Depois de pedirem que seus colegas de trabalho não façam gravações de policiais em ‘situação constrangedora’, agentes lançam a ‘Operação Silêncio’ e exigem que policiais não falem mais com jornalistas
Depois de policiais terem feito campanha no Facebook e por meio do Whats App para que agentes em “situação constrangedora” não fossem filmados, uma nova campanha começa a ganhar força nos grupos restritos da rede social e do aplicativo. Batizada de “Operação Silêncio”, a campanha pede para que nenhum policial dê entrevistas à imprensa.
O “slogan” criado para a campanha é: “Policiais que se valorizam exigem respeito e não dão entrevista”. Um policial militar que age na zona leste de São Paulo, e que pediu para não ser identificado, afirmou que a ação começou a se espalhar nesta segunda-feira (23/2). “É uma forma da gente se precaver, porque muitas vezes distorcem as ações policiais. Colocam a gente como o bandido”, disse à reportagem da Ponte Jornalismo.
Equipes de “jornalismo policial” de televisões já começaram a ser afetadas pela campanha. Nesta semana, o apresentador Luciano Faccioli, que trabalha na TV Jornal, afiliada do SBT, esperava uma entrevista com um policial sobre um caso de violência. Ao vivo, os policiais se recusaram a falar. O apresentador ainda informou que a assessoria de imprensa explicou que os policiais não falariam por causa da “Operação Silêncio”.
Contra filmagem de colegas
Reportagem da Ponte Jornalismo revelou, em janeiro deste ano, que policiais fizeram uma campanha pedindo que seus colegas de trabalho não gravassem agentes em “situação constrangedora”. A ação também foi feita por meio de grupos restritos no Facebook e no Whats App. São dois os principais tipos de “situações constrangedoras” gravadas pelos policiais. O primeiro, e mais constante, é divulgado como um troféu – e ultrapassa os limites da dignidade humana. Trata-se de imagens de agentes torturando psicologicamente suspeitos ou de fotografias de acusados de terem cometido algum crime mortos em suposto confronto. São considerados atos de bravura e heroísmo entre os policiais, mas a veiculação dessas atitudes acabou virando prova para punir os próprios policiais.
O segundo tipo de gravação contestada nos grupos restritos diz respeito à falhas e omissões cometidas por profissionais da polícia. No mês passado, por exemplo, um policial militar que estava dormindo em pé foi gravado por seu colega de trabalho durante a madrugada e, depois, virou motivo de piada. O PM que gravou foi afastado. “Isso se chama cuspir no prato que come. Se estiver vendo uma situação incompatível com decoro da classe, chame a atenção dele. Não jogue no Facebook para todos os PMs se ferrarem”, afirmou um policial em um dos grupos restritos à época em que a campanha foi divulgada. “Somos a única classe que produz prova contra nós mesmos”, disse outro agente. Depois de a campanha ter sido disseminada, mais nenhum vídeo de policial em “situação constrangedora” vazou.
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