Contrariando normas da própria corporação, PM usou balas de borracha para dispersar multidão durante protesto ontem (29/8) na Paulista
Na briga entre os brasileiros contra e a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), em debate nesta semana pelo Senado Federal, a Polícia Militar do Estado de São Paulo parece ter escolhido um lado.
Na noite de ontem (29/8), durante um protesto na avenida Paulista, em São Paulo, policiais militares fizeram um cordão de isolamento para proteger manifestantes pró-impeachment que permanecem acampados desde março na calçada em frente à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Ao mesmo tempo, ativistas que pediam a saída do presidente Michel Temer (PMDB) foram atacados com bombas de gás lacrimogêneo, cassetetadas e balas de borracha – disparadas fora das normas da corporação.
Convocada pelas frentes Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular, que reúnem diversas entidades contrárias ao governo interino, o protesto “Fora Temer – Não ao Golpe, Nenhum Direito a Menos” saiu da Praça do Ciclista, no final da Paulista, por volta das 18h.
Começou em clima de tranquilidade. Era uma marcha pequena, com pouco mais de 2 mil manifestantes, acompanhada à distância por dois grupos reduzidos de policiais. No meio da Paulista, quando a manifestação se aproximou do prédio da Fiesp, veio a surpresa. Os manifestantes descobriram que a chamada “tropa do braço” da PM havia feito um cordão de isolamento diante do acampamento verde e amarelo, pró-impeachment, e pretendia impedir a marcha de continuar pela avenida.
Houve discussão entre o comandante da PM e alguns manifestantes “Fora Temer”, os quais tentaram argumentar dizendo que o protesto era pacífico e não havia praticado depredações até aquele momento. A discussão terminou com os policiais jogando bombas sobre os participantes do protesto pró-Dilma.
Diante do acampamento da Fiesp, uma manifestante bateu boca contra uma outra mulher e as duas trocaram tapas. Nisso, um homem do grupo verde-e-amarelo se aproximou e desferiu vários socos na ativista pró-Dilma. Fotógrafos que testemunharam a agressão tentaram denunciar o crime para o comandante da PM, mas o policial se negou a ouvi-los e ainda ameaçou prender um deles.
Tentando impedir o avanço da Tropa de Choque pela avenida, manifestantes colocaram fogo em sacos de lixo e jogaram garrafas e outros objetos nos policiais. Policiais usaram bombas e balas de borracha para dispersar a multidão, atirando na direção de todos e atingindo manifestantes que não estavam praticando ações violentas. A ação desrespeitou as normas da própria corporação.
Pelas regras internas da PM, usar balas de borracha para dispersar manifestantes é um “erro” e os disparos só podem ser direcionados a um “agressor ativo, certo e específico”. As regras estão previstas no Procedimento Operacional Padrão (POP) 5.12, um documento que o governo estadual classifica como secreto, contrariando a Lei de Acesso à Informação.
Outro lado
A reportagem da Ponte entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública, gerida pela CDN Comunicação, e com a assessoria de imprensa da Polícia Militar. Ninguém respondeu.
Veja as perguntas que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) não quis responder:
1) Por que a PM protegeu os manifestantes diante da Fiesp e atacou o protesto “Fora Temer”?
2) Por que os manifestantes que estão acampados desde março na Paulista ganharam o direito de permanecer ali e outras manifestações não podem chegar perto deles?
3) Por que a PM usou balas de borracha para dispersar a multidão, atingindo pessoas que não estavam praticando agressões, se o Procedimento Operacional Padrão (POP) 5.12 afirma que é um “erro” usar as balas de borracha para dispersar manifestantes?