Após 10 anos, ex-PM é condenado a 125 anos de prisão por Chacina do Jardim Rosana

Gilberto Eric Rodrigues foi acusado de participar de ataque que matou sete moradores na zona sul de São Paulo em 2013; ex-soldado ainda vai ser julgado por mais dois assassinatos neste ano

Ex-soldado Gilberto Eric Rodrigues ficou seis anos foragido da Justiça até ser capturado e preso em 2021 | Foto: Reprodução

O ex-policial militar Gilberto Eric Rodrigues, 34, foi condenado a 125 anos de prisão em regime fechado por um ataque que deixou sete mortos (inlcuindo Láercio de Souza Grimas, 33 anos, o DJ Lah) e dois feridos, em 4 de janeiro de 2013, e que ficou conhecido como Chacina do Jardim Rosana, na região do Campo Limpo, zona sul da capital paulista.

Na época, oito policiais militares do 37º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) foram apontados pelo Ministério Público Estadual (MPSP) por envolvimento nos crimes. Eles teriam ido encapuzados até um bar para matar um morador de rua que havia filmado uma ação da PM que terminou com a morte a tiros de um suspeito de roubo, em novembro de 2012.

Ao chegarem no local, por volta das 23h, gritaram “Vai, é polícia, ninguém corre!” e dispararam. Policiais ainda teriam sido vistos recolhendo as cápsulas do chão e entregando a colegas de farda.

Contudo, apenas os ex-PMs Gilberto Rodrigues e Fábio Ruiz Ferreira foram levados a júri popular na última sexta-feira (31/3). Ferreira foi absolvido.

O promotor João Carlos Calsavara acusou os soldados Gilberto Eric Rodrigues, Fabio Ruiz Ferreira, Antonio Marchetti Junior e o sargento Antonio Luis Ribeiro Munduruca como responsáveis pelo atentado a tiros. A cabo Patrícia Silva Santos, o soldado Carlos Roberto Alvarez e o sargento Adriano Marcelo do Amaral deram, segundo a denúncia, apoio para o atentado promovido pelos quatro primeiros, assim como o armeiro Anderson Siqueira, responsável pela guarda das armas do 37º Batalhão na noite da chacina.

A promotoria acusou o soldado Luis Paulo Uchoas Ungur e o capitão Sandro Alves, o oficial da PM para quem os subordinados teriam entregado estojos e projéteis recolhidos criminosamente da cena do crime, de fraude processual.

Na ocasião, a juíza Carla de Oliveira Pinto Ferrari, da 1ª Vara do Júri, aceitou as acusações e pedidos de prisões preventivas (por tempo indeterminado) contra seis PMs. O MPSP recorreu e juiz Alberto Anderson Filho aceitou apenas a manutenção da denúncia contra o então soldado Gilberto Rodrigues e absolveu sumariamente todos os demais. O promotor recorreu novamente, mas apenas Gilberto e Fábio acabaram pronunciados, ou seja, levados a júri popular.

À Ponte, os advogados Mauro Ribas e Gilberto Quintanilha Pucci, que representam Gilberto, disseram que vão recorrer da condenação porque afirmam que demonstraram que os disparos não foram feitos pela arma do ex-PM, conforme investigação da Polícia Civil. “Infelizmente, o que foi trazido para o plenário não foram provas a respeito desse fato, mas uma narrativa de um histórico a respeito do Gilberto Eric para criar um clima de condenação para os jurados e distorcer o julgamento das provas propriamente”, disse Ribas.

O caso está em segredo de justiça e a reportagem não conseguiu localizar a defesa do ex-PM Fabio Ruiz Ferreira.

Currículo de mortes

O ex-PM ainda vai ser julgado por mais dois homicídios. O primeiro júri popular está marcado para 18 de abril pela morte do estudante Guilherme Guedes, que foi sequestrado na porta de sua casa, na Vila Clara, zona sul da cidade de São Paulo, no dia 14 de junho de 2020, e encontrado morto horas depois em um terreno no bairro Eldorado, na divisa entre a capital e Diadema. A morte do menino revoltou moradores da região, que fizeram protestos.

De acordo com o Ministério Público, o sargento Adriano Fernandes de Campos e Gilberto Eric atuavam juntos como seguranças na região onde Guilherme foi morto. A dupla teria confundido o adolescente com uma pessoa que possivelmente havia roubado um canteiro de obras da Globalsan, empresa terceirizada da Sabesp, em que Campos era responsável pela vigilância, atividade proibida pelo Regulamento Disciplinar da PM.

Adriano tinha sido absolvido, mas após recurso da promotoria, o júri foi anulado em 2022 e ele será submetido a novo julgamento sem data definida. Ele também foi expulso da corporação na mesma semana.

Já para 17 de maio, Gilberto será julgado por mais uma morte relacionada à Chacina do Jardim Rosana, a de Rodrigo Barbosa, que tinha deficiência visual e foi assassinado 24h antes do ataque, além de uma tentativa de homicídio contra o primo dele.

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Gilberto está preso desde maio de 2021 após ter ficado seis anos foragido. Ele havia escapado do Presídio Militar Romão Gomes em 2015, quando estava preso preventivamente no âmbito do processo da chacina. Na época, a A PM mentiu sobre a fuga, dizendo em documento enviado à Ponte que, dois meses depois do desaparecimento, Gilberto ainda estava preso no local.

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