Ex-PM acusado de matar Guilherme é capturado e preso

Gilberto Eric Rodrigues estava foragido desde 2015, quando escapou do Presídio Militar Romão Gomes; ex-policial participou da morte do adolescente Guilherme Silva Guedes, 15 anos, em junho de 2020 e é suspeito de ter participado de chacina que deixou sete mortos em 2013

Ex-soldado Gilberto Eric Rodrigues é foragido da Justiça | Foto: Reprodução/Arquivo Ponte

O ex-soldado da PM Gilberto Eric Rodrigues, 33 anos, foi preso nesta quinta-feira (13/5) por integrantes do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil de São Paulo. No momento da prisão, ele estava em Peruíbe, no litoral sul paulista.

Rodrigues é é foragido da Justiça desde abril de 2015, quando escapou do Presídio Militar Romão Gomes. Na época, a A PM mentiu sobre a fuga, dizendo em documento enviado à Ponte que, dois meses depois do desaparecimento, Gilberto ainda estava preso no local.

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O ex-policial tem um currículo de assassinatos que começa em 2013. Ele teve a prisão preventiva decretada em outubro do ano passado, em relação à acusação de matar Rodrigo Barbosa, que tinha deficiência visual. O crime ocorrido em 2013 aconteceu 24 horas antes de ele participar de chacina que deixou sete vítimas, conhecida como Chacina do Jardim Rosana, na zona sul da capital paulista.

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O ex-soldado também é acusado de participar da morte do adolescente Guilherme Silva Guedes, 15 anos, executado em 14 de junho de 2020, na divisa entre São Paulo e Diadema (Grande São Paulo). O menino foi sequestrado na porta de sua casa, na Vila Clara, zona sul da capital, e encontrado morto horas depois em um terreno no bairro Eldorado, na divisa entre São Paulo e Diadema, com sinais de tortura.

A morte do jovem gerou revolta e protestos na região. Gilberto e o sargento da PM Adriano Fernandes de Campos, dono de uma empresa irregular de segurança privada, acharam que o menino havia roubado um canteiro de obras da Globalsan, empresa terceirizada da Sabesp, em que Campos era responsável pela vigilância. O sargento foi preso e teve seu julgamento pela morte marcado para outubro deste ano.

A Ponte procurou a mãe de Guilherme, a dona de casa Joyce da Silva dos Santos. Chorando aos soluços, a mulher apenas disse “ser ele mesmo”, reconhecendo Gilberto por uma foto dele preso, que havia sido encaminhada a ela pelo delegado Rodolpho Chiarelli Junior, responsável pelas investigações desde o seu início.

Dentro de um carro em direção ao DHPP e um pouco mais calma em relação ao momento em que soube da prisão do homem acusado de ter matado seu filho, Joyce da Silva dos Santos afirmou estar aliviada. “A prisão do Gilberto é um peso a menos, é uma vitória, jurei diante o último momento ali diante o caixão do meu filho, que eu não ia parar enquanto não houvesse justiça”.

Durante depoimento prestado ao juiz Luis Gustavo Esteves Ferreira, o delegado Rodolpho Chiarelli Junior explicou como identificaram a participação de Gilberto Eric Rodrigues na cena do crime. Segundo ele, outros vigilantes teriam contado que Adriano teria chegado com um tal Roberto, que seria um outro vigia.

“Nós conseguimos identificar o Roberto, ele usava um telefone da Daniela, que é a namorada. No telefone da Daniela nós achamos um CEP e um número apagado. Fomos até esse endereço, realmente confirmou que Roberto residia ali. Só que com as impressões digitais nós conseguimos identificar que na verdade Roberto era nome falso, o nome dele era Gilberto.” O delegado ainda pontuou que “além das impressões digitais localizadas nessa residência, também encontramos impressões digitais no carro que o Adriano também usava no dia dos fatos”.

Gilbertofoi conduzido na manhã desta sexta-feira (14/5) ao CDP III de Pinheiros, unidade que possui uma ala específica para receber ex-agentes de segurança presos. No total, segundo a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), outros 36 ex-PMs estão no local.

Em conversa com a Ponte, o delegado Marcelo Jacobucci explicou como ocorreu a prisão do ex-PM. “O local em que ele estava era uma chácara. A prisão não se deu após denúncia, mas um misto de investigação, inteligência e tecnologia. Não foi algo da noite para o dia. Foram 40 dias de monitoramento, uma operação estratégica e cirúrgica para que não houvesse nenhum tipo de resistência”.

Ainda segundo o delegado, Gilberto Eric Rodrigues usava um documento falso e, antes de ir para Peruíbe se “hospedou em Cidade Ademar e Campo Limpo”, ambas na zona sul da capital.

Questionado sobre outras mortes cometidas por Gilberto Eric Rodrigues, Marcelo Jacobussi afirmou que investigações estão curso, mas o classificou como um “psicopata”. “Estamos apurando.
Fora a chacina e Guilherme, mais uma prisão preventiva pelo DHPP. Alguns outros em análise”.

O delegado também demonstrou ter certeza de que o sargento Adriano Fernandes de Campos, o outro homem preso pela morte de Guilherme, sabia dos antecedentes de Gilberto antes de o contratar para atuar em sua empresa de segurança. “Foram parceiros. O benefício da ignorância ele não tem”.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que “policiais do DHPP e do DOPE capturaram, nesta quinta-feira (13), em um sítio em Peruíbe, um foragido da Justiça e suspeito de participar da morte de um adolescente, em junho de 2020. Após trabalho de investigação, as equipes da 1ª Delegacia de Repressão a Homicídios e da Unidade de Inteligência, do DHPP, descobriram  que o homem estava escondido na cidade de Peruíbe. Os agentes foram ao local e o prenderam.  Foram apreendidas uma pistola Taurus calibre .380, munições e uma cédula de identidade falsificada.  O suspeito permaneceu à disposição da Justiça. O outro envolvido na ocorrência continua preso”. 

Reportagem atualizada às 22h35 do dia 13/5/2021 para incluir posicionamento da Secretaria da Segurança Pública

Reportagem atualizada às 21h50 do dia 14/5/2021 para incluir depoimento do delegado Marcelo Jacobucci

Correções

Reportagem atualizada às 22h35 do dia 13/5/2021 para incluir posicionamento da Secretaria da Segurança Pública Reportagem atualizada às 21h50 do dia 14/5/2021 para incluir depoimento do delegado Marcelo Jacobucci

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