Entidade solicitou acompanhamento da Procuradoria-Geral da República para identificar se há correlação entre os casos de agressão contra mulheres, negros e LGBTs
Um grupo de advogados acionou a PGR (Procuradoria Geral da República) para federalizar os crimes com motivação político ocorridos no período das eleições no Brasil. A intenção é analisar se os casos estão interligados de alguma maneira, seja com relação ao perfil das vítimas, as suas coordenações ou na incitação.
Um levantamento inédito realizado pela Agência Pública em parceria com a Open Knowledge Brasil revela que houve pelo menos 70 agressões do início do mês até agora. A maioria feita por apoiadores do capitão da reserva do Exército e candidato pelo PSL, Jair Bolsonaro. São ataques como o que agressores desenharam uma suástica em uma mulher depois que ela estava dominada, no Rio Grande do Sul, tentativa de linchamento, agressões físicas, repressão em ambientes religiosos, como mostrados pela Ponte.
Há casos de ameaças, como o ocorrido com o casal Paulo Perondi e Jonathan Araujo, que ouviram de um motorista e três cobradores em um ônibus municipal de São Paulo: “Se Bolsonaro for eleito, não vai mais ter isso, vão matar os viados, as sapatões”. Há também uma situação em que a assistente de faturamento Raquel Lima foi julgada pela roupa que estava vestindo ao sair do metrô na capital paulista. “Quando eu passei por eles, um deles segurou meu braço esquerdo e começou a falar: ‘pelo jeito de se vestir deve ser feminista e esquerdista de bosta. Quando o dono do Brasil for eleito vocês vão estar com os dias contados.’ Eu senti muito medo”, contou Raquel, na semana passada, à reportagem da Ponte.
A ação do Cadhu (Coletivo Advocacia em Direitos Humanos) pede que a procuradora-geral da república, Raquel Dodge, tome três ações: criar uma operação entre as Procuradorias Regionais dos Direitos dos Cidadãos, um canal para que as pessoas denunciem as violências e proteção às pessoas ameaçadas.
“Solicitamos a federalização como forma de provocação e medida que é cautelar, para a PGR prestar atenção, reunir as informações antes que as PMs regionais tratem essas violências como qualquer outro episódio criminoso”, explica Eloísa Machado, umas das advogadas da ação.
Há registros de ocorrências no Ceará, Minas Gerais, São Paulo e Bahia. As ações são desde ameaças verbais, agressões físicas e até homicídios, caso do mestre de capoeira Moa do Katendê, em Salvador, assassinado com 12 facadas pelas costas por um apoiador de Jair Bolsonaro.
“Com tudo isso que está acontecendo, a Procuradora pode analisar de fato se teve onda que precisa ser enquadrada como uma grave violação de direitos humanos ou se fomos alarmistas demais. Acho que não, estamos em uma onda de ataques e que devem ter escalada neste segundo turno”, continua Eloísa.