Após campanha #SinhaLivre nas redes sociais, Wilton Oliveira da Costa deixou presídio neste sábado (4/7); ele foi preso em maio por um crime ocorrido em janeiro de 2018
Cheia de emoção, a família de Wilton Oliveira da Costa, 33, conhecido como Sinha, pode abraçá-lo novamente. “A gente fica feliz e ao mesmo tempo muito revoltada porque meu marido ficou 54 dias presos por ser parecido com o assaltante”, declarou a boleira Marcelle Oliveira de Souza, 30, esposa de Wilton.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu a liberdade provisória ao professor de futebol nesta sexta-feira (3/7) após uma intensa campanha nas redes sociais com a hashtag #SinhaLivre. Wilton deixou o Presídio Ary Franco, no bairro de Água Santa, considerada a pior prisão em tempos de coronavírus do Rio de Janeiro, na manhã de sábado (4/7). Ele foi preso em maio deste ano acusado de ter cometido um roubo em janeiro de 2018, com base em um reconhecimento irregular por foto. Além disso, a família aponta que o GPS do celular dele indicava que ele estava em casa na hora do crime.
O juiz Marcel Laguna Duque Estrada, da 36ª Vara Criminal, argumentou que “inexistem razões legais” para a prisão tendo em vista que Wilton tem bons antecedentes e que a única justificativa foi o depoimento da vítima ao afirmar que ele era “parecido” com o assaltante.
Cria da Favela Novo Engenho, Wilton estava no penúltimo ano do curso de Educação Física e dava aulas de futebol para crianças no Morro do Encontro, no Complexo do Lins, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Amigo de infância de Sinha, o servidor público Yghor Barros, 28, afirma que, apesar do alívio, a demora da concessão da liberdade mostra que “a Justiça é classista e racista”. “Se você é preto e pobre, você é culpado até seus familiares e amigos consigam fazer uma mobilização e montar um dossiê para provar sua inocência, invertendo o ônus da prova”, declara.
Para Yghor, o processo também não terminou. “A nossa luta agora é para que ele seja inocentado de fato porque só após a nossa pressão e os advogados terem acionado a Corregedoria [Geral de Justiça], o juiz pediu acesso ao inquérito policial”, aponta.
Ele se refere a uma reclamação que a defesa de Wilton fez à Corregedoria Geral de Justiça requerendo reanálise dos autos, já que a família acredita que o professor de futebol foi confundido com o irmão. “Com isso, nós conseguimos uma reavaliação da prisão junto ao juiz competente”, explica o advogado Reinaldo Máximo.
“Ele sempre foi trabalhador e sempre lutou para dar outra perspectivas para os jovens da comunidade através do esporte. A gente sempre soube que ele é inocente”, complementa o amigo de infância.