A PM matou Luan, 14, e depois a testemunha do crime: seu melhor amigo

    O que sobra na vida de duas mães quando o Estado leva seus filhos

    Há dois anos a cozinheira Maria Medina não passa pela Travessa 7, uma viela da Rua Paraúna que dá acesso para uma área de comércio bastante frequentada pelos moradores da periferia de Santo André, na Grande São Paulo. Em novembro de 2017, o filho Luan Gabriel Nogueira de Souza, de 14 anos, passava pelo local para comprar bolachas quando foi morto por um policial militar, que teria recebido um chamado de furto de motocicleta. “É um dia que eu tento apagar, mas não tem como. Era criança que tinha tanto sonho, tanta vontade de viver”, conta Maria, emocionada.

    Em fevereiro deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que Alécio José de Souza seja levado a júri popular. A defesa dele tenta recorrer. Com a mesma força que usa para segurar as fotos do filho, a cozinheira luta para que o caso não seja esquecido. “Eu vou até o fim. Se as mães não se unirem, eles vão continuar fazendo isso. Eles não perguntam, já chegam atirando”, afirma. “Quantas mães que nem eu também não estão passando por isso?”.

    Maria Medina mostra foto do filho Luan Gabriel, 14 anos | Foto: Pedro Ribeiro Nogueira/Ponte Jornalismo

    Próximo dali, outra família também estampou camisetas com retratos e mensagens de amor ao filho que se foi. Amigo de infância e uma das testemunhas da morte de Luan, Rodrigo Nascimento de Santana, de 16 anos, foi morto por um policial militar à paisana na região. Ele e outro adolescente teriam roubado uma moto no cruzamento da Avenida Sorocaba quando foram baleados pelo soldado Antonio Noronha Barboza durante a fuga, que alegou ter sido ameaçado pela dupla.

    Ednaide Nascimento de Santana e Arismaldo Ribeiro da Silva, pai e mãe de Rodrigo Nascimento de Santana, 16 anos | Foto: Pedro Ribeiro Nogueira/Ponte Jornalismo

    “Ele era um menino que trabalhava, era muito amigo do Luan, ficavam aqui em casa jogando videogame”, lembra a mãe, Ednaide Nascimento de Santana. Segundo ela, o filho sofria ameaças por ter testemunhado a morte do amigo. “Um policial chegou a dizer que era melhor eu mandar ele para a Bahia. Se ele disse isso, é porque sabia de alguma coisa.”

    “Na delegacia, estavam parabenizando o policial depois do que aconteceu. Vão nas redes sociais e falam que foi troca de tiro, meu filho nunca pegou numa arma”, lamenta o pai de Rodrigo, Arismaldo Ribeiro da Silva. A investigação sobre a morte do adolescente terminou arquivada pela Polícia Civil.

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