Suspeito de queimar morador de rua em SP é inocente, segundo testemunhas

    Homem teria confessado por se sentir ameaçado; duas testemunhas dizem que características dele não batem com as do rapaz que aparece em vídeo na cena do crime

    Momento em que Carlos Roberto foi queimado enquanto dormia embaixo da marquise do supermercado Dia na Mooca, zona leste de SP | Foto: reprodução

    Duas pessoas ouvidas pela Ouvidoria das polícias de São Paulo contestam o reconhecimento e prisão do morador em situação de rua Flausino Cândido Filho, 49 anos, investigado sob suspeita de ter ateado fogo no também morador de rua Carlos Roberto Vieira da Silva, 39, na madrugada do dia 5/1. Uma delas é testemunha do crime e a outra afirmou que o suspeito é inocente por conhecê-lo e ter analisado as imagens de câmeras do local. Flausino, conhecido como Buiú, está preso desde quarta-feira passada (8/1).

    Carlos Roberto teve o corpo queimado quando dormia embaixo da marquise de uma unidade do supermercado Dia. Levado ao pronto-socorro do Hospital Municipal do Tatuapé, ele faleceu no dia seguinte, após não resistir a graves queimaduras. Ele foi enterrado em sua cidade natal, no Sergipe.

    De acordo com os depoimentos coletados por Benedito Mariano, ouvidor das polícias de São Paulo, o verdadeiro suspeito é magro, branco e tem barba, características que não condizem com Buiú, que é negro e mais robusto.

    Na última quinta-feira (9/1), a reportagem da Ponte trouxe a informação de que Buiú tem a saúde debilitada e não teria condições de correr. “É fato é que ele tem dificuldade de mobilidade, pés inchados e não poderia ter imprimido aquela velocidade que aparece em alguns vídeos já divulgados”, afirmou o advogado Márcio Araujo, que defende o homem preso suspeito do crime.

    Segundo Benedito Mariano, uma das testemunhas é moradora do bairro e afirmou o mesmo: que conhecia tanto o morto como o acusado e que o investigado “tem dificuldades de locomoção, com os pés inchados, e não teria condições de correr”, como mostram as imagens divulgadas pela polícia do momento da fuga do autor do crime.

    Considerado o guardião dos moradores em situação de rua e tratado como anjo da guarda por muitos deles, o padre Júlio Lancellotti, que integra a Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de SP, visitou Buiú nesta terça-feira (14/1) na carceragem do 2º DP (Bom Retiro). O religioso reforçou que “o preso não tem nada a ver com as imagens veiculadas pela mídia e que levaram a polícia a prendê-lo”, já que “não apresenta a agilidade da pessoa que corre nos vídeos, pois é lento em virtude de tomar medicação neurológica”. 

    “Ele falou que não foi ele e que foi pressionado a confessar. Os policiais chegaram e falaram que o rosto dele havia saído em todo lugar, que todos sabiam que era ele”, declarou Lancellotti.

    O ouvidor Benedito Mariano afirmou que nesta quarta-feira (15/1) vai encaminhar o depoimento da mulher para a delegada titular do 18º DP (Alto da Mooca), Silvana Sentirei Françolin, responsável pelas investigações, e para o Ministério Público.

    Mariano destaca que o primeiro depoimento que reforça a inocência do preso já havia sido encaminhado para os dois órgãos. “Ontem já havia encaminhado outro termo de morador que viu a pessoa que ateou fogo na vítima e disse que o autor é branco, magro, tem barba. Traços bem diferentes do morador de rua preso”, declarou.

    Na visão dele, o caso tem “muitas contradições”. “Esses depoimentos provam equívocos e revelam que esse caso não está encerrado. Tem que continuar as investigações e apurações”, concluiu.

    Procurada para comentar sobre as possíveis contradições e a informação de que o suspeito pode ser inocente, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) enviou uma nota confirmando que o inquérito está sob responsabilidade do 18º DP (Alto da Mooca) e que “a autoridade policial está à disposição para ouvir mais testemunhas que tiverem mais informações sobre o caso”.

    Reportagem atualizada às 22h29 do dia 14/1 para correção da informação de que as duas testemunhas ouvidas pela Ouvidoria das polícias de São Paulo presenciaram o crime. Na verdade, uma é testemunha ocular e outra, através das imagens que circularam e pelo fato de conhecer o suspeito, afirmou que não se trata da mesma pessoa

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