Em documento enviado à Justiça, promotor acusa militares de perseguição forjada, roubo de armas e afirma que “uma sociedade civilizada não pode pactuar com esse tipo de ocorrência”
O promotor Hidejalma Muccio denunciou à Justiça Paulista 14 policiais militares da Rota, a chamada tropa de elite da corporação, pelas mortes de Hebert Lúcio Rodrigues Pessoa e Weberson dos Santos Oliveira, em 6 de agosto de 2015, em Pirituba, zona oeste de São Paulo.
Os policiais militares envolvidos nas duas mortes são Luis Gustavo Lopes de Oliveira, Erlon Garcez Neves, Renato da Silva Pires, Moisés Araújo Conceição, Luiz Fernando Pereira Slywezuck, Emerson Bernardes Heleno, Tiago Belli, Marcelo Antonio Liguori, Elias Sérgio da Câmara, Eduardo de Oliveira Rodrigues, Leandro Augusto de Souza, Marcos Gomes de Oliveira, Arthur Marques Maia e Tiago Santana Oliveira.
Na denúncia, Muccio afirma que “os crimes imputados são de extrema gravidade” e, por essa razão, os 14 PMs da Rota devem ficar presos preventivamente.
Todos foram denunciados por homicídio duplamente qualificado e fraude processual, já que forjaram uma perseguição e uma troca de tiros que, segundo as investigações, nunca aconteceu. As duas vítimas nunca tinham se visto na vida e umas delas, Herbert, foi levado de Guarulhos até Pirituba – uma distância de 29 quilômetros – para ser executado.
Além disso, o promotor Muccio afirma que as armas de fogo, pesadas e usadas para simular o tiroteio, jamais deveriam estar com os policiais militares. Há indicação, inclusive, de que essas armas podem ter sido arrecadadas por eles em outras ocorrências sem o devido registro delas (das ocorrências) e sem a efetiva entrega delas na Polícia Civil”.
Para justificar o pedido de preventiva dos PMs da Rota, o promotor ainda reforça que os policiais “plantaram armas de uso restrito junto aos corpos e no veículo que supostamente perseguiram. Chegaram a depositar no veículo Fiat, do ofendido Herbert, um explosivo próprio daqueles usados para roubos de caixas eletrônicos. Não há assim, ordem pública, com os réus em liberdade, que se mantenha incólume”, escreve.
“A sociedade civilizada não pode pactuar com esse tipo de ocorrência, mormente sendo os réus agentes do Estado, de quem se espera um maior comprometimento com a segurança e paz pública das pessoas”, conclui o promotor Hidejalma Muccio
À época, os policiais disseram que estavam realizando uma perseguição de um suposto carro roubado, com três ocupantes e que houve troca de tiros.
Na ocasião, a Ponte Jornalismo já trazia o relato de uma testemunha que desmentia a versão fantasiosa dos policiais militares.
Na versão dos PMs, essa testemunha seria o terceiro rapaz que estava no carro e que teria conseguido fugir.
Também em 2015, logo após o episódio, os 14 policiais ficaram presos administrativamente, por cinco dias por decisão da Justiça Militar, mas depois colocados em liberdade.
O advogado de defesa dos policiais, João Carlos Campanini, sustentou na época que o tiroteio foi legítimo e ratificou a versão dada em depoimento pelos envolvidos no caso.
A denúncia completa do promotor Muccio, do V Tribunal do Júri da Capital, pode ser lida clicando aqui.
Outro lado
A Polícia Militar de São Paulo foi procurada pela Ponte Jornalismo para se manifestar sobre a denúncia do Ministério Público. Até a publicação desta reportagem, a corporação não se pronunciou.