Advogada diz ter sido agredida por PMs por questionar abordagem a mulher negra

Vítima e o namorado teriam sido atingidos por golpes de cassetete quando saíam de festa de carnaval e perguntaram sobre abordagem “grosseira” com empurrões a mulher negra em São José do Rio Preto (SP)

Imagens de marcas na perna de Thayane Rissani e nas costas de seu namorado | Fotos: Arquivo pessoal
Imagens de marcas na perna de Thayane Rissani e nas costas de seu namorado | Fotos: Arquivo pessoal

A advogada Thayane Rissani, 27, denuncia que ela e seu namorado, também advogado, foram agredidos por policiais militares na madrugada desta quarta-feira (22/12) após questionarem a abordagem a uma mulher negra quando saíam de uma festa de carnaval no Recinto de Exposições de São José do Rio Preto, no interior paulista. O caso foi revelado pelo Diário da Região, jornal local.

“A gente estava esperando um Uber quando eu vi uma abordagem a uma mulher negra, que a gente acredita que era catadora de recicláveis porque ela estava com um saco cheio de latas na mão”, conta. “A polícia estava saindo junto de forma muito grosseira, empurrando ela sem motivo nenhum. E mesmo que se tivesse motivo, teria que dar uma voz de prisão e levar para a delegacia, não ser agressivo e grosseiro”, prossegue.

Ela relata que, ao ver a situação, se aproximou para perguntar o que estava acontecendo. “Eles disseram que eu não tinha a nada a ver com isso, que era para eu ir embora e seguir minha vida. Foi aí que eu me apresentei como advogada. Eu não cheguei dando carteirada, eu me posicionei como cidadã”, explica.

Foi ao se apresentar como advogada e insistir no questionamento, segundo ela, que os policiais ficaram “mais agressivos”. “Eles me xingaram e foi aí que eu peguei meu celular, falei que ia começar a gravar e comecei a gravar”, afirma.

Em seguida, ela denuncia que um dos policiais tirou o celular da sua mão e a derrubou no chão quando tentou resgatar o aparelho. “Ele me derrubou no chão e me bateu, me deu golpes de cassetete nas costas e nas pernas”, diz. O namorado dela tentou apaziguar a situação, mas também teria sido agredido.

Com isso, ela afirma que disse para os policiais que ela deveria ser levada à delegacia devido ao que aconteceu. “Eles se negaram. Entraram dentro da viatura e foram embora”, relatou.

Dali, ela mesma e o namorado se dirigiram a uma delegacia de plantão da cidade e registraram o caso como dano e lesão corporal. “Eu nunca imaginei passar por isso na minha vida”, lamenta. “Meu dever de cidadã também é ver uma abordagem dessa da polícia, saber que não é assim que funciona e que eles têm que saber como tratar as pessoas independentemente do que elas tenham feito. Foi a primeira vez que eu passei por isso, foi bem complicado, mas não me arrependo em momento algum.”

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Thayane aponta que o celular ficou com a tela quebrada, mas conseguiu registrar parte da abordagem e disse que vai encaminhar à Polícia Civil. De acordo com ela, a mulher negra acabou deixando o local e não conseguiu pegar algum contato dela.

A advogada encaminhou imagens das costas e pernas onde marcam hematomas roxos e do ombro e costas do namorado, que também têm manchas. Ela denuncia que as marfcas foram decorrentes dos golpes de cassetete. Segundo ela, a dupla de policiais é de cor branca e tinha aparência de ter em torno de 40 a 50 anos de idade. Eles seriam do 17º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I).

O que diz a polícia

A Fator F, assessoria terceirizada da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, encaminhou a seguinte nota:

O caso citado foi registrado como dano e lesão corporal e é investigado, por meio de inquérito policial, pelo 2° DP de São José do Rio Preto. A autoridade policial requisitou exames periciais e aguarda o resultado dos laudos para análises e esclarecimento dos fatos.

A pasta não informou se os PMs foram identificados.

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