Ação da Polícia Civil e Exército na zona norte do Rio terminou com sete mortos; moradores relatam que policiais teriam invadido casa e disparado contra seis pessoas que estariam rendidas
O adolescente Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, foi morto nesta quarta-feira (20/6) com um tiro na barriga dentro da escola Ciep Operário Vicente Mariano, onde estuda, no Complexo da Maré, zona norte do Rio. Ele foi atingido por uma bala perdida durante operação da Polícia Civil em conjunto com o Exército. Desde fevereiro deste ano, o Rio de Janeiro está sob intervenção federal. Um levantamento divulgado pelo Observatório da Intervenção, criado para monitorar as ações das forças de segurança, aponta que o número de tiroteios aumentou 20% depois do decreto e 12 chacinas deixaram 52 mortos em todo o estado.
A morte de Marcos causou comoção na comunidade. Na madrugada desta quinta-feira, moradores da Vila do Pinheiro e do Morro do Timbau fizeram um protesto em repúdio à violência policial e chegaram a bloquear parte da Linha Amarela, na altura da Vila do João, segundo o jornal Extra.
O ativista e midialivrista Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, chegou a publicar um desabafo nas redes sociais: “Eu preciso gritar que hoje um adolescente de 14 anos foi atingido por um tiro, no Complexo da Maré e ele faleceu essa noite. Preciso gritar que a polícia, como os vários vídeos que compartilhamos hoje, chegou junto com o exército, com blindados e de helicóptero, novamente atirando”.
Outras seis pessoas também foram mortas dentro da favela. Segundo moradores, policiais teriam entrado em uma casa sem mandado e atirado todos. “Eles arrombaram e mataram todo mundo. Os meninos tinham se rendido, mas mesmo assim eles atiraram”, disse uma moradora que não quis se identificar por medo de represália. “Mesmo se fosse bandido, policial não tem esse direito de matar. Eles se renderam. Uma vida é uma vida”, completou.
O Hospital Federal de Bonssucesso informou que por volta das 11h desta quarta-feira, cinco homens com a idade aproximada entre 20 e 30 anos, com marcas de tiro, chegaram já mortos. Uma sexta pessoa chegou a ser levada ao Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu.
“Desde as 9h que eu estou aqui escondida sem poder sair porque está tendo muito tiro. Tem helicóptero, caveirão, policial a pé dando tiro. As ruas estão furadas, muita marca de tiro. Quando a gente acha que passou, eles voltam”, desabafou uma moradora. “A gente não merece isso”.
Nas redes sociais e nas páginas que monitoram casos de violência na comunidade, como Maré Vive e Redes da Maré, entre outras, moradores se manifestaram durante o dia todo. Em alguns comentários, relatos de que policiais teriam invadido casas, já que teriam entrado em muitas delas, ainda de acordo com os relatos, sem mandado. “Atiraram próximo das escolas. Crianças almoçando! Um absurdo. Existe mesmo direito à vida?”, escreveu um morador.
Segundo a Polícia Civil, agentes de segurança fizeram uma operação em conjunto com o apoio do Exército para cumprir 23 mandados de prisão. Um dos objetivos era encontrar suspeitos de envolvimento na morte do inspetor Ellery de Ramos Lemos, chefe de investigações da Delegacia de Combate as Drogas (DCOD), em Acari. Dessa vez eles entraram na favela às 9h “para evitar confronto na entrada das crianças nas escolas”, conforme declarou, em nota, a corporação.
Questionada sobre os seis homens mortos dentro de uma casa na Maré, a polícia informou que durante o cumprimento de mandados em duas residências, os agentes foram recebidos com “intensos disparos de armas de fogo” e que os “seis criminosos foram feridos e socorridos mas acabaram morrendo”.
Segundo o Fórum Basta de Violência, hospedado no site da ONG Redes da Maré, já são 59 marcas de tiros nas ruas da região da Nova Holanda.
De acordo com uma das representantes da ONG Luta Pela Paz, Juliana Tibau, moradores da favela contaram ter ouvido mais de 48 tiros apenas na rua onde ficam a maioria das escolas da comunidade. “A força de segurança mais uma vez usa helicópteros com disparos em operação, colocando a vida de toda população da favela da Maré em risco. Nós da Rio Pela Paz entendemos esse ato como inaceitável”, disse Juliana. “Testemunhamos a correria de muitas mães saindo na rua para resgatar seus filhos. Como as pessoas que não moram dentro de uma favela se sentiriam com um helicóptero atirando de balas de fuzil?”, completou.
A rotina de violência não é novidade para moradores da Maré. Em fevereiro deste ano, uma morte semelhante a de Marcos Vinicius também causou comoção na comunidade. Jeremias Morais, 13 anos, jogava bola em uma praça na Nova Holanda quando foi atingido, também durante uma operação, dessa vez da Polícia Militar. Em levantamento divulgado no início do ano, a ONG Redes da Maré aponta que, no ano passado, a região teve uma morte a cada 9 dias.
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