo a família, ele teve três convulsões e precisou levar pontos na cabeça, região onde teve mais ferimentos. O motoboy teve alta hospitalar na noite de segunda-feira (18/9).
As roupas que o motoboy usava no momento da agressão ficaram bastante ensanguentadas. O sangue também ficou na lataria da motocicleta, que o jovem usava para trabalhar como entregador de pizza.
A família aguarda um laudo médico para registrar um boletim de ocorrência. “A gente tá arrasado. Minha tia sentiu que estava perdendo o filho quando chegou no hospital, porque ela segurou ele enquanto estava tendo as convulsões”, conta um familiar.
Outro lado
A Ponte procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) solicitando uma entrevista com os policiais envolvidos e também questionando os seguintes pontos:
1) Por que os agentes estavam no local? Havia uma solicitação ou operação prévia que justificasse a presença?
2) Há registro da presença de viaturas neste local e horário citados no sistema da PM? Se sim, quantos policiais estiveram envolvidos e a qual batalhão eles pertencem?
3) Essa ocorrência foi informada à SSP pela PM ou a informação está sendo notificada via reportagem?
4) Nas imagens é possível ver dois policiais e notar a presença de câmeras nos uniformes que eles usam. Essas imagens serão solicitadas?
5) Foi instaurado algum procedimento interno para apurar a ocorrência?
6) Os policiais envolvidos na ocorrência foram até a AMA? Qual foi o motivo?
Não houve retorno até a publicação do texto. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo também foi procurada pela reportagem. Foi questionado o registro de atendimento do motoboy e se a presença dos policiais na AMA foi notificada. A assessoria da SMS informou que não repassa informações sobre pacientes.