Rodney Miranda, secretário de Segurança Pública de Goiás, fala sobre aumento de casos de morte em ações registradas como confronto contra a Polícia Militar
Publicada originalmente em O Popular
Após reportagem de O Popular que mostrou um aumento das mortes provocadas pela Polícia Militar de Goiás e a evidência de que mais de 36% dos casos de janeiro e fevereiro deste ano aconteceram dentro de casa, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, afirmou que o “aumento do poderio bélico” dos criminosos é um dos elementos que provoca uma reação mais violenta das forças de segurança.
No mês de fevereiro, o estudante Kayque Denúbio, 15 anos, foi morto dentro de casa, em Goiânia. O vizinho, o autônomo Guilherme Junio, 27, que estava no local, também foi morto. A PM registrou a ocorrência como confronto, mas a Polícia Civil chamou as mortes de execuções.
Um outro caso de repercussão no Estado foi o de Jefferson Alves Martins, 25 anos, morto na zona rural de Aragarças, 380 quilômetros de Goiânia, também em fevereiro. Policiais relataram terem sido recebidos a tiros no momento da abordagem. A vítima, porém, enviou gravações por WhatsApp para a mãe e a namorada, sem que os policiais percebessem, dizendo que havia sido preso, mas que esperava ser liberado logo.
Sobre os dois casos, Miranda os caracteriza como “sob suspeita” e diz que se comprovado algum excesso, será uma exceção. “As nossas corregedorias agiram com rigor”, declarou.
Confira entrevista com Rodney Miranda:
O Popular – Observando dados desde 2011, o ano passado foi o com maior número de mortes em confronto com a PM em Goiás. O número deste ano, de janeiro e fevereiro, já é 39% maior que o mesmo período do ano passado. O que gera esse aumento expressivo e constante de mortes em ações da PM?
Rodney Miranda – O aumento da periculosidade dos criminosos, o aumento do poderio bélico deles. É só ver a quantidade de fuzis, pistolas com kit rajada, e a ligação desses elementos com facções criminosas. A gente sabe que a ordem vem para cumprir. Se (eles) não cumprirem, tem retaliação contra eles e a família. É a lógica de funcionamento dessas facções criminosas, no Brasil todo. A gente sabe que as duas facções, tanto o PCC quanto o Comando Vermelho, estão disputando no Brasil inteiro a produção de droga no exterior. Então, a guerra está muito forte. O poderio bélico deles está muito forte. É só olhar o número de apreensão de armas e o tipo de armamento. Então, eles estão indo para o tudo ou nada. E os nossos policiais estão preparados. Não é um resultado desejado por nós (as mortes). No passado não era e nem agora é. Mas se houver agressão injusta, eles (policiais) estão preparados para responder, e estão respondendo. A nossa inteligência também tem funcionado muito bem. Temos conseguido inclusive ou nos antecipar ou confrontar no momento em que estão indo praticar o crime. É só ver a quantidade de explosivos apreendidos esse ano, que também é recorde. Esse número (de confrontos) não pode ser examinado isoladamente. E nem comparado com períodos anteriores. Tem que ser comparado com essas informações que eu te passei, com a produtividade. O que está sendo apreendido, as quadrilhas que estão sendo confrontadas – e todos eles, praticamente todos, com relação com facção.
O Popular – O senhor fala de antecipar os casos. Mas a maior parte das ações neste ano foram em casa, e destes, grande parte foi fruto de denúncias anônimas, não do serviço de inteligência.
Rodney Miranda – Eu não posso dizer quais são os nossos meios, até porque vou estar dando munição para criminosos. A inteligência não é só interceptação telefônica. Inteligência é produção de conhecimento. Disque-denúncia é uma face da nossa inteligência. E (o fato de ser) em casa é porque estão escondidos lá, ou após cometer crime ou se preparando para cometer crime. Ninguém foi confrontado desarmado, ninguém foi confrontado sem antes reagir. Tivemos dois casos sob suspeita, e nos dois casos as nossas corregedorias agiram com rigor.
O Popular – O senhor fala dos casos do Jeferson e do Kayque?
Rodney Miranda – Sim, e nós agimos com rigor. Os demais, todos, até que se prove ao contrário, foram plenamente justificados pela injusta agressão.
O Popular – Quando acontecem casos como esses citados não coloca em questionamento os outros casos de morte em confronto em que houve apenas o relato da PM, sem testemunha, sem nada?
Rodney Miranda – Não, de jeito nenhum. Quando acontece, a gente tem isso como exceções. Lógico – e aí é praxe das polícias -, os procedimentos de cada um desses casos são examinados e reexaminados, buscando sempre mais eficiência e buscando sempre evitar esse tipo de ação. Mas os levantamentos que são feitos não nos levam a dizer que foi erro de procedimento. Muito pelo contrário, nos leva a dizer sobre a agressividade dos criminosos, que está cada vez maior. É só ver a situação daquele “Novo Cangaço”. O terror de como eles agem em vários cantos do Brasil. Isso é quase um terrorismo.
O Popular – A gente sabe que em caso de flagrante a polícia tem toda a autorização de entrar em uma casa. Mas ela pode entrar com base em denúncia anônima, sem diligência anterior?
Rodney Miranda – Mas essa denúncia anônima é sempre precedida de alguma verificação. Ninguém sai chutando porta a esmo. O que a gente tem que fazer é preservar o sigilo da informação, sob pena de expor quem está nos informando. Denúncia anônima tem várias fontes. A polícia têm muitos informantes. Tem muito cidadão de bem que vive nessas comunidades. O aumento das denúncias é fruto também de uma maior credibilidade por parte dos policiais. O cidadão sabe que vai ter o sigilo preservado e que a polícia vai agir. Essas informações, lógico, passam por uma triagem. E eles (policiais) não vão só pelas denúncias. Eles cruzam com informações que nós já temos, veem os antecedentes das pessoas… Pode ver que essas pessoas que estão nos confrontos, acho que 99% delas têm passagem anterior. E passagens por crimes graves.
O Popular – Nós tivemos em fevereiro o caso do Kayque, e em 2017 tivemos o caso do Robertinho (Roberto Campos da Silva), um adolescente que também foi morto em casa. No caso dele, a ocorrência foi realizada por policiais do serviço reservado. Apesar de serem casos diferentes, a morte do Kayque mostra que esse tipo de ação continua acontecendo?
Rodney Miranda – Primeiro, essa é uma exceção, e eu acredito que em 2016 também tenha sido, até pela quantidade de policiais no Estado. Segundo, temos que analisar outros pontos também. Na semana passada, a Polícia Civil apreendeu pistolas e chegou a eles através da ação de um menor. Então, a gente também não pode minimizar o grau de periculosidade desses adolescentes. Já vi várias vezes quadrilhas sendo chefiadas por menores. Então, são fatos isolados em cima de uma regra, de uma produtividade excepcional que as polícias estão tendo esse ano. Estão evitando muitos crimes; evitando mais crime do que qualquer outro tipo de sentido que possa se dar a essas ações. Estamos protegendo a sociedade que é, graças a Deus, constituída em sua maioria absoluta por pessoas de bem. Estou muito satisfeito de estar na secretaria também pela qualidade da tropa que nós temos.
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