Vídeo gravado por esposa de Geova de Oliveira Lima mostra desespero e revolta: “Isso é um assalto”. Agressão ocorreu sexta (15), Ouvidoria das Polícias cobra esclarecimentos
Na última sexta-feira (15/1) o ambulante Geova de Oliveira Lima, 48, que trabalhava na rua Direita, na altura do nº 132, região central de São Paulo, teve suas mercadorias apreendidas por fiscais da prefeitura. Um vídeo gravado pela esposa mostra desespero e revolta. “Isso é um assalto, moço”, protestava ela, enquanto filmava e dizia que eles tinham a licença para trabalhar.
Policiais militares que acompanhavam a operação discutiram com o ambulante, que terminou agredido e imobilizado no chão. “Vocês vão matar ele”, gritava a mulher, em alguns momentos quase sem voz. Ela filmava com uma mão e com a outra tentava ajudar o marido caído. “Ele não está conseguindo respirar”, repetia sem receber atenção dos PMs, que a impediam de se aproximar.
Em entrevista por telefone à Ponte, Blanca Ramona Medina Vera, 38, esposa de Geova, contou que a família estava voltando para casa quando foi abordada pelos fiscais da prefeitura. “Estava chovendo forte e estávamos voltando para casa. Não era o nosso ponto, estávamos perto de casa, mas ainda assim nos abordaram e falaram que iriam levar toda a nossa mercadoria, nosso triciclo. Ficamos revoltados. Ele foi reclamar com um fiscal e o fiscal de um soco no rosto dele. Foi quando ele não aguentou mais e acabou atacando a kombi”, explica Blanca.
Para ela, a agressão policial foi desmedida. “Você pode ver no vídeo, parecia que eles estavam tentando matar ele. Fomos para a delegacia mas lá registraram o boletim como se fôssemos os agressores, e não as vítimas. Fomos ao IML fazer corpo de delito, ele estava com hematoma até na cabeça. Denunciamos o caso na Corregedoria e estamos esperando”, detalha, contando ainda que estão sem trabalhar desde então, pois a prefeitura não devolveu o triciclo que a família usa. “Eu estou com medo de sair na rua”, desabafa Blanca.
O vendedor foi levado para o 1º Distrito Policial (Sé). Um ofício encaminhado nesta quarta-feira (20) pela Ouvidoria da Polícia cobra da Corregedoria da PM esclarecimentos sobre aparente agressão cometida por policiais miliares contra o trabalhador informal.
Segundo nota da PM, “o homem foi detido por policiais militares que apoiavam a fiscalização e o caso registrado na delegacia da Polícia Civil pelo crime de dano, resistência e desobediência e liberado após o registro da ocorrência”.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou à Ponte que, de acordo com informações do Boletim de Ocorrência, o vendedor ambulante apresentou documentação, mas que ela não permitia a venda da mercadoria no local.
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O ambulante, segundo a SSP, foi detido após danificar uma kombi utilizada pela fiscalização da prefeitura. “Quando foi informado que seria necessário a apreensão do itens, ele ficou nervoso, pegou uma placa de madeira e atingiu o pára-brisa de um dos veículos”.
Por fim, a SSP informou que o vendedor não se acalmava e, por isso precisou ser “contido” por policiais militares. “Ele foi encaminhado ao 1ºDP, onde o caso foi registrado como dano. O condutor da Kombi (da prefeitura) foi orientado quanto ao prazo para representação criminal dos fatos. Após o registro, o vendedor foi liberado”.
A Prefeitura de São Paulo também procurada pela reportagem da Ponte, por meio da Subprefeitura Sé, afirmou que “o ambulante não possuía autorização para trabalhar no local” e que “ao ser abordado, o ambulante atacou os fiscais da Subprefeitura e depredou dois veículos desta administração regional, até ser contido pela PM”.
ATUALIZAÇÃO: Este texto foi modificado às 16h09 do dia 20/1/2021 para incluir depoimento da esposa do ambulante agredido
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