‘A Liberdade Cantou’: Após 2 décadas, grupo que nasceu na cela 509-E do Carandiru lança música inédita

    Novo som de um dos grupos de rap mais populares do Brasil foi lançado no último dia 19, na voz de Afro-X e do rapper Bad, do grupo Tribunal Popular

    Grupo que nasceu no Carandiru lança música inédita após 20 anos | Foto: Divulgação/509-E

    Duas décadas depois de nascer em uma cela da Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, na zona norte paulistana, o grupo 509-E volta a lançar uma música inédita: o som “A Liberdade Cantou”, que já está disponível no YouTube (vídeo abaixo) e em plataformas de streamings de músicas desde o último dia 19.

    A Liberdade Cantou, metaforicamente, significa libertação. É um grito de esperança diante do caos que estamos vivenciando, em um tempo de encarceramento em massa, sobretudo do povo pobre, preto e da periferia”, diz Afro-X, compositor da música.

    Quando surgiu, em 1999, o 509-E despontou rapidamente com um fenômeno do rap nacional. Em quatro anos, o grupo formado por Afro-X e Dexter lançou dois álbuns (Provérbio 13MMII DC), venceu o Prêmio Hutúz, que era a principal premiação do hip hop nacional na época, e se firmava como um dos principais grupos de rap do país, com sucessos como “Oitavo Anjo” e “Saudades Mil” e “Só os Fortes“, que venceu o prêmio de melhor clipe do programa Clipper, da TV Gazeta.

    Mesmo atrás das grades, a dupla deixava o presídio para fazer shows e participar de outras apresentações que eram convidados. Em uma das oportunidades de sair da cadeia, há 20 anos, a dupla ficou frente a frente com o deputado estadual Capitão Conte Lopes (Partido Progressistas) no programa Altas Horas, da Rede Globo. 

    O debate ficou conhecido pelo clima tenso que ficou no programa, e o político dizer que Afro-X e Dexter “não são exemplos para ninguém, e que os jovens em casa não vejam em vocês um exemplo”. 

    Leia também: ‘Rap é mais que música’: Dexter fala com jovens de abrigos sobre sua vida

    Afro-X voltou à liberdade em 2005 e, além de seguir na música, se tornou um educador social e escreveu o livro “Ex-157, a História que a Mídia Desconhece”, uma autobiografia. Já Dexter deixou a prisão em 2011 e sempre esteve firme na música, mesmo no período atrás das grades, lançando três álbuns solo, entre eles “Exilado Sim, Preso Não”, em 2005. 

    A dupla anunciou a volta do 509-E em 2019, com uma turnê do grupo que apresentaria os sucessos históricos.

    Agora, lança novamente uma música inédita. O novo som composto por Afro-X chega com a voz dele e do rapper Bad, do grupo Tribunal Popular, tem Daniel Quirino e Paola como backing vocais, e os arranjos e produção musical ficaram por conta de Jonas Lemes.

    “O 509-E é uma luz no fim do túnel. Após a nossa turnê comemorativa com a formação original, surgiu em mim um resgate do primeiro amor, um clima nostálgico, e várias outras coisas importantes aconteceram”, diz Afro-X. 

    O rapper diz que, depois das diversas apresentações ao lado do Dexter, percebeu a importância de voltar com o grupo. “O 509-E é um patrimônio do rap nacional, porque foi uma história vivida com lutas e glórias, e isso também traz à lembrança de várias pessoas que passaram por essa situação”. 

    Nessa nova trajetória, o grupo segue com uma equipe que resgata a história do 509-E que nasceu no Carandiru, mas sem o Dexter, que decidiu manter a carreira solo depois de ter participado da turnê “Vivos“, interrompida por conta da pandemia do novo coronavírus.

    A próxima novidade do grupo é o lançamento do videoclipe da música “A Liberdade Cantou“. Segundo Afro-X, metade do filme já foi gravado no Museu Penitenciário Paulista, onde era o cadeia do Carandiru, e a segunda parte será gravada com atores renomados em uma cadeia desativada. “Vamos encenar o dia a dia da prisão, com a visita, e mostrar o respeito que existe dentro da prisão, a fraternidade e companheirismo mesmo diante do caos”, conta Afro-X.

    Depois, o grupo vai para o estúdio gravar as novas músicas, incluindo a “Megarrebelião“, que lembra os 20 anos da histórica ação dos presos do Carandiru, incluindo Afro-X, que insurgiram contra o que classificava como opressão no sistema carcerário paulista.

    Sobre o que disse Conte Lopes no Altas Horas, Afro-X afirma que “a resposta está aí: mesmo diante de todo sistema punitivo e da indústria que fomenta o crime, somos heróis e sobreviventes do caos”.

    A Ponte procurou pelo deputado Conte Lopes para comentar sobre o volta do grupo, o lançamento da nova música, e para saber se ele segue acreditando que os rappers não devem ser seguidos como exemplo pelo jovens. O político e PM da reserva não retornou até a publicação desta reportagem.

    Ficha técnica:
    Composição: Afro-X
    Vocais: Afro-X e Bad
    Backing vocais: Daniel Quirino e Paola Arranjos
    Produção Musical: Jonas Lemes
    Mixagem e Masterização: Flávio Libório
    Designer: Thiago Bravos
    Fotografia: Rafael Berezinki
    Relações Públicas: Beat Rec
    Assessoria de Imprensa: Marcos Lauro
    Apoio Cultural: Tvila Sports

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