Vídeo mostra PM escoltando veículo suspeito de envolvimento em assassinato

    Segundo testemunhas, Juan Oliveira Ferreira, 16 anos, foi executado por policial civil; autor da morte chegou em uma caminhonete branca, a mesma que teria sido escoltada por PMs

    Um vídeo a que a Ponte Jornalismo teve acesso mostra uma caminhonete branca sendo escoltada por duas motos da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) e uma viatura da Polícia Militar no Jardim Elba, zona leste da cidade de São Paulo, na noite de quinta-feira (21/5). Um veículo como esse teria sido usado por um policial civil que, na mesma noite, segundo testemunhas, invadiu uma casa na favela e executou um jovem de 16 anos, Juan Oliveira Ferreira, diante de sua família.

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    Testemunhas do crime, ouvidas pela Ponte, disseram que a caminhonete que aparece no vídeo é similar àquela que o suposto policial civil teria estacionado diante da casa da família antes do assassinato de Juan. “É esse [veículo] mesmo”, disse a testemunha.

    A diarista Alessandra Ramos, 32 anos, mãe de Juan, conta que servia o jantar para os filhos quando um homem de camiseta preta e calça jeans invadiu a casa, apontou a arma para Jean e o matou.

    A mulher explica que ele se identificou como policial civil quando PMs chegaram ao local e o cumprimentaram. Em seguida, teriam negado socorro ao rapaz.

    “O policial deixou meu filho morrer na cozinha da minha casa. Foi malvadeza”, afirma. “Mataram ele na frente dos irmãos. Não me deixaram socorrer. Ficaram dentro de casa, mexeram nele. Ficaram mais de uma hora com ele lá dentro, não chamaram o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] para resgatar.”

    Alessandra diz que tentou falar com o suposto policial, mas ele ameaçou dar “um monte de tiro” caso ela não se afastasse.

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    A Ouvidoria da Polícia de São Paulo acompanha o caso. À Ponte, o ouvidor Elizeu Soares Lopes disse que acompanha as investigações e pedirá explicações às polícias Civil e Militar sobre a atuação no Jardim Elba. “Precisa de apuração rigorosa”, afirmou.

    O ouvidor falou com a família na noite do crime. “A situação está quente, eles precisam de tempo. Vamos ouvi-los”, resumiu.

    Motos da Rocam passam, seguidas pela caminhonete e outra viatura da PM | Foto: Reprodução

    O caso é acompanhado pela Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, que dá suporte à família de Juan. Além deste caso, o coletivo busca contribuir na denúncia de outras violências policiais na periferia em meio ao coronavírus.

    Para tal, a Rede criou uma campanha de denúncia por meio de um formulário (acesse clicando no link). “O pedido de isolamento social não autoriza o uso arbitrário da força contra a população e a quarentena não torna impunes os crimes cometidos por agentes estatais durante a calamidade pública”, defende o grupo.

    A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, do governo João Doria (PSDB) e a Polícia Militar sobre a atuação no Jardim Elba. De acordo com a pasta, Jean morreu em uma tentativa de abordagem, pois era suspeito de ter praticado um roubo no dia 21 de abril.

    “Na tentativa de abordagem, houve troca de tiros e o menor foi atingido. Ele foi socorrido ao Hospital Sapopemba, onde morreu”, sustentou a secretaria. O caso é investigado pelo 2º DP de Santo André.

    Em entrevista por telefone, dona Alessandra informou que o policial civil que teria invadido sua casa e matado Juan falou aos policiais militares que integrava justamente o 2º DP do município vizinho.

    Outra morte: protesto e bomba

    A um quilômetro e meio da casa onde Juan foi morto, um outro jovem, Gabriel Silva Dantas, 18 anos, foi assassinado, também por um homem à paisana, no início da madrugada de quinta-feira, na Avenida do Oratório, no Jardim Alzira.

    Segundo relato de moradores, o jovem estava em uma praça junto de outros amigos no fim da noite de quarta-feira. Um veículo Chevrolet, modelo Meriva, de cor prata, parou próximo ao grupo. Um homem desceu e efetuou disparos em Gabriel, que tentou fugir em sua bicicleta, mas foi atingido.

    De acordo com o governo paulista, Gabriel foi socorrido ao Hospital Sapopemba, onde deu entrada às 1h40 e morreu. A pasta afirma que o 70º DP (Sapopemba) é responsável por investigar a morte.

    Na tarde de quinta-feira, a população do Jardim Elba se manifestou pela morte de Gabriel. Eles fizeram um ato que parou a Avenida do Oráculo e, posteriormente, sendo reprimidos por policiais militares. Moradores denunciam que duas pessoas foram atingidas por disparos de bala de borracha.

    Após a ação, policiais da Tropa de Choque e da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) entraram em uma favela do Jardim Elba e iniciaram ação. Foi após esta ação que Juan foi morto. O local das mortes são distantes cerca de 1 quilômetro e meio.

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