Segundo moradores da favela, na zona norte do Rio, disparos que mataram o trabalhador autônomo Manoel Lizandro Faustino, 46 anos, partiram de PMs

Intenso tiroteio envolvendo policiais militares do 41º Batalhão da Polícia Militar (Irajá), casas perfuradas de balas e profunda tristeza compõem o cenário da Favela de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (13/03), quando o trabalhador autônomo Manoel Lizandro Faustino, 46 anos, antigo morador da comunidade, foi atingido pelos tiros e morreu.
Seu Manoel da Carroça, como era conhecido na favela, estava fazendo mudança com a esposa, seu filho e sua filha, quando foi alvejado na rua Carlos, próximo à rua Bolonha, por volta das 11h da manhã, após cerca de quatro horas de tiroteio.

Os disparos que o atingiram partiram de PMs, segundo moradores, que também afirmam que os policiais os intimidaram para que se afastassem do corpo. “Um deles puxou a pistola e apontou pros moradores”, relata uma testemunha, que preferiu não se identificar.
O clima na favela é de revolta. “Ainda ontem estava no término do culto, no qual ele também estava, e ele dando pedaços de melancia para os membros da igreja. Muito triste isso, queremos paz. Mas um que se vai entrar para as estatísticas. Temos que ir para rua fazer barulho. Acari pede paz”, diz uma moradora.
“Seu Manoel era um morador antigo. Ele fazia vários trabalhos para sua sobrevivência e era conhecido por causa da carroça. Fazia diversos trabalhos inclusive para ajudar a comunidade. Fazia mudança, ajudava a pegar entulho. Ele era uma pessoa maravilhosa, entrava e saía de qualquer lugar, superconhecido na comunidade, querido pela favela inteira. É difícil, não sei nem o que dizer”, lamenta Buba Aguiar, integrante do Coletivo Fala Akari, defensora de direitos humanos e moradora de Acari.
Violações constantes em Acari
As violações de direitos humanos praticadas por PMs do 41° BPM, um dos mais letais do estado do Rio, em favelas da Zona Norte da capital fluminense são frequentes. No Complexo de Acari, as operações violentas fazem parte do cotidiano dos moradores, que vivem sob medo constante.
“A frequência dessas operações violentas aumentou e mostra cada vez mais que esse é o modo como o estado está disposto a se fazer presente nas favelas. Com o aumento de operações desse tipo, nós, defensores locais, também notamos o aumento das violações de direitos dos moradores, cada vez mais graves”, afirma Buba Aguiar.
Outro lado
Questionada pela reportagem sobre as circunstâncias em que Manoel Faustino foi morto, a PM enviou, por meio de sua assessoria de imprensa, a seguinte nota:
“De acordo com o comandante do 41ºBPM (Irajá), policiais militares foram acionados por pessoas da região devido ao encontro de uma pessoa já em óbito na Rua Bolonha, em Acari. Equipe policial isolou a área e a Delegacia de Homicídios foi acionada. O batalhão realizava operação nas localidades Amarelinho e Beira-Rio, em Acari, quando foram solicitadas para verificar o fato. Segundo os policiais, não houve registro de confronto nestes locais”.
A reportagem também procurou a Polícia Civil, cuja assessoria não respondeu, até a publicação desta matéria, às seguintes perguntas:
“Policiais da Delegacia de Homicídios da Capital (DH/Capital) instauraram inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de Manoel Liesandro de Castro, 45 anos. O corpo da vitima, morta a tiros, foi encontrado na tarde desta segunda-feira (13/03), na Rua Bolonha, no bairro de Acari.
A perícia foi realizada no local e as investigações estão em andamento para identificar a autoria do crime”.