Dois policiais foram filmados sufocando rapaz em Ibaté, interior de SP, e população alertou: “vão matar o cara enforcado”; cena lembrou caso de George Floyd
Dois policiais militares tentam imobilizar um homem. Um deles dá uma gravata (golpe de ataque com os braços no pescoço do alvo) e aperta para fazer o homem se render. “Não pode enforcar, ele vai desmaiar!”, grita uma mulher, em desespero.
O caso aconteceu na última terça-feira (23/6) no bairro Jardim Icaraí, na cidade de Ibaté, próxima a Araraquara, no interior de São Paulo, e distante 247 quilômetros da capital paulista.
Leia também: PM sufoca homem negro até ele desmaiar e lembra ação que matou George Floyd nos EUA
As imagens mostram os dois policiais em cima do homem. Ele não dá sinais de que esteja resistindo à prisão, mas, ainda assim, recebe o golpe para ser desmaiado.
“Vão matar o cara enforcado”, insiste uma mulher. “Ele está ficando roxo, ficando preto”. A mãe da vítima tenta falar com os policiais e impedir o golpe, mas leva um tapa.
“Tira a mão de mim”, gritou o PM que golpeia o homem. Em seguida, deu um tapa na mão da mulher. Na sequência, o policial derrubou o homem no chão e seu parceiro tentou algemá-lo.
A população se revolta ao ver a abordagem policial. “Tem que prender e algemar, mas não pode enforcar, não. O errado é só o cidadão depois”, critica uma mulher ao registrar as imagens.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo Doria (PSDB), as cenas aconteceram durante a prisão de um homem foragido.
A pasta explica que o homem estava em um carro quando foi abordado e que teria tentando fugir, motivando a ação dos policiais.
Leia também: Promotor relaciona pobreza com aumento de mortes pela PM
“Quando solicitado para que desembarcasse do automóvel, o procurado tentou fugir correndo, mas foi contido pelos agentes, sendo necessário o uso de força proporcional para a conclusão da detenção”, defende a secretaria.
A nota enviada à Ponte explica que, depois da prisão, os PMs o levaram para a delegacia da cidade, onde registraram ocorrência de prisão de foragido.
A reportagem pediu análise do vídeo ao tenente-coronel Adilson Paes de Souza, aposentado da PM paulista. “Tudo errado”, definiu. “Por que agiram assim? Imobilizou, algema. Simples assim. Se está no solo, mais fácil ainda. Mãos para trás e algema, não acontece nada mais”, explica Souza.
O policial aposentado diz que o caso é agravado pela morte de George Floyd, homem negro americano asfixiado por um policial branco nos Estados Unidos, e pelo caso recente dos PMs que deram um golpe idêntico e desmaiaram um homem em Carapicuíba, na Grande SP.
“Mesmo com todos esses fatos estão fazendo abordagens da mesma maneira. Um absurdo”, afirma. “Nunca vi uma época com a polícia cometendo tantos erros graves assim. É uma coisa que causa preocupação imensa e espanto”, lamenta.
Nesta semana, o governador João Doria anunciou o retreinamento de policiais militares como forma de coibir abusos e diminuir a letalidade policial. Movimentos sociais veem mera tentativa do político em se desvincular de abusos.
Adilson é cético em relação à iniciativa. “Não é com reciclagem de oficial que vai chegar nesse ponto”, diz. Segundo ele, falta definir quais os pontos a serem aprimorados. E, para isso, é necessário estudar.
“Com base no que chegou-se à conclusão que é falta de comando? Tenho certeza que há problema aí, mas não creio que seja o problema único e mais grave”, pondera. “Quais fundamentos técnicos embasaram a medida? Será inócua”, critica.