Nos últimos anos, extremista bolsonarista realizou palestras no país com apoio de autoridades; militantes apontam que isso motivou ataques contra comunidade LGBT+
Entre 2017 e 2019, Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter, realizou diversas palestras contra o feminismo e os direitos LGBT+ no Paraguai. A primeira delas foi a convite de grupos conservadores do país, em 2017, quando Sara chegou a dar uma aula magna na Universidad Católica de Asunción e uma palestra na Universidad Nacional del Este.
Atualmente conhecida por ser ferrenha defensora de Jair Bolsonaro, Sara, que tem seu nome inspirado em uma militante nazista inglesa que foi espiã do regime hitlerista, iniciou publicamente sua cruzada contra o feminismo em 2013. Na época, ela rompeu com as companheiras do Femen Brasil. Uma das militantes, Bruna Themis, chegou a dizer que Sara era “autoritária e nutria simpatismo pelo nazismo”, como destaca o perfil Diversxs Alto Paraná, em um fio no Twitter, que resume as aventuras de Sara no Paraguai. Ela mesma admitiria que aos 15 anos teve contato com grupos neonazistas e algumas ideias a agradavam.
A bolsonarista Sara Winter está presa desde o dia 15 de junho, quando foi capturada pela Polícia Federal, após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que atendeu a um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). Ela está implicada em um inquérito que apura manifestações antidemocráticas de rua, com amplo ataque a instituições, pedidos de intervenção militar, fechamento do Congresso e do STF. Sara também foi alvo de busca e apreensão por causa de outra investigação que apura a propagação de fake news.
Semanas antes disso, Sara havia se colocado como uma espécie de líder e porta-voz de um grupo chamado “300 do Brasil”, que acampou em Brasília em apoio ao presidente. Em maio, ela chegou a declarar que havia armas no local, como noticiou a BBC Brasil.
Sara está detida no Presídio Feminino do Distrito Federal e chegou a direcionar, em vídeo, ameaças a Alexandre de Moraes. Quando a prisão foi cumprida, seu séquito chegou a lançar rojões na direção do STF provocando manifestação pública de repúdio de alguns ministros.
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Na Universidad Nacional del Este, Sara deu uma entrevista dizendo estar muito feliz com a palestra intitulada “O feminismo e a destruição moral e ética das mulheres”, já que no Brasil era muito difícil ela ser recebida em universidades.
Suas falas em solo paraguaio tiveram apoio de políticos, como a vereadora Sandra Miranda, e outras autoridades, como o vice-presidente da Associação de Instituições de Ensino de Gestão Privada do Alto Paraná (AIEPAP), Martín Núñez. Em suas visitas ao país vizinho, Sara chegou a dar palestras contra a “ideologia de gênero” para crianças em escolas.
Em 2019, Sara voltou a palestrar no Paraguai. Em setembro, a comunidade religiosa da cidade de Hernandarias, no estado de Alto Paraná, atacou uma marcha LGBT+ local. Segundo a Agência Presentes, o ataque foi violento. Os militantes foram alvos de pedras, gritos, insultos, cruzes e rosários. As vítimas alegaram que os ataques foram influenciados pelas palestras de Sara Winter, como informou o portal de notícias paraguaio El Surtidor.
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Como resposta aos ataques, a comunidade LGBT+ do Alto do Paraná decidiu fazer um festival. A reação dos conservadores foi chamar Sara Winter para uma palestra. Desta vez, até o prefeito de Hernandarias, Ruben Amancio Rojas, participou da palestra.
Durante o festival, Sara segurou cartazes contra os direitos LGBTs e deu entrevistas para a mídia local dizendo que os organizadores queriam doutrinar e sexualizar crianças com as “ideologias” LGBTs.
Um dos participantes dos ataques ao festival foi o vereador Celso Mirada “Kelembu”, de Ciudad del Este. Por conta das ações violentas e ameaças de grupos anti-direitos, os participantes do festival foram escoltados pela polícia para uma área segura.
Outro lado
A reportagem acionou os telefones dos advogados Bertoni Barboza de Oliveira e Renata Tavares das Neves, que atuam na defesa de Sara Winter, cadastrados no CNA (Cadastro Nacional dos Advogados) da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), mas não obteve sucesso até a publicação da reportagem.
Ao Uol, neste sábado (20/6), a defesa de Sara enviou uma nota afirmando que a prisão da cliente fere a liberdade de expressão. “Há uma clara narrativa do Ministério Público Federal em tornar a liberdade de expressão como ato antidemocrático, envolvendo Sara Winter e os 300 do Brasil”.