Porto Alegre, SP, Rio e BH usaram as marchas pelo Dia da Consciência Negra para protestar contra morte em Carrefour; em Fortaleza, familiares protestaram contra a violência dentro dos presídios e três pessoas foram detidas
Anualmente, atos em homenagem ao Dia da Consciência Negra acontecem pelo Brasil. Neste 20 de novembro, não foi diferente, mas a luta ganhou mais força pelo luto. Poucas horas antes do dia começar, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi espancado e morto por um segurança e um PM na porta de uma loja do supermercado Carrefour, no bairro Passo D’Areia, na zona norte de Porto Alegre.
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Os gritos “Vidas Negras Importam” foram bradados ao lado de gritos por João Alberto, ou Beto, como era conhecido, nas cidades de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em Fortaleza atos pelo Dia da Consciência Negra pediam o fim da violência contra população negra encarcerada.
Em Porto Alegre e São Paulo, as manifestações foram marcadas por revolta. Em ambos os atos os manifestantes não ficaram calados quando estiveram em lojas do Carrefour. O grito “fogo nos racistas” ficou quente em São Paulo dentro da unidade do Carrefour localizado na Rua Pamplona, nos Jardins, região rica da cidade, e em Porto Alegre na porta da loja em que João Alberto foi assassinado.
O ato em São Paulo começou na Avenida Paulista, em frente ao MASP, mas, diferentemente dos outros anos, não desceu a Rua da Consolação para finalizar o ato em frente ao Theatro Municipal. O destino foi a Rua Pamplona, em frente ao Shopping Pamplona, que reúne lojas da Rede Carrefour.
Um grupo de manifestantes quebrou a loja em resposta ao assassinato de João Alberto. Os seguranças tentaram fechar as portas, mas não conseguiram. O grupo jogou pedras contras as vidraças do shopping e conseguiu entrar na loja.
Integrantes de movimentos negros gritavam para as pessoas pararem, para não prejudicar o movimento. Em um determinado momento, uma mulher branca tentou saquear o mercado, mas foi impedida por manifestantes negros.
“Povo negro unido é povo negro forte” gritavam os manifestantes durante o trajeto, complementando “Carrefour racista” e “racistas não passarão”. A Polícia Militar estava presente no ato, mas não interviu na manifestação.
Os protestos em Porto Alegre reuniram diversos manifestantes em frente ao Carrefour em que João Alberto foi assassinado. Um carro de som foi utilizado levantando gritos de protestos pelo assassinato de Beto. Além dos manifestantes, amigos e familiares compareceram ao local.
Segundo a estudante Jéssica Januário, de 24 anos, que mora próximo ao hipermercado, episódios de racismos são comuns no local. “Eu moro aqui no bairro há 24 anos e os seguranças sempre estão atrás de a gente. Ainda que seja bonito ver todos juntos lutando, ao mesmo tempo é muito triste. Eu estou angustiada demais por tudo isso, cansada de sentir diariamente o racismo nesse estado. Mas temos que lutar, pois só assim para isso acabar”, disse.
Acompanhado do filho, a professora Claudenize Farias, de 51 anos, foi ao protesto. “Fui educada para lutar contra o racismo e foi essa educação que eu passei para meu filho. Não podia deixar que ele não viesse e não podia deixar de vir. É um momento muito sofrido para todos nós, mas precisamos seguir nessa luta”, contou. O filho, Wendel Farias, de 21 anos, falou do medo que tem quando precisa sair. “Toda vez que nós pretos saímos, corremos o risco de não voltar, como, infelizmente, aconteceu com o Beto. Mas não adianta viver com medo, precisamos lutar contra tudo isso”, disse.
No fim da tarde, a Brigada Militar chegou ao local, por dentro do supermercado e começou a atirar bombas de gás lacrimogêneo nos manifestantes. O ato terminou com a Brigada Militar dispersando os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo. Segundo do Grupo Hospitalar Conceição, três pessoas chegaram feridas ao Hospital Cristo Redentor, mas todos estão fora de perigo.
No Rio de Janeiro, a manifestação foi pacífica, também sem intervenção policial, e exigiu o encerramento das atividades do supermercado da Barra da Tijuca. A gerência concordou e fechou o estabelecimento após uma conversa com os manifestantes. Belo Horizonte também teve um ato nesta tarde.
Em Fortaleza, a motivação do ato foi contra a violência dentro sistema prisional do Ceará. Segundo informações apuradas pela reportagem, o ato de amigos e familiares de pessoas do sistema penal do Estado acontecia de forma pacífica e iria terminar próximo à SAP (Secretaria de Administração Penitenciária).
Em entrevista à Ponte, um integrante da Frente Estadual Pelo Desencarceramento do Ceará, que pediu para não ser identificado, contou que houve uma grande mobilização para fazer um ato pacífico, com música e palavras de ordem.
Mas não foi o que aconteceu. De forma truculenta, o batalhão de choque da Polícia Militar, comandada nessa gestão por Camilo Santana (PT-CE), avançou sobre a manifestação. Duas mulheres foram agredidas e detidas. Spray de pimenta, bomba de efeito moral e balas de borracha foram usadas contra as familiares.
Três pessoas negras foram detidas. Todos foram levados para o 2º DP e uma rede de proteção ficou aguardando a soltura de todos, que foram liberados, mas responderão por desacato. A expectativa do movimento é que o caso seja arquivado, já que os vídeos demonstram que a violência partiu da PM contra os manifestantes, e não o contrário.
A Anistia Internacional emitiu um comunicado sobre a ação da PM no Ceará. “As imagens dessa ação policial às quais a Anistia Internacional Brasil teve acesso são chocantes e demonstram o uso excessivo e desproporcional da força policial no manejo da manifestação.. […] A Anistia Internacional Brasil recorda que o uso excessivo de força no controle das manifestações é inaceitável e viola as obrigações de direitos humanos assumidas pelo Brasil no âmbito internacional. Todas as autoridades brasileiras devem respeitar esses compromissos”, diz um trecho da carta asisnada pela entidade.
Veja abaixo mais fotos do ato em SP:
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