Mortes aconteceram na Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, este ano; “parece que nossa vida não vale nada”, diz mãe de Igor, uma das vítimas
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“O que mais dói é que ninguém faz nada, meu filho não era bandido, parece que porque a gente é pobre e da periferia, a nossa vida não vale nada”, lamenta a manicure Ana Paula Bernardo, 45 anos, após quatro meses sem resposta sobre o assassinato do filho Igor Bernardo dos Santos, 17, morto a tiros no bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste da capital paulista.
Ela e outras mães que tiveram os filhos mortos na região neste ano se uniram no protesto “Vidas Pretas Importam”, coordenado por diversos movimentos, para pedir fim ao extermínio da juventude negra e periférica neste sábado (4/7).
Com cartazes pedindo justiça, outros com nomes de jovens também vítimas de violência policial, os manifestantes se concentraram por volta das 13h na Praça do 65, na avenida dos Metalúrgicos.
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De acordo com a militante Katiara Oliveira, da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, o objetivo é dar visibilidade aos casos para que não fiquem impunes. “É preciso mostrar para as famílias que eles não estão sozinhos, eles precisam expressar a voz, fazer as homenagens, mostrar a saudade, a indignação e a revolta. Tá na hora de dizer basta! Chega de ficar enterrando jovens”, afirma.
A morte de Igor aconteceu no mesmo dia de outras duas, a apenas quatro quilômetros de distância: dos adolescentes Felipe Santos Miranda, 18, e Brayam Ferreira dos Santos, 16, em março deste ano, que também foram lembrados na manifestação. Na época, testemunhas relataram à Ponte o mesmo modo de ação dos atiradores nos três casos: homens em uma moto preta, modelo Honda GC 300 chegam, o garupa finge ser um assalto e, antes de as vítimas entregarem seus pertences, saca a arma e atira.
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Desde então, moradores do bairro relatam sensação de medo e de impunidade, com receio de que mais ataques aconteçam. “Eram meninos que não deviam para ninguém. A gente já estava arrumando documentos para carteira de trabalho dele porque ele queria muito trabalhar”, lembra Ana Paula, mãe de Igor.
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Em junho, outro jovem, de 18 anos, Matheus Kaique, também foi morto. Segundo a irmã dele, o rapaz foi seguido e morto por policiais. “A polícia oprime muito e acha que pode tirar a vida dos jovens pretos. Hoje as pessoas estão protestando contra isso”, declarou.
O protesto também destacou que, mesmo com a pandemia do novo coronavírus, a violência policial não deu trégua. A Ponte mostrou que, mesmo na quarentena, a Polícia Militar foi responsável por 262 mortes de março a maio de 2020, 17% a mais do que no mesmo período do ano passado.
“É inegável que a violência se concentra nas periferias”, pondera Elaine Mineiro, da Uneafro. “Na Cidade Tiradentes, desde o começo da pandemia, tem aumentado o policiamento ostensivo e assassinatos inexplicáveis, mas na verdade quem mora na quebrada sabe o motivo”, referindo-se ao racismo na corporação.
Os presentes seguiram em caminhada até o terminal de ônibus do bairro. Durante o trajeto, alguns policiais que acompanhavam o protesto estavam sem identificação na farda, o que contraria o Regimento da Polícia Militar.
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Para o advogado e conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana) Ariel de Castro Alves, a falta de identificação pode dificultar a punição em casos de abusos. “Os que não usam a identificam, demonstram que estão mal intencionados. E há premeditação para cometerem abusos e não serem identificados”, analisa.
A reportagem mostrou as imagens ao ouvidor da Polícias do Estado de São Paulo, Elizeu Lopes. “Vamos pedir explicações ao Comando Geral da PM e a Corregedoria sobre procedimento que a rigor deveriam todos estarem com as devidas identificações”, garantiu.
O que diz a SSP
Questionamos a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública sobre o andamento das investigações dos casos citados e sobre a ausência de identificação de policiais.
Em nota, a InPress, assessoria de imprensa terceirizada da SSP, informou que a PM atuou “para garantir o direito à manifestação e a segurança de todos” e que a imagem do policial sem identificação foi encaminhada ao Comando da região “para que seja devidamente analisada e adotadas as medidas cabíveis”.
Com relação às investigações, a pasta afirmou que não é possível pesquisar sobre o andamento “pois os cartórios das delegacias de polícia não funcionam nos finais de semana”.
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