A ‘escola PCC’ no roubo milionário em SP que permanece sem desfecho

    Ponte divulga documento de 21 anos atrás que mostra como ação de facção era semelhante à do bando que roubou carga milionária e que Polícia Civil ainda não conseguiu recuperar

    Imagens de câmeras de segurança mostra momento exato em que criminosos chegam em caminhonete preta | Foto: reprodução

    O maior roubo do ano realizado no estado de São Paulo completa dois meses nesta quarta-feira (25/9) e, até agora, a Polícia Civil não conseguiu recuperar a milionária carga levada pelos assaltantes.

    No dia 25 de julho, um grupo de ladrões entrou no terminal de cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos e roubou 31 malotes contendo 734 kg de ouro avaliados em R$ 117.335.220,00. Os assaltantes também levaram 18 relógios e um colar avaliados em R$ 94.247,00, além de 15,17 kg de esmeraldas avaliadas em US$ 26.567,00. A ação só foi possível porque os ladrões cooptaram um agente de segurança acusado de ter facilitado a entrada do bando no terminal.

    O líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi um dos precursores dessa tática e agiu do mesmo modo há 21 anos, quando ainda era um ladrão desconhecido da mídia. A “escola PCC” de planejar e realizar roubos cinematográficos teve sua prática entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, e agora, com o roubo milionário de julho, mostra que ainda se faz muito presente.

    Segundo o Ministério Público Estadual, os 734 kg de ouro roubados há dois meses pertenciam às empresas  Kinross Brasil Mineração S/A, Pilar de Goiás Desenvolvimento Mineral S/A, Mineração Riacho dos Machados Ltda, Fazenda Brasileiro Desenvolvimento Mineral Ltda e Recuperadora Brasileira de Metais.

    Os relógios e o colar eram da marca Louis Vuitton (LVMII – Fashion Group Brasil) e as esmeraldas, da Rara Gemas e Joias Eireli. O roubo só foi possível porque o bando conseguiu cooptar Peterson Patrício, supervisor de segurança da concessionária responsável pela administração do terminal de cargas. Confira parte da denúncia do MPE (Ministério Público Estadual):

    Ao ser interrogado, Patrício admitiu participação no crime e confessou ter simulado, com os próprios ladrões, o sequestro de sua família. Com esse argumento e para não levantar suspeitas, ele alegou aos colegas de trabalho que seus parentes estavam nas mãos de criminosos e corriam riscos, deixando a entrada livre para a quadrilha no terminal.

    A Polícia Civil identificou outros cinco homens acusados de envolvimento no crime. Um deles continua foragido. Até agora, a carga milionária não foi recuperada.

    O jeitão Marcola de roubar

    Há 21 anos, Marcola, o chefão do PCC, já realizava roubos cinematográficos nos mesmos moldes do assalto registrado no terminal de cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.

    Em 2 de julho de 1998, o bando de Marcola e de seu irmão Alejandro Juvenal Herbas Camacho, o Junior, roubaram R$ 15 milhões da Transpev Transporte de Valores, no Jaguaré, zona oeste da Capital. A Ponte divulga com exclusividade documentos que datam de 21 de agosto de 1998, quando o Ministério Público Estadual fez a denúncia contra Marcola e o bando. Confira a primeira página da denúncia assinada pelo promotor José Francisco Cagliari. O documento na íntegra está no final da reportagem:

    A quadrilha cooptou o vigilante da Transpev, Luiz Carlos Pereira. Ele forneceu detalhes sobre a rotina da empresa e  ainda revelou aos ladrões os endereços do coordenador e do encarregado da segurança.

    Os assaltantes alugaram uma casa no mesmo condomínio onde morava o coordenador de segurança. O funcionário e integrantes de sua família foram sequestrados e levados para um cativeiro.

    Já o encarregado da segurança foi dominado quando chegava em casa e seus parentes também foram sequestrados.  Ele e o coordenador foram levados à noite para a Transpev e obrigados a facilitar a entrada dos criminosos na transportadora de valores.

     Fotos dos reféns foram mostradas aos demais funcionários da Transpev, no dia do roubo, como forma de intimidá-los. Os seguranças sequestrados tiveram de abrir o cofre e entregaram malotes com dinheiro à quadrilha de Marcola.

    A exemplo de Peterson Patrício, do terminal de cargas do aeroporto de  Guarulhos, o vigilante da Transpev, Luiz Carlos Pereira acabou detido e confessou o crime.

    Marcola foi preso três meses após o roubo, em 2 de outubro de 1998. No apartamento dele foram apreendidos armas automáticas, munição, documentos e um croqui da Transpev. Junior foi recapturado no Rio de Janeiro.

    A pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo, a Justiça decidiu transferir, em fevereiro deste ano, tanto Marcola quanto seu irmão Junior,   para presídios federais.

    Antes disso, ambos cumpriam pena na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no Oeste do Estado, considerada, na época, pelas próprias autoridades como o escritório, a matriz, a sede do crime organizado em São Paulo. 

    Confira a denúncia que completou 21 anos e é divulgada pela primeira vez abaixo:

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude
    2 Comentários
    Mais antigo
    Mais recente Mais votado
    Inline Feedbacks
    Ver todos os comentários
    trackback

    […] A ‘escola PCC’ no roubo milionário em SP que permanece sem desfecho  Ponte Jornalismo […]

    mais lidas