Um dos jovens foi executado por PMs na zona sul da cidade de São Paulo. O outro desapareceu após abordagem policial em Salvador (BA). Indícios apontam que os dois rapazes não reagiram quando foram abordados
Duas mães brasileiras não tiveram o que comemorar no Natal deste ano. Uma, na periferia de Salvador (BA), a outra, no extremo sul da cidade de São Paulo (SP). Seus filhos, Davi Fiuza, de 16 anos, e Thiago Vieira da Silva, de 22 anos, foram vítimas de PMs (policiais militares). Diversas provas apontam que ambos eram inocentes e não reagiram às abordagens feitas por agentes dos Estados baiano e paulista.
Davi Fiuza está desaparecido desde o dia 24 de outubro. Várias testemunhas viram o jovem sendo abordado por PMs, encapuzado e jogado dentro de um carro descaracterizado no bairro de São Cristóvão, próximo ao aeroporto internacional de Salvador. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) da Bahia jamais se pronunciou sobre o caso, apesar da pressão feita por movimentos sociais e pela mãe do garoto, Rute Fiuza. A Corregedoria da PM afirmou que investiga o caso.
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No dia 9 de dezembro deste ano, no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, Thiago Vieira da Silva foi atingido com 10 tiros disparados por dois PMs, mesmo já estando rendido, sendo que, depois do primeiro tiro ele já havia desacordado. Apesar de um vídeo ter flagrado a execução, a SSP de São Paulo afirmou que o rapaz era um traficante e trocou tiros com os policiais. Todos os moradores da região desmentem a pasta. A Ponte foi ao local em 10 de dezembro e só encontrou marcas de tiro em um lado da rua.
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Rute Fiuza, que tem mais quatro filhas, vive com uma mistura de sentimentos, que passa pela dor da perda e pela esperança de ainda reencontrar o filho. A mãe de Thiago, que não será identificada por motivos de segurança, perdeu seu filho único. Após os policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho serem afastados depois de identificados como os autores da execução, a mãe tem, além da dor pela perda, o medo de uma nova ação da PM no bairro.
“Famílias se reunindo. Ceia e alegria. ACM Neto [prefeito de Salvador], Jaques Wagner [governador da Bahia e futuro ministro da Defesa] com certeza ficaram com seus familiares. Até a presidente Dilma deve ter participado da ceia com sua filha única e netinho. E eu? Estou aqui, sendo obrigada a fingir uma situação normal. Passar o primeiro Natal sem o meu filho foi a pior experiência da minha vida. Tenho que ser forte. Tenho que diluir esse nó, entalado na minha garganta”, afirmou Rute Fiuza.
“Minhas irmãs e minhas vizinhas me chamaram para passar o Natal com elas. Eu decidi tomar o meu remédio para dormir e passei sozinha, em casa. Não existe mais datas especiais para mim. Todas as datas serão iguais agora, porque ele nunca mais estará comigo”, afirmou a mãe de Thiago.
Ela disse que no dia do assassinato Thiago trabalhou de manhã, na padaria do pai, e depois foi ao shopping comprar um tênis para passar o Natal com a família. “Ele sempre foi trabalhador. Nunca foi traficante e jamais sequer tocou em uma arma. Meu menino sempre foi maravilhoso e querido por todos”.