Sérgio Santana (PL) apresentou proposta na última quinta-feira (19). Ativistas acreditam que vereador quer provocar movimentos de direitos humanos
Uma semana depois de o prefeito de Santos, Rogério Santos (PSDB), prometer fazer um monumento em homenagem às vítimas do maior massacre da polícia na história do Brasil, em maio de 2006, o vereador santista Sérgio Santana (PL), apresentou um projeto de lei, na última quinta-feira (19/8), para homenagear policiais na cidade do litoral paulista.
A proposta de Santana, que é policial militar reformado e está no terceiro mandato como vereador de Santos, gerou reações de ativistas dos direitos humanos, que acreditam que o político quer provocar e ofender as mães que atuam na luta por justiça e memória para as mais de 500 pessoas mortas no estado de São Paulo em uma retaliação contra negros e periféricos por conta de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), que mataram 59 agentes públicos.
“Eles são bolsonaristas e estão fazendo isso para provocar as mães, porque eles já têm muitas homenagens aos policiais e se sentem donos da orla da praia, que tem tantos monumentos deles que o espaço parece que é regado a sangue”, diz Débora Maria da Silva, mãe de uma das vítimas dos crimes de maio de 2006 e fundadora do Movimento Mães de Maio.
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A promessa feita pelo prefeito de construir o monumento em homenagem às vítimas aconteceu depois que a própria prefeitura vetou a proposta original, feita pelo vereador Francisco José Nogueira da Silva (PT) e apoiada pelo movimento. A projeto inicial era fazer um mausoléu no cemitério da cidade, para onde seriam “trasladados os restos mortais de todos os jovens que foram assassinados entre 12 e 21 de maio de 2006, no Município de Santos”.
O projeto chegou a ser aprovado pela Câmara Municipal, mas o prefeito decidiu vetá-lo, alegando que era inconstitucional por aumentar as despesas do Executivo. Depois disso, Santos concordou em realizar uma homenagem, agora na forma de um monumento em uma praça na zona noroeste da cidade.
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Segundo Débora, é importante a homenagem na zona noroeste, porque é onde parte das vítimas dos crimes de maio moravam, justamente por ser a região da cidade que abriga a população mais pobre e trabalhadores de Santos.
“Esse povo tem que entender que nós não pedimos memorial na orla da praia, apesar de podermos pedir isso, porque meu filho, por exemplo era gari e trabalhava na limpeza da orla que eles acham que é só para eles”, afirma a ativista.
Para a advogada e doutora em Ciências Sociais Dina Alves, o projeto de lei do vereador Santana também representa uma tentativa de responder aos movimentos de ataques e derrubadas de estátuas de personagens genocidas do país, como é o caso do monumento do Borba Gato, na zona sul de São Paulo.
“Esse projeto de lei do vereador também vem como represália a esse movimento que nós estamos fazendo em relação aos monumentos de genocidas. O que esse vereador quer fazer é justamente colocar monumentos de policiais que ele entende que morreram defendendo a vida, mas estava defendendo a vida de quem já que estavam matando outras pessoas que eles entendem como inimigas da sociedade”, diz a advogada.
A Ponte questionou o vereador sobre a proposta e perguntou se o projeto de lei havia sido apresentado em resposta ao Movimento Mães de Maio, mas ele não respondeu até a publicação desta reportagem.
Nas redes sociais, Santana disse que apresentou o projeto que “visa homenagear e imortalizar os membros da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Civil e Polícia Federal, que sacrificaram suas vidas em defesa da sociedade”.
Segundo o vereador, ainda em suas redes sociais, “a construção deste monumento será um excelente reconhecimento aos valorosos membros da Segurança Pública que sacrificaram suas vidas em prol dos seus semelhantes”.