Agentes penitenciários estimam que os 4 mortos tiveram contato com centenas de pessoas; médico afirma que todos os detentos deveriam ser testados
A pandemia de coronavírus se alastra pelo sistema prisional paulista. Quatro pessoas em três presídios estaduais já morreram em decorrência da Covid-19. A situação na Penitenciária de Lucélia, no interior de SP, onde 14 presos morreram em 44 dias, segundo familiares, merece atenção. Apenas um deles, até o momento, teve confirmação da doença, sendo o quarto morto por coronavírus nos presídios paulistas.
Segundo agentes penitenciários, considerando o fluxo no sistema prisional, ao menos 900 detentos e dezenas de funcionários tiveram contato com esses quatro presos mortos. Dois morreram na Penitenciária 2 de Sorocaba, um na Penitenciária 1 de Mirandópolis e o outro em Lucélia.
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O psiquiatra Paulo César Sampaio, ex-coordenador de Saúde da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) de SP e presidente do grupo Tortura Nunca Mais, disse que todos os presos que tiveram contato com os detentos mortos pela Covid-19 têm de fazer o teste de coronavírus.
Sampaio afirmou ainda que, além de serem submetidos ao teste, todos esses presos necessitam ser isolados, preferencialmente em uma unidade prisional criada apenas para esse fim, para que possam ser observados, mantidos em quarentena e tratados adequadamente.
“O Estado tem obrigação de fazer isso. Se um detento manteve contato com outro infectado que veio a óbito no mesmo presídio, ele deve ser separado dos demais, isolado imediatamente e ser submetido ao exame de coronavírus para ter a certeza se está ou não doente”, ressaltou.
Para Sampaio, os presos que apresentam sintomas da Covid-19 não podem ser retirados de um pavilhão e levados para uma enfermaria na mesma unidade, porque, se isso ocorrer, não será possível conter a proliferação da pandemia no sistema prisional.
“O governo não criou hospitais de campanha? Então deveria ter providenciado unidades prisionais só para receber e tratar adequadamente os presos infectados, com equipe médica completa e tudo o que é necessário. Caso contrário, a doença vai se espalhar”, explicou.
O psiquiatra observou também que o sistema prisional brasileiro há décadas trata o preso com descaso e que não é agora, em tempos de pandemia, que isso deve mudar: “Aqui prevalece a cultura do bandido bom é bandido morto, mas desde que seja bandido pobre”, comentou.
Na avaliação de Sampaio, presos endinheirados têm outro tratamento e são libertados para não contrair a doença na prisão. “O corrupto Paulo Preto, do PSDB e Eduardo Cunha, do PMDB, que roubaram milhões dos cofres públicos, foram soltos. Já os presos pobres e doentes vão morrer na cadeia”, argumentou.
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Dos quatro presos mortos por Covid-19 em São Paulo três eram idosos e foram condenados por crimes sexuais. José Iran Alves de Souza, 67 anos, e Danilo de Jesus Silva, 62, cumpriam pena na Penitenciária 2 de Sorocaba e Idenyldo Silva, 76 anos, era da Penitenciária de Lucélia. Alberto Saad Sobrinho, 54 anos, era da P1 de Mirandópolis.
Idenyldo, no entanto, já cumpriu pena na Penitenciária 2 de Sorocaba. A Ponte questionou a SAP para saber quando o detento foi removido para Lucélia e se ele pode ter contaminado outros presos.
A reportagem também perguntou à SAP se a Coordenadoria do Sistema Prisional providenciou os testes para todos os presos que tiveram contato com os detentos mortos pela doença.
A pasta não respondeu e informou apenas que a “Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário não funciona nos fins de semana”. A SAP é responsável pela Coordenadoria de Saúde e subordinada ao governo João Doria (PSDB).
Além de Idenyldo, outros 13 presos morreram na Penitenciária de Lucélia entre os dias 4 de março e 17 de abril deste ano. Levantamento exclusivo feito pela Ponte apurou o nome, a idade e a data de cada preso morto.
A reportagem pediu esses dados para a SAP, mas a pasta até este sábado (25/4) também não deu qualquer informação. Dessa vez alegou que não podia passar os dados porque o mês de abril não havia terminado. Os mortos tinham entre 48 anos e 93 anos. Alguns foram sepultados como indigentes em Lucélia.
Antonio Rodrigues Jardim, 63 anos, Mario Nogueira dos Santos, 63 anos, Carlos Mendonça, 71 anos, Luiz Carlos de Lima Ferreira, 50 anos, e Hélio Paiva de Oliveira, 58 anos, tiveram como causa da morte insuficiência respiratória.
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Já nos atestados de óbitos de Aparecido Firmino dos Santos, 86 anos, Josias Carvalho, 62 anos, Moacir Neves da Silva, 71 anos, Lourival Rodrigues, 71 anos, Benedito Sérgio Ferreira, 61 anos, e Carlos José Gomes, 48 anos, a causa da morte foi apontada como indeterminada.
O preso José Vicente Lima, 93 anos, morreu de arritmia cardíaca, distúrbio metabólico e colite. O detento Severino Francisco Barbosa, 48 anos, faleceu por causa de infarto agudo do miocárdio.
Segundo o painel do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) com dados sobre o monitoramento de presos com coronavírus no Brasil, até agora cinco detentos morreram de Covid-19 nas penitenciárias do País.
Além das quatro mortes registradas no estado de São Paulo, uma outra foi computada no Rio de Janeiro em 15 de abril. A vítima foi um preso de 73 anos do Instituto Penal Cândido Mendes.