PM terá de pagar R$ 7.590 e não irá preso por matar jovem sentada na porta de casa

A estudante Mara de Lima, de 19 anos, foi atingida em abordagem policial no bairro do Campo Limpo, zona sul de SP. Pena de um ano em regime aberto foi convertida em multa ao filho da vítima, que na época tinha 3 anos

A estudante Mara Oliveira de Lima, 19 anos, foi morta por um tiro da PM na porta de sua casa na zona sul da cidade de São Paulo | Foto: Arquivo pessoal

O soldado da Polícia Militar de São Paulo, Marcos de Meira Santos, foi condenado a um ano de prisão em regime aberto pela morte de Mara Oliveira de Lima, de 19 anos. A estudante foi baleada em fevereiro de 2021, na porta de sua casa, no bairro do Campo Limpo, zona sul da capital paulista.

O júri popular aconteceu nesta terça-feira (27/5), no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste da cidade. Os jurados entenderam que o policial não teve intenção de matar e, por isso, ele foi condenado por homicídio culposo. A pena estabelecida foi de um ano de reclusão em regime aberto.

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Contudo, o juiz Anderson Carlos Pontes de Souza converteu a pena em pagamento de indenização no valor de cinco salários-mínimos — o equivalente a R$ 7.590,00, conforme o valor atual — a ser destinado ao filho de Mara, Mattias, que na época da morte da mãe tinha apenas três anos. O magistrado também determinou que o policial poderá recorrer da sentença em liberdade.

Mara levou um tiro no peito e chegou a ser socorrida no Hospital do Campo Limpo, mas não resistiu aos ferimentos.

Flanilda Andrade, com a filha Mara Oliveira, 19, e o neto Mattias | Foto: Arquivo pessoal

Família contesta versão da PM

À época do crime, Marina Oliveira Cordeiro, irmã mais velha de Mara, relatou à Ponte que presenciou a ação da janela de casa. “Saí da janela e fiquei gritando a minha irmã porque achei estranho ela não entrar em casa. Eu fiquei desesperada, gritando o nome dela. Aí quando eu vi, minha irmã tava sentada, com a mão na barriga. Eu saí correndo e fui chamar a minha mãe. O menino não tava armado, só estava com o celular na mão”, contou.

Segundo o depoimento dado à Polícia Civil pelos PMs Marcos de Meira Santos e Oneilton Alves de Souza, os dois atendiam uma ocorrência quando avistaram um rapaz negro com “volume suspeito na cintura” e decidiram abordá-lo acreditando que ele estivesse armado. Marcos desceu da viatura, e o suspeito teria fugido para um beco, fazendo menção de sacar o objeto da cintura. O PM então efetuou três disparos, um dos quais atingiu Mara.

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Marina, no entanto, narrou uma versão diferente dos fatos: “Olhei pela janela, vi os policiais parando o carro, o passageiro desceu e foi na direção desse menino. O menino saiu correndo e o policial atirou. Minha irmã tava sentada na frente de casa. Eu vi o clarão, o barulho e a fumaça”, disse.

A mãe da vítima, Flanilda Oliveira de Andrade, também contestou a versão policial: “Meu marido viu que ele estava com um celular na mão e o policial, por ter interpretado que era uma arma, acabou com a vida da minha filha”, disse, em entrevista concedida à Ponte em fevereiro de 2022.

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Na época do crime, Marcos era lotado na 3ª Companhia do 16º Batalhão da Polícia Militar da capital, o segundo mais letal de São Paulo — com 88 mortes atribuídas a seus agentes somente em 2024.

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