Jovens negros denunciam ação da PM contra família à Corregedoria

    Policiais jogaram bomba em casa com crianças e bebê, e um dos homens perdeu três dentes ao ser atingido por bala de borracha; vítimas relatam ameaça dos PMs

    Marca do disparo dois dias após a agressão | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Dois jovens negros agredidos por policiais militares em ação na Água Funda, zona sul de São Paulo, na última quinta-feira (18/6), denunciaram a violência na Corregedoria da PM.

    O termo, assinado no sábado (20/6) por Isaac Gabriel, detalha como os PMs chegaram e agrediram sua família. Ele levou um tiro de bala de borracha no ombro, enquanto os policiais acertaram disparo na boca do irmão dele, que perdeu três dentes.

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    Segundo seu depoimento, os policiais jogaram bombas dentro da casa, mesmo sendo avisados da presença de crianças e até mesmo um bebê no local. Um dos jovens detalhou que, antes de serem alvejados, os dois ainda foram agredidos com golpes de cassetete quando tentavam entrar em sua casa.

    A dupla vendia espetinhos de churrasco na rua quando policiais chegaram para atender ocorrência de aglomeração, segundo informado pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo à Ponte.

    Isaac relembra ter sido atingido pelo disparo de bala de borracha a menos de dois metros de distância do policial. Seu irmão relatou que o PM que disparou as balas de borracha era branco, gordo e de cabelos grisalhos. Ele foi baleado ao tentar defender Isaac e, além do tiro que o atingiu na boca, levou outro na região genital.

    As normas da PM definem que o uso de munição de elastômetro, um armamento considerado menos-letal, deve ser com distância de 20 metros e em direção às pernas da pessoa, conforme revelado pela Ponte em 2014.

    O jovem negro detalha que um PM o agarrou pelo pescoço, algemou no chão e o encaminhou ao Pronto Socorro. Lá, conta, levou um tapa no rosto. “Ao chegarem ao pronto socorro, [o PM] o ameaçou antes da ocorrência ser apresentada na delegacia lhe dizendo ‘vou te pegar na rua e sumir com você'”, afirma no depoimento à Corregedoria.

    Moradores coletaram estojos de balas de borracha no quintal | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    A família identificou dois PMs na ação: os soldados Nóbrega e Valezin, inicialmente chamado de “Variza” pelas vítimas.

    “Falaram um monte de coisa, ficaram dando risada. Disseram que se voasse mais sangue da boca dele iam arrancar a cabeça dele, que iam pegar a gente na rua…”, relata Isaac.

    No DP, a conversa ficou mais tensa. O policial Nóbrega tentou se justificar à família, conforme gravação (ouça acima). No entanto, em determinado momento ele desistiu das justificativas. “Da próxima vez que jogarem pedaço de madeira vou revidar com tiro”, afirmou o PM.

    Um dos homens perdeu três dentes ao ser atingido | Foto: Arquivo/Ponte

    O policial ainda fez pouco caso quando uma das mulheres que estava na casa criticou o fato de apenas os dois negros terem sido agredidos, enquanto o primo branco e loiro saiu ileso. “Você está colocando desculpa na cor de pele”, respondeu o PM.

    A Ponte questionou a SSP sobre o depoimento das vítimas na Corregedoria, além de solicitar entrevista com os policiais envolvidos, e aguarda uma resposta.

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