Acusado de matar trans na zona sul de São Paulo vai responder por feminicídio

    Justiça de SP aceitou denúncia contra Jonatas Araujo dos Santos pela morte de Larissa Rodrigues; promotor destacou que vítima foi morta ‘por menosprezo à condição de mulher’

     

    A vítima Larissa Rodrigues e o autor do feminicídio Jonatas Araújo dos Santos | Foto: reprodução

    A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia contra Jonatas Araújo dos Santos, 25 anos, por ter matado a pauladas Larissa Rodrigues, 21, em 4 de maio, na Alameda dos Tacaúnas com Avenida Indianópolis, zona sul da capital paulista. O Ministério Público tratou o crime como feminicídio (previsto no inciso II do parágrafo 2-A do artigo 121 do Código Penal), além de destacar outros agravantes do homicídio, como meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, que na visão da acusação, foi alvo de emboscada.

    O juiz Luis Felipe Vizotto Gomes aceitou integralmente a denúncia do MP e manteve Jonatas preso preventivamente. A defesa dele havia pedido a revogação da prisão.

    “O crime foi cometido por razões da condição de sexo feminino, pois envolveu menosprezo e discriminação à condição de mulher da vítima. É que, embora do sexo biológico masculino, ela havia adotado identidade de gênero feminina. Consta que ela era conhecida e tratada socialmente como mulher, por seus familiares, amigos e pessoas com quem convivia”, escreveu o promotor Romeu Galiano Zanelli Junior.

    Para ele, Jonatas agiu com premeditação, já que discutiu em um primeiro momento com Larissa e a amiga que estava com ela, dizendo que havia sido roubado. Na sequência, estacionou o seu carro em uma rua próxima, retornou a pé ao local e, se aproveitando da pouca iluminação pública na rua, chegou golpeando a vítima com o pedaço de madeira de cerca de um metro. “Ele lançou mão de recurso que dificultou qualquer reação de defesa por parte da ofendida, pois a atacou de surpresa, em circunstâncias em que ela não poderia esperar que seria agredida da forma como foi”, diz outro trecho da denúncia.

    A Ponte procurou a defesa de Jonatas Araújo da Silva. Ao telefone, o advogado Manoel João da Costa afirmou que vai ainda “examinar com mais cuidado todo o teor da denúncia” e então se pronunciar à Justiça.

    Sobre o crime

    Por volta das 22h do dia 4 de maio, um sábado, a trans Larissa Rodrigues foi golpeada várias vezes e morreu na esquina da Alameda dos Tacaúnas com a Avenida Indianópolis, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo. O agressor, Jonatas Araújo dos Santos, se apresentou na delegacia da região, o 27º DP, dois dias depois do crime.

    Um grupo de trans fez um pequeno protesto na delegacia no dia em que o agressor se apresentou. “Nós viemos por justiça. Se ele sai, vai continuar matando. Ele é tão esperto que esperou 24h para se entregar e sair do flagrante”, disse Bruna, 24 anos, à reportagem.

    Natural de Fortaleza, Larissa era garota de programa neste mesmo local onde foi assassinada. Uma amiga de infância dela contou à Ponte que a família de Larissa é muito pobre e que ela mandava semanalmente dinheiro para a mãe. “Uma menina muito calma, que gostava de ajudar sua família e as pessoas a seu redor. Super do bem. Sempre pensando no próximo. As redes sociais dela estão lotadas de homenagem, isso mostra como era querida”, disse Sorela Souza, 25 anos.

     

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