Segundo familiares de presos em Taquarituba, informação dada na portaria era de veto devido a surto de Covid-19, mas secretaria confirmou ação do GIR: “um ato de tortura”, diz vice-presidente de ONG
Familiares de presos que cumprem pena na Penitenciária de Taquarituba, no interior de São Paulo, foram barrados na portaria do presídio no último fim de semana após o local sofrer ação do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), a tropa de choque do sistema prisional.
De acordo com mães e esposas dos detentos, a invasão no local na última sexta-feira (12) deixou feridos e um rastro de destruição no raio 6. A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) confirmou a entrada da tropa de choque dos presídios no local para conter um “ato de indisciplina”. A pasta também alegou que a suspensão na visita se deu para “procedimentos de investigação”. Não foi informado se houve feridos durante a ação.
À reportagem, parentes dos detentos contaram ter sido pegos de surpresa com a suspensão da visita num único raio. Segundo eles, quem chegava no local era alertado por funcionários que não poderia ingressar devido um isolamento imposto por um surto de Covid-19.
Leia também: Movimento Mães do Cárcere denuncia morte e tortura em presídio do interior de SP: ‘A impunidade reina’
No entanto, tal informação dada pelos servidores foi rechaçada no momento em que familiares com presos em outros pavilhões deixavam o presídio. Segundo o relato, foi possível notar colchões e outros pertences de presos espalhados pelo pátio. Detentos de outros raios também contaram que, durante a ação do GIR, foi possível escutar gritos de socorro e sons de tiros de bala de borracha.
De acordo com a esposa de um reeducando que cumpre pena no raio 6, a confusão teve início após os presos se revoltarem no momento que um “funcionário quis levar um detento para o castigo sem motivo, o que fez se recusarem a entrar para a cela enquanto o diretor não fosse até lá”.
A mulher de outro preso, que também preferiu não se identificar por medo de represálias, contou à Ponte que a unidade “não tem um pingo de respeito com a família dos presos”, já que não fornecem informações precisas como tudo ocorreu. “ [Há] presos com ferimentos, alguns se encontram na enfermaria e no castigo e não temos notícia. Tudo que chegou foram recados que eles mandaram por visitantes de outro pavilhão”.
Leia também: Denúncias de tortura em presídios sobem 70% durante pandemia
Familiares que ligaram no presídio atrás de informações sobre os presos foram informados que, após a ação do GIR, alguns foram transferidos para uma unidade prisional em Avaré, também no interior.
A denúncia sobre o ocorrido em Taquarituba chegou até a Ponte através da ONG Pacto Social e Carcerário de São Paulo, que acompanha e presta auxílio a presos e seus familiares. Para o vice-presidente da ONG, Geraldo Salles, o que ocorreu lá foi um “ato de truculência e opressão. Um ato praticado por funcionários de forma fora da lei. Um ato que estão tentando justificar com essa ideia de que os presos se recusaram a entrar começando um ato de indisciplina. Mesmo que houvesse esse ato de indisciplina, não existe no ordenamento jurídico brasileiro amparo para eles entrarem e quebrar os presos, dar tiro nos presos. O que praticaram foi um ato de tortura”, afirmou.
A Penitenciária de Taquarituba, localizada a cerca de 320 quilômetros da capital paulista, tem capacidade para 847 detentos, mas atualmente comporta 1.421 homens.
Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária informou “que na sexta-feira (12) presos do pavilhão VI da Penitenciária de Taquarituba começaram um ato de indisciplina, se recusando a irem para suas celas no horário devido. Com isso, foi necessário o acionamento do Grupo de Intervenção Rápida para auxiliar no recolhimento dos presos e na condução dos indisciplinados ao Pavilhão Disciplinar. A visita foi suspensa pontualmente naquela final de semana para que fosse possível realizar os procedimentos de investigação. Salientamos ainda que não há presos com Covid-19 na unidade”.