‘É misturar alegria, pela luta não ser em vão, com a quase certeza de impunidade’, diz Rute Fiuza, mãe do jovem de 16 anos que foi visto pela última vez em abordagem da PM
“A sensação é de que preciso continuar lutando pelo Davi e por Justiça ao mesmo tempo em que tenho a certeza da impunidade”. Dessa forma, Rute Fiuza definiu a notícia de que a Polícia Civil da Bahia encerrou, após quatro anos, as investigações da morte de seu filho, Davi, desaparecido no dia 24 de outubro de 2014, então com 16 anos.
Na época, testemunhas viram o jovem sendo encapuzado e tendo os pés e mãos amarrados por policiais militares da PM baiana em uma abordagem, por volta das 7h30, no bairro de São Cristóvão, próximo ao aeroporto internacional de Salvador. Depois disso, o adolescente nunca mais foi visto.
“Parece que volta tudo de novo, todas as emoções afloram outra vez. É como me sentir nos primeiros dias em que tive de correr atrás, fazer protesto… Tudo vem de novo na memória”, conta Rute, integrante do Movimento Mães de Maio. “É a mistura da alegria de saber que a luta não está sendo em vão, mesmo com a quase certeza da impunidade daqueles homens”, continua.
Segundo a Polícia Civil, 23 policiais militares eram suspeitos de participarem do assassinato e ocultação de cadáver de Davi Fiuza. Destes, 19 eram alunos do curso de formação da PM.
Não há informações sobre o total de indiciados no inquérito do DHPP (Departamento e Homicídios e Proteção à Pessoa), agora sob análise do MP-BA (Ministério Público da Bahia), que decidirá pela acusação formal ou não.
“Agora depende de o Ministério Público analisar se, diante da investigação, há elementos para oferecer denúncia, solicitar novas diligências ou pedir arquivamento”, explicou o delegado da DHPP, José Bezerra, ao site local Bahia Notícias.
“Um caso desses demora quatro anos para ser concluída a investigação com tantas testemunhas, tantas provas… Fará quatro anos e só agora, na época eleitoral, chega ao MP e não se sabe se vão ser denunciados. Talvez sim, talvez não”, critica Rute.
A mãe explica que ninguém da Polícia Civil ou do Ministério Público a avisou sobre o fim das investigações. “Fiquei sabendo pela imprensa, os jornalistas me mandaram e ligaram para perguntar o que achei. Não imaginava que seria assim”, diz.
A Ponte procurou por e-mail o MP-BA, mas, até o momento, ainda não obteve resposta.