Segundo testemunha, ação do ‘rapa’ aconteceu alguns dias depois que PMs passaram pelo local e ameaçaram ‘tacar fogo nos barracos’
Na última quinta-feira (17/1), pela manhã, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) retirou todos os pertences de moradores em situação de rua que estavam acampados na calçada da Siqueira Cardoso, na Mooca, zona leste de São Paulo. Até mesmo o skate que um menino de 5 anos tinha ganhado de presente de Natal teria sido levado. Segundo padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, ele estava na igreja no momento em que foi chamado pelos moradores quando os guardas civis estavam realizando a abordagem. Ao chegar, tanto o caminhão de lixo da prefeitura como as viaturas da GCM já estavam de saída. “Tiraram todos os pertences, roupas, objetos pessoais e documentos. E uma coisa que me chamou a atenção é que tiraram até mesmo o skate de um garotinho”, relatou. “Eles fizeram galhofa quando entraram na viatura, começaram a fazer aceno com as mãos. Eles me viram e saíram rapidamente”.
Uma das vítimas, Andrea da Costa Gomes, aparece em um vídeo ao lado de Lancellotti afirmando que a ação da quinta-feira aconteceu alguns dias depois de ameaças feitas por policiais militares. Ela é mãe do garoto que, segundo versão dela, teve o skate confiscado. “Na madrugada de segunda-feira, apareceu um PM, nos acordou e começou a ameaçar. Acendeu a lanterna, tava alterado. Começo a gritar que se a gente não tirasse tudo dali em três dias ia voltar e tocar fogo em tudo e na gente”, relata. “Ele viu que tinha uma criança ali, dormindo, e nem se importou. Ele mostrou o isqueiro e disse que tacar fogo”, segue. “A GCM não deixou a gente voltar para tirar as nossas coisas. Eles ameaçaram que ia voltar e voltaram”. Ainda de acordo com Andrea, a polícia estava com uma taser e deu choque em um morador. “Eu consigo identificar os dois policiais”.
Na sequência, Lancellotti diz que as ameaças são recorrentes e destaca que tanto PM quanto GCM, ou seja, administração estadual e municipal. “Vocês são responsáveis pela segurança e integridade das mulheres, das crianças, dos jovens e dos anciãos que estão nas ruas”, cobra padre Julio. O religioso informa que enviou o material ao Ministério Público de São Paulo.
Outro lado
A Guarda Civil Metropolitana de São Paulo negou, em nota, haver registro de ação na região na última quinta-feira (17/1). “A GCM esclarece que as equipes operacionais também não realizam abordagem de pessoas em situação de rua. O trabalho realizado pela GCM é sempre em conjunto com a subprefeitura quando realizam operações de zeladoria na cidade ou quando recebe algum tipo de solicitação”, diz a nota. Além disso, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) informou que, neste domingo (20/1), uma equipe técnica foi acionada e prestou atendimento no local e, das sete pessoas que estavam no local, uma aceitou acolhimento.
Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informa que, até o momento, a Corregedoria não recebeu nenhum relato sobre o ocorrido e reitera que toda reclamação deve ser formalizada no órgão.