Após quebrar pedras sob viaduto, padre Júlio leva flores a população de rua

    Sacerdote da Pastoral do Povo da Rua participou de ato em viaduto onde a Prefeitura de São Paulo havia colocado pedras para expulsar os moradores de rua e pediu uma ‘cidade mais humana’

    Joseilton Santos recebe bênção de Padre Julio Lancellotti embaixo de viaduto Antonio Paiva Monteiro, na zona leste de São Paulo |Foto: João Damásio

    Quatro dias após arrancar a marretadas algumas das pedras fincadas pela Prefeitura da cidade de São Paulo sob o Viaduto Antonio de Paiva Monteiro, na Avenida Salim Farah Maluf, zona leste da capital paulista, o padre Júlio Lancellotti, sacerdote da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, espalhou e cobriu o concreto cinza do local com diversas flores coloridas neste sábado (6/2).

    O protesto, segundo o pároco, serviu para dar visibilidade à população de rua que, por falta de opções, acaba usando viadutos para se abrigar. “O que a gente pede é que a nossa cidade tenha uma arquitetura menos hostil e mais humana” declarou à Ponte. “Os pobres não moram em palácios como a elite que a gente tem”, criticou.

    Manifestantes deixam flores embaixo do viaduto Antonio Paiva Monteiro, região da zona leste de São Paulo | Foto: João Damásio

    A hostilidade a que Lancellotti se refere foi a ação da Prefeitura de Bruno Covas (PSDB) de colocar pedras paralelepípedos pontiagudos sob os viadutos para impedir que moradores de rua pudessem usar esses locais como abrigos. Na última terça-feira (2/2), os blocos começaram a ser retirados do viaduto por causa da repercussão negativa.

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    O governo municipal alegou que foi uma ação isolada de um funcionário, de acordo com o G1. Tratores enviados pelo poder municipal foram usados para destruir as pedras e o próprio padre também participou da ação, quebrando blocos de concreto com uma marreta.

    Fotógrafos e jornalistas cobrem o protesto realizado na zona leste da cidade de São Paulo | Foto: João Damásio

    “A gente não defende que pessoas em situação de rua morem embaixo dos viadutos, a gente pede que eles recebam moradia e abrigo”, explicou o sacerdote.

    Leia também: Mentiras nas redes alimentam ódio a moradores de rua em São Paulo

    Joseilton Santos, 29, é uma dessas pessoas que procuram um lugar para viver. Há dois anos morando nas ruas, conta que usa o viaduto para se proteger da chuva. “Desde que eu fiquei desempregado, eu fico por aqui. Trabalho com recicláveis, mas fui roubado nessa semana, levaram tudo. É muito difícil conseguir alguma oportunidade”, disse à Ponte. Ele voltou a dormir no viaduto após a retirada dos paralelepípedos.

    Durante o ato, Joseilton parecia aturdido com a presença de jornalistas e fotógrafos ao seu redor, mas agradeceu ter recebido lanches e calçados do padre Júlio, que se comprometeu a levá-lo para um abrigo. A Pastoral do Povo da Rua também levou pães e bolos para os participantes do protesto, que espalharam flores no local.

    Participante do ato coloca flores onde antes havia pedras | Foto: João Damásio

    Selma da Silva, da Comissão de Justiça e Paz, ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), apontou que o ato “é uma forma de resistência, um grito de basta diante da falta absoluta de humanidade num cenário de ódio e violência contra grupos minoritários e a própria democracia”.

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