Mesmo com imagens que mostram abordagem a Silvana de Souza em Mafra (SC), inquérito aponta que “não há indícios de prática de crime na conduta dos PMs”
As imagens que mostram quando a costureira Silvana de Souza, de 39 anos, leva uma rasteira e é agredida por um policial militar durante uma abordagem viralizaram em março, um mês depois da ocorrência acontecer no interior de Mafra, no Planalto Norte de Santa Catarina. Para a investigação da Polícia Militar, no entanto, a ação foi legítima e os policiais que aparecem na gravação nada fizeram de errado.
O inquérito instaurado para apurar a conduta dos soldados Diogo Cisczweski, Fabio Renato Marques, Ary de Freitas Neto, Marcos Furtado, Guilherme Adolfo Machado e Jorge Walter Neto demorou pouco mais de 120 dias para ser concluído. O policial que aparece nas imagens derrubando Silvana é o soldado Jorge Walter Neto.
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Embora o vídeo mostre com nitidez o momento em que Silvana é derrubada, sem oferecer resistência alguma, a conclusão da apuração militar foi de “não haver indícios da prática de crime militar na conduta dos policiais militares, bem como pela inexistência de indícios de transgressão disciplinar”.
A investigação foi concluída e encaminhada à Justiça no dia 22 de junho e o coronel Zelindro Ismael Farias pediu o arquivamento dos autos. Silvana machucou o rosto na queda e, no vídeo, é possível ver e ouvir a perna da costureira quebrando.
Ela teve que passar por cirurgia para colocação de 13 pinos para corrigir fraturas na tíbia e na fíbula. Ainda existe a possibilidade de um novo procedimento cirúrgico caso a cicatrização do osso não tenha evoluído até a próxima consulta médica, marcada para 5 de agosto.
“A sensação é de injustiça porque a vida deles não mudou em nada, eles continuam trabalhando normalmente. A vida deles continua normal e a minha parou. É constrangedor”, lamenta a costureira.
Ela admite que se exaltou e xingou os policiais durante a ocorrência, mas questiona o resultado da investigação, uma vez que, em nenhum momento, ofereceu risco à integridade dos soldados. “Eu assumo meu erro porque xinguei, falei coisas que não deveria ter falado, mas ele não poderia ter agido daquele jeito. Eles estão aqui para proteger, fazem as coisas erradas e a Justiça acha que agiram certo. Eles deveriam pagar porque foi errado. Eu esperava que a justiça fosse feita. Que tristeza”, diz.
No dia da ocorrência, Silvana foi presa em flagrante por desacato e o delegado Nelson Vidal, que estava de plantão no momento, afirmou que não teve acesso às imagens que se tornaram públicas um mês depois. Segundo ele, a testemunha – que é irmã de Silvana – optou por não ceder o vídeo após ser instruída pelo advogado. “Ela tem o direito de não produzir provas contra si mesmo e, como eles haviam xingado os policiais, ela optou por não ceder”, disse.
A Polícia Militar de Santa Catarina respondeu por meio de nota oficial afirmando que o processo é sigiloso e que não irá se manifestar sobre o caso, ressaltando, ainda, que o inquérito foi enviado no dia 22 de junho. Já o comandante da Guarnição Especial de Mafra, Marcelo Pereira, disse que não gostaria de se manifestar sobre o assunto.
O inquérito foi encaminhado à Vara de Direito Militar que direcionou o procedimento para a 5ª Promotoria de Justiça no dia 2 de julho. O Ministério Público tem até o dia 20 de julho para se manifestar a respeito, podendo acatar o pedido de arquivamento, solicitar novas investigações ou, ainda, denunciar os envolvidos.
A reportagem tentou entrevista com os envolvidos via assessoria de imprensa e via comando da Guarnição, mas até o momento não obteve resposta.