O sexto episódio da série Cultura de Periferia em Tempos de Pandemia conta a história d’A Casinha, sede de grupo teatral e coletivo contra o machismo que surgiu no Butantã, na zona oeste de São Paulo
Há mais de 20 anos o grupo de teatro Negro Sim surgia com a finalidade de potencializar talentos negros na periferia do Butantã, na zona oeste da capital paulista. Pouco tempo depois, a educadora Miriam Selva também ajudava a fundar a Coletiva Levante Mulher para combater o machismo, após um caso de feminicídio que aconteceu contra uma aluna do grupo de teatro e um estupro coletivo contra outra adolescente quando saía da Casa de Cultura da região. O sexto episódio de Cultura de Periferia em Tempos de Pandemia, série da Ponte em parceria com o Todos Negros do Mundo disponível no YouTube e exibida aos sábados na Rede TVT, conta como a educadora transformou a própria casa num espaço que ela denomina como de arte e de afeto.
À apresentadora Stephanie Catarino, Miriam critica a falta de espaços culturais no território, além da ausência de projetos que auxiliem sobre a discussão de problemas que atingem principalmente a população negra, como a violência de gênero. “A gente só tem uma casa de cultura em toda a região do Butantã”, enfatiza.
De acordo com ela, desde 2016, quando as ações começaram, a própria comunidade acabou se apropriando do espaço, que fornece oficinas para crianças e adultos, e sugerindo atividades. Para se manter, conta com a ajuda de editais de cultura, doações e campanhas de financiamento por meio de “vaquinhas”, já que o coletivo não tem receita fixa. “A partir dos editais, a gente conseguiu ampliar [o que antes era um quintal]. Temos um teatro de arena, uma sala multimídia, uma sala de balé que está novinha e não conseguimos estrear por causa da pandemia, rodas de conversa, oficinas culturais”, conta.
Durante a pandemia, o espaço tem permanecido fechado. Por isso, ela afirma que há algumas oficinas que conseguem ser realizadas de forma virtual, com o auxilio de dois editais de cultura, além de ações para auxiliar famílias que estão mais vulneráveis, como arrecadação de cestas básicas, e atividades para crianças que não têm como acessar a internet, a partir de um kit com livro para colorir com desenhos de princesas negras e brinquedos. “A gente vem buscando cestas básicas para a comunidade e também para os oficineiros, para a equipe, e teve dois meses que não conseguimos, então é bem difícil porque temos que ir atrás do poder público, da iniciativa privada, mas quem está subsidiando mesmo são as vaquinhas que a gente acaba fazendo para conseguir essa verba”, explica.
O que Miriam mais espera é poder retornar as atividades presenciais para que todos possam estar juntos. “O afeto é cura social e a gente vai se transformando através do afeto. O afeto é uma arma revolucionária porque as pessoas nos querem distantes umas das outras e esse momento de distanciamento reforça isso”, aponta. “Estar junto, ter esse cuidado um com o outro, vai transformando a comunidade”.